A matemática na gestão logística dos serviços de saúde

O estudo do Problema do Caixeiro Viajante pode fornecer pistas para o planeamento de horários dos profissionais de saúde.

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Representação de duas rotas num grafo: no Problema do Caixeiro Viajante, o quadrado a preto seria o ponto de partida e de chegada das rotas de dois caixeiros viajantes DR
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A qualidade dos serviços de saúde pode ser melhorada tanto através da obtenção de novos recursos como de um melhor aproveitamento dos recursos já disponíveis. No segundo caso especificamente, um bom planeamento dos horários dos profissionais de saúde é essencial para garantir a eficiência dos mesmos.

Esta gestão de horários é dificultada, muitas vezes, pelo facto de os horários dos profissionais de saúde não serem independentes entre si. Por um lado, limites à disponibilidade de equipamentos impõem restrições às atividades que diferentes profissionais de saúde podem realizar em simultâneo (chamemos a esta característica “inconsistência”). Por outro, pode haver tarefas que têm que ser desempenhadas por vários profissionais de saúde, sensivelmente ao mesmo tempo (chamemos a esta característica “consistência”).

Por exemplo, nos centros de saúde há consultas realizadas apenas por médicos (como a saúde de adultos), tarefas específicas para enfermeiros (como a vacinação) e consultas realizadas por um médico e um enfermeiro (nomeadamente a saúde infantil). Para evitar a permanência das pessoas na sala de espera, estas últimas consultas são marcadas à mesma hora para o médico e o enfermeiro.

O estudo do Problema do Caixeiro Viajante (PCV) pode fornecer pistas para o planeamento de horários. Na sua forma mais simples, dado um conjunto de cidades, o Problema do Caixeiro Viajante consiste na determinação de um circuito de distância total mínima que passa uma vez por cada cidade. Podem parecer contextos diferentes, mas em termos matemáticos correspondem à mesma coisa. O output do Problema do Caixeiro Viajante é uma rota, uma ordenação das cidades que se pretende visitar. E o horário de cada profissional de saúde é nada mais nada menos do que uma ordenação dos pacientes que se pretende atender, o mais eficientemente possível.

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A investigadora Mafalda Ponte DR

Embora já de si um problema difícil, com os computadores e metodologias disponíveis atualmente é possível resolver rapidamente o Problema do Caixeiro Viajante, mesmo com um número razoavelmente elevado de cidades e várias rotas independentes em simultâneo. Contudo, a interdependência entre rotas/horários introduz uma maior complexidade no problema e traz desafios à sua resolução em tempo útil.

O objetivo do nosso trabalho é propor, implementar e avaliar metodologias para resolver o Problema do Caixeiro Viajante com múltiplas rotas e consistência. Estas metodologias dividem-se em duas grandes categorias: métodos exatos, que garantem a obtenção da solução ótima do problema, mas têm a desvantagem de requerer mais tempo computacional; e métodos aproximados, que são mais expeditos, mas não garantem a obtenção da solução ótima.

Métodos eficientes para a resolução deste problema poderão servir de base para a criação de ferramentas de gestão de horários, úteis não apenas no contexto dos serviços de saúde, mas sempre que exista interdependência entre as atividades dos trabalhadores da mesma equipa.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

Aluna do doutoramento em Estatística e Investigação Operacional na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

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