O sabonete que utiliza pode torná-lo um alvo para mosquitos

Estudo explica como os compostos químicos dos sabonetes afectam a nossa atractividade para esses insectos.

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As fêmeas picam após o acasalamento por precisarem de sangue para produzir ovos, é nesse momento que o vírus pode ser transmitido Josure Decavele/Reuters
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Alguma vez se perguntou qual a razão de ser mais picado por mosquitos do que as pessoas à sua volta? O motivo pode estar associado ao sabonete que usa para tomar banho. Um estudo conduzido por investigadores da Virginia Tech, nos Estados Unidos, revelou que algumas espécies de mosquitos, como o Aedes aegypti, podem ser mais atraídas por aromas de flores e plantas, fragrâncias normalmente encontradas nos produtos de higiene. Mas essa não é a única razão de certos indivíduos serem verdadeiros “ímanes” de mosquitos.

O cientista Clément Vinauger, que conduziu a investigação publicada em Maio, explicou que, além de deixar um perfume agradável no nosso corpo, a interacção do sabonete com o odor corporal tem resultados únicos em cada ser humano. Dependendo da quantidade e da forma de uso do produto, os efeitos podem ser muitos e variados.

O artigo foi classificado como uma “prova de conceito” — prática utilizada para conferir a viabilidade de um estudo para posteriormente ser realizado em maior escala e com mais investimento. Para testar a suspeita dos investigadores, voluntários usaram quatro sabonetes populares nos Estados Unidos; as marcas foram escolhidas consoante a sua popularidade entre os consumidores em 2019.

“É impressionante como a mesma pessoa pode ser extremamente atraente para os mosquitos quando a sua pele não está lavada e passa a ser ainda mais atraente para os mosquitos com um sabonete, e depois torna-se repulsiva se usar outro sabão”, afirmou Clément Vinauger, citado em comunicado de imprensa. Além disso, há outros factores que podem condicionar o cheiro de alguém, como o estilo de vida, o que se come ou os locais que se frequenta. No caso dos sabonetes, o que importante não é tanto o elemento químico mais presente, mas as associações e combinações desses químicos com os próprios odores da pessoa.

Cada caso é um caso

Para esta experiência, os voluntários vestiram uma manga de nylon no antebraço de modo a colectar três tipos de amostras de odor corporal: o das mangas limpas (sem uso de sabonete, para controlo), das mangas de quatro voluntários que usaram as quatro diferentes marcas (antes e uma hora depois de utilizarem os sabonetes Dial, Dove, Native e Simple Truth​), e a essência dos próprios sabonetes. As amostras foram analisadas para identificar os compostos químicos encontrados. Como resultado, pode concluir-se que, após lavar a pele com sabonete, a quantidade de compostos orgânicos voláteis aumentou em comparação com a pele não lavada.

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Quase todos os sabonetes possuem limoneno, composto conhecido por repelir os mosquitos. Mas, dependendo da interação com a pele, o efeito pode ser o oposto Marco Pomella/Pixabay

“O nosso trabalho revelou a importância da interacção entre os químicos específicos do sabonete e o odor corporal de cada indivíduo para determinar se uma pessoa se tornaria mais ou menos atraente para os mosquitos após aplicar o produto na pele”, contou Clément Vinauger ao Azul. O grupo de cientistas reconhece que há muitos mais estudos a fazer e com mais pessoas para se perceber o impacto dos sabonetes nos mosquitos, sobretudo a longo prazo.​

A maioria dos sabonetes tem limoneno na sua composição — frequentemente encontrado em perfumes e óleos essenciais — devido à sua abundância na natureza, como em alimentos cítricos e algumas espécies de plantas. É conhecido pelo poder repelente de mosquitos; no entanto, dependendo da interacção do sabonete com o perfil olfactivo do indivíduo, o efeito depois de aplicado na pele pode ser o oposto, aumentando a atractividade de mosquitos.

Ao contrário do que se pensa, a maior fonte de energia dos mosquitos não é o sangue, mas sim o néctar das plantas; os machos podem, inclusive, alimentar-se exclusivamente dele. As fêmeas picam os indivíduos após o acasalamento por precisarem de sangue para produzir ovos: é nesse momento que os vírus podem ser transmitidos. No caso do Aedes aegypti, o mosquito transmissor das doenças como a dengue e Zika, a picada da fêmea é quase indolor devido a uma substância anestésica liberada pela sua saliva. Apesar de serem mais comum em países tropicais como o Brasil, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta sobre o aumento do risco de surtos de doenças virais transmitidas por essa espécie com a chegada do Verão na Europa.

Texto editado por Claudia Carvalho Silva