Boaventura de Sousa Santos admite “comportamentos inapropriados”, mas rejeita “actos graves” de que é acusado

Investigador diz que é de uma geração em que comportamentos machistas eram aceites pela sociedade, lamentando o sofrimento e desconforto causado a algumas pessoas.

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Boaventura Sousa Santos é acusado de assédio moral e sexual ADRIANO MIRANDA/Arquivo
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O investigador Boaventura de Sousa Santos reconhece que pode ter protagonizado "comportamentos inapropriados" em "determinados momentos", mas rejeita a "prática de actos graves" que lhe são imputados por cinco mulheres. O sociólogo e director emérito do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra é acusado de assédio moral e sexual, assinando este domingo um artigo de opinião escrito para o Expresso em que faz um mea culpa sobre atitudes passadas, mas em que se afasta destas alegações.

O artigo começa com o investigador a garantir que sempre defendeu os direitos humanos, "sobretudo os direitos das mulheres, dos povos indígenas e das minorias mais desfavorecidas". Em jeito de contextualização, Boaventura de Sousa Santos explica que, nascido em 1940, é de uma geração em que "comportamentos inapropriados, se não mesmo machistas", eram aceites pela sociedade. Na opinião do sociólogo, este é um factor que dificulta a percepção consciente daquilo que é ou não inapropriado aos dias de hoje, mas que não serve de justificação.

"Não se trata de justificar comportamentos passados, apenas de verificar algo que pode acontecer e redundar em acções pouco construtivas. Reconheço que em determinados momentos posso ter sido protagonista de alguns desses comportamentos. Nessa medida, lamento que algumas pessoas possam ter sofrido ou sentido desconforto e por isso lhes devo uma retratação", explica Boaventura de Sousa Santos.

Este reconhecimento não implica, contudo, que o investigador assuma "a prática de actos graves" imputados nos últimos meses, com Boaventura a garantir que continuará a defender "a dignidade e integridade" dos últimos 50 anos de actividade profissional.

"Mais vigilante"

O sociólogo diz ainda que devem ser evitados "processos de linchamento e de cancelamento, garantindo os direitos reconhecidos da justiça democrática”, e promete continuar a dedicar esforços para promover uma cultura de detecção e eliminação de comportamentos machistas.

Considerando que, na esmagadora maioria dos casos, faltam instrumentos institucionais adequados para que as mulheres vítimas destes comportamentos possam apresentar as suas queixas, Boaventura de Sousa Santos deixa um compromisso para o futuro.

"O meu compromisso futuro é o de ser cada vez mais vigilante de forma a evitar protagonizar ou contribuir, mesmo que involuntariamente, para situações que possam gerar mal-estar ou opressão."

Após ter sido conhecida a denúncia inicial, assinada por três investigadoras que passaram pelo CES, o centro de investigação ligado à Universidade de Coimbra anunciou a nomeação de uma comissão independente para investigar as alegações de assédio sexual e moral na instituição. Comissão que, até ao meio de Maio, ainda não tinha sido criada, o que levou Boaventura de Sousa Santos a criticar a demora na investigação.

Seguiram-se mais denúncias sobre os comportamentos do investigador nos dias seguintes, com as queixosas a acusar o sociólogo de alegados avanços indesejados e posterior assédio moral quando esses actos não eram correspondidos.

Após serem tornadas públicas estas alegações, a direcção do CES anunciou que o director emérito seria suspenso “de todos os cargos" enquanto durar a investigação.

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