Autoeuropa: “Depois do híbrido, virá um eléctrico”, acreditam os trabalhadores
Porta-voz dos trabalhadores acredita que investimento da Volkswagen garante vida longa à fábrica de Palmela. Autarca da CDU vê o novo modelo a partir de 2025 como “boa notícia” para o país.
O coordenador da comissão de trabalhadores (CT) da Autoeuropa, Rogério Nogueira, vê com “muita satisfação” o anúncio de que a Volkswagen escolheu aquela fábrica, em Palmela, para produzir um novo modelo híbrido, a partir de 2025. E acredita que, dado o volume de investimento que vai ser feito para este fim, o futuro daquela unidade, onde trabalham 5000 pessoas, passará também pela produção de veículos 100% eléctricos.
“É com muita satisfação que vemos que o grupo continua a depositar confiança na fábrica de Palmela e a valorizar o profissionalismo e a responsabilidade dos seus trabalhadores. Está em curso um grande investimento de 600 milhões de euros. Acredito que, depois do híbrido, mais à frente, teremos um eléctrico”, afirma o mesmo porta-voz, ao PÚBLICO.
As reacções à entrevista que o director-geral da Autoeuropa dá ao PÚBLICO vão de Palmela a Angola. Thomas Hegel Gunther revelou que a marca alemã atribuiu à sua unidade em Portugal a produção de um novo modelo híbrido, que começará a ser construído em Palmela em 2025 e chegará ao mercado em 2026.
“Vamos investir fortemente na Volkswagen Autoeuropa. Nos próximos cinco anos, serão mais de 600 milhões de euros de investimento num produto novo”, afirma Gunther, na entrevista publicada nesta segunda-feira.
Em causa está um modelo com motorização híbrida (combustível fóssil e eléctrico), que “irá substituir a produção do actual” T-Roc, feito para o mundo em exclusivo a partir de Portugal (com excepção do mercado chinês, cuja produção é assegurada pela própria China).
Para o representante dos trabalhadores, a garantia de investimento num novo modelo a fabricar em Portugal “ajuda também a desmontar afirmações infundadas de que a Autoeuropa estaria para sair” do país. Rogério Nogueira aludia, assim, a uma entrevista de Luís Todo Bom no semanário Jornal Económico, na qual este gestor e professor universitário, antigo presidente da Portugal Telecom, sugeriu que a fábrica portuguesa da Volkswagen deixaria Portugal dentro de três ou quatro anos.
Uma afirmação que, segundo a CT e a administração da Autoeuropa, não tem correspondência à realidade.
Mesmo em viagem por Angola, o primeiro-ministro português, António Costa, também reagiu à notícia do dia. “Saúdo a Volkswagen por escolher a Autoeuropa para produzir um novo modelo híbrido. Uma decisão importante para a fábrica de Palmela e para os seus trabalhadores”, afirma o primeiro-ministro, numa mensagem publicada no Twitter.
Embora 99,2% da produção da Autoeuropa se destine à exportação e, por essa via, a mudança para a produção de um híbrido não tenha impacto relevante nas emissões de CO2 nas estradas portuguesas, António Costa vê aqui “um contributo fundamental para atingirmos a neutralidade carbónica”. O que é explicável com o alcance do plano de investimentos que está programado para Palmela.
O grupo sediado na Alemanha tem como objectivo mudar a forma como trabalha, tendo como meta um corte de 80% nas emissões de CO2 face aos níveis actuais. Parte dos 600 milhões reservados para a Autoeuropa será aplicado nesse esforço de descarbonização.
"É uma boa notícia para Palmela, para a região e para o país", resumiu o presidente da câmara, Álvaro Amaro (CDU), em declarações à rádio TSF, nesta segunda-feira.
"Para nós constitui naturalmente uma excelente notícia, que vem confirmar até a expectativa que tínhamos dado nos últimos tempos. Temos trabalhado com a fábrica no sentido de apreciar e agilizar um conjunto de procedimentos e processos que já nos tinham sido apresentados, que passam não apenas pela eficiência energética, uma nova ETAR, mas sobretudo por uma nova fábrica de pintura, especificamente também para viaturas eléctricas, e vem num excelente momento."
O autarca considera a decisão "um excelente passo", lembrando que assegura tanto a manutenção da Autoeuropa como tem impacto em "milhares de postos de trabalho" das empresas que "dependem do cluster automóvel".
"Diria que para toda a Área Metropolitana de Lisboa, mas em particular para Palmela, é sinónimo de que vamos poder alimentar esta esperança de estabilidade e com horizontes de sustentabilidade e futuro", argumenta.
E conclui: "É a confirmação que toda a estratégia da fábrica e do grupo, de reinvestimento nas condições que o município tem acompanhado e ajudado a fazer parte da solução, visavam precisamente garantir a continuidade e a vinda de um novo modelo para esta fábrica que tem uma excelente dinâmica de trabalho, tem técnicos e trabalhadores muito empenhados e, portanto, é uma boa notícia para Palmela, para a região e para o país."