Vision Pro: Apple apresenta “novo tipo de computador” em forma de óculos de realidade aumentada
Por cerca de 3266 euros, os novos óculos da Apple apresentam-se como um novo computador que funde real e digital. O sistema depende de tecnologia de IA, mas a marca evitou a expressão na apresentação.
A Apple juntou-se às várias empresas que estão a tentar popularizar o conceito dos óculos de realidade aumentada e virtual (AR/VR) com os novos Vision Pro. A proposta da tecnológica de Tim Cook, porém, é um dispositivo que deve funcionar como “um novo tipo de computador” que permite aceder ao mundo digital sem ecrãs físicos, ratos e teclados. Em vez disso, com os Vision Pro, o utilizador usa os olhos, voz e gestos para navegar o ambiente virtual – que se pode traduzir num filme de acção que rodeia o utilizador a 360º, ou telas digitais (maiores ou menores) que se sobrepõem ao mundo real como monitores e teclados reais. Por 3500 dólares (3266 euros), o preço está ao nível de vários computadores topo de gama e é mais do que o triplo do valor dos óculos mais caros da Meta, a actual líder deste mercado.
“Este é o primeiro produto Apple através do qual se vê, em vez [de ser um dispositivo] que se vê”, destacou o presidente executivo da Apple, Tim Cook, durante a apresentação dos Vision Pro e do sistema operativo VisionOS, que marcou o arranque da WWDC 23, a mais recente edição da Conferência Global de Programadores da Apple. “[Os VisionPro são] um novo tipo de computador que aumenta a realidade ao misturar o digital e o real”, declarou Cook.
Os óculos dependem de um sistema de rastreio ocular, que recorre a doze câmaras e cinco sensores, para perceber para onde é que o utilizador está a olhar e o que é que está a fazer com as mãos (por exemplo, escrever no teclado virtual). A moldura dos óculos – em alumínio – inclui câmaras viradas para baixo que captam os gestos do utilizador, mesmo quando este não tem as mãos em frente dos olhos. Em paralelo, as câmaras permitem captar vídeos do dia-a-dia em formato 3D para reviver mais tarde.
O sistema também é compatível com a assistente digital da Apple, a Siri, que pode abrir e fechar diferentes apps a pedido. Em frente às pupilas do utilizador estão dois pequenos ecrãs (do tamanho de post-its) com 23 milhões de pixels cada.
Curiosamente, apesar de os óculos dependerem de vários sistemas de inteligência artificial (IA), como visão computacional e reconhecimento de voz, a tecnológica evitou essa expressão, cuja popularidade explodiu com o lançamento do ChatGPT, durante esta apresentação.
“A tecnologia [dos VisionPro] tem estado em construção há anos”, salientou Tim Cook.
Promessas antigas
Há décadas que várias empresas e investigadores desenvolvem tecnologia de realidade virtual e aumentada. A expressão começou a ser usada na segunda metade da década de 1980 quando Jaron Lanier, actual investigador na Microsoft, lançou o EyePhone (literalmente telefone de olhos), um dispositivo que transportava os utilizadores para o mundo virtual ao colocar um ecrã em frente aos seus olhos.
Em 2023, há várias empresas a desenvolver produtos do género (a Meta tem os Quest, a HTC tem os Vive, a Sony tem os PlayStation VR), mas as ferramentas estão longe de se massificar.
O conceito ganhou algum destaque em 2021 quando o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, decidiu alterar o nome da empresa-mãe das suas redes sociais para Meta – uma ode ao metaverso, o mundo virtual e imersivo que quer ajudar a criar. Nesse ano, o mercado de óculos de realidade virtual e aumentada (AR/VR) subiu significativamente, com mais de 11 milhões de unidades enviadas para retalho (um aumento de 92% face ao ano anterior), mas voltou a cair no ano seguinte.
Segundo dados da empresa de análise de mercado IDC, em 2022 foram vendidos 8,8 milhões de óculos de realidade aumentada ou virtual (AR/VR). Em Portugal, foram vendidas cerca de 7300 unidades. Para comparação, em 2022 foram enviados para retalho mais de 1,21 mil milhões de smartphones em todo o mundo. A Meta é a actual líder na área, com mais de 90% do mercado nos EUA e na Europa.
A Apple tenta destacar-se da concorrência ao vender a ideia que os VisionPro são um novo tipo de computador. A marca também defende que os seus óculos não devem isolar os utilizadores do mundo graças à tecnologia de Eyesight ("visão", em português). Quando o utilizador está a usar os VisionPro para aceder a ecrãs virtuais (por exemplo, para editar um documento de texto), os óculos permitem que outras pessoas vejam os olhos do utilizador; quando o utilizador está imerso numa actividade (como um filme) os óculos apresentam-se opacos.
O sistema operativo VisionOS inclui conteúdo da Disney e da Marvel desde o começo devido a uma parceria entre a Apple a Disney Entertainment.
Os VisionPro não foram a única novidade que a Apple apresentou esta segunda-feira. A tecnológica de Cupertino também desvendou novos computadores, e novos sistemas operativos para os seus relógios, telemóveis e computadores.
O novo sistema operativo do iPhone, o iOS17, por exemplo, usa a "tecnologia dos transformers" (modelos linguísticos que usam IA para encontrar padrões em enormes sequências de dados) para cometer menos erros quando sugere correcções na app de mensagens. A empresa também anunciou uma ferramenta para registar o humor através do relógio AppleWatch – a informação pode ser cruzada com dados sobre a qualidade do sono, actividade física e stress dos utilizadores, permitindo que as pessoas percebam como diferentes hábitos influenciam a sensação de bem-estar.
Há também uma nova app, o Journal, que motiva os utilizadores a registarem pedaços do seu dia-a-dia através de sugestões com base nas suas actividades, pesquisas e localização.
Em termos de hardware, a Apple apresentou um novo MacBook Air, com um ecrã de 15,3 polegadas e uma bateria que promete durar até 18 horas. Os novos Mac Studio e Mac Pro vêm com o novo processador M2 Ultra, que vem com 192 GB de memória unificada o que facilita o treino de modelos tipo transformer.
A WWC23 decorre até dia 9 de Junho, em Cupertino, estado norte-americano da Califórnia.
Correcção: Segundo dados da IDC, em 2022 foram enviados para retalho mais de 1,21 mil milhões de smartphones em todo o mundo.