JMJ: gesto do Papa para com vítimas de abusos em Portugal conhecido “dentro de dias”

Américo Aguiar acredita que Papa terá “um gesto” quanto aos casos de abuso sexual. Bispo admite que cidade de Lisboa vai “estar no caos” com o número de pessoas que participam na JMJ

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Papa Francisco vai deslocar-se a Portugal para participar nas JMJ Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE

Os casos de abuso sexual no seio da Igreja Católica vão ser um dos temas a pairar sobre a realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em Lisboa, sendo esperado um gesto do Papa para com as vítimas portuguesas.

O bispo Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, está certo de que esse gesto acontecerá, embora ainda não seja conhecido, sendo por muitos esperada a realização de um encontro pessoal de Francisco com alguns dos abusados por membros do clero nas últimas décadas.

“Estou certo que o Papa, tal como aconteceu noutras deslocações e noutros contextos, também vai ter um gesto, uma decisão, um encontro, outra coisa qualquer no que diz respeito à temática dos abusos, certamente”, disse Américo Aguiar em entrevista à agência Lusa, não adiantando mais pormenores.

Segundo o bispo responsável pela organização do encontro mundial de jovens com o Papa em Lisboa, esse gesto deve ser conhecido “dentro de dias”, quando for divulgada a agenda do pontífice para os dias em que estará em Portugal – de 2 a 6 de Agosto.

No final da Assembleia Plenária extraordinária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para analisar o relatório da Comissão Independente para o Estudos dos Abusos Sexuais de Menores na Igreja Católica em Portugal, foi anunciado que “será realizado um memorial no decorrer da Jornada Mundial da Juventude e perpetuado, posteriormente, num espaço exterior da Conferência Episcopal Portuguesa”.

Questionado sobre este processo, Américo Aguiar remeteu para o presidente da CEP, José Ornelas, que “a seu tempo”, partilhará “com todos” a decisão tomada.

Lisboa “vai estar no caos”

O bispo Américo Aguiar admite que a capital “vai estar no caos” durante a JMJ em Agosto, mas promete fazer tudo para reduzir o impacto deste acontecimento único na vida dos lisboetas.

“A cidade de Lisboa vai estar no caos”, reconhece, antes de desfiar uma série de medidas que a organização está a preparar para “diminuir ao máximo os constrangimentos”.

Nos próximos dois meses, e até à abertura do encontro com o Papa Francisco em Lisboa, que pode mobilizar mais de um milhão de pessoas, prometeu fazer tudo para envolver, “colocar as pessoas no processo” da jornada e convencê-las que são respeitadas.

“A Jornada Mundial da Juventude em Lisboa vai criar constrangimentos a toda a gente. É um dos preços. Se eu disser o contrário, estou a mentir e eu não quero mentir”, disse o bispo, que explicou o que pretende fazer para minorar os problemas dos lisboetas.

Américo Aguiar explica, com entusiasmo, o que a organização está a preparar para minorar o tal caos. “Se nós não dissermos nada às pessoas e as pessoas no dia 1 [de Agosto] forem a sair de casa e não puderem sair de casa, as pessoas vão ficar zangadas. E com razão.”

O que é preciso, afirmou, é informá-las, colocá-las “dentro do processo e elas saberem que daqui a dois meses a rua do seu bairro vai estar bloqueada, que só devem entrar e sair os moradores”.

“Não convidem a família toda para vir cá tomar chá nessa semana. Não tenham actividades que não sejam estritamente necessárias”, exemplifica, em tom de pedido.

“Ginástica acrobática” para equilibrar contas

O presidente da Fundação Jornada Mundial de Juventude garante que as obras para a realização do encontro estão dentro dos prazos e que, com “alguma ginástica acrobática”, tem conseguido equilibrar as contas sem recorrer a empréstimos.

“Rezo para que, até ao fim, se possa manter desta maneira. Rezo e trabalho já agora, porque só rezar não chega”, afirmou o bispo Américo Aguiar, numa entrevista à Lusa a dois meses do início da jornada, em Agosto, e acrescentou que “está tudo dentro dos calendários”.

As obras “dentro dos calendários” são as do altar-palco no Parque Tejo, cujos custos causaram polémica, a ponto de reduzir o orçamento, como do palco do Parque Eduardo VII, onde se realizará a missa de abertura da JMJ, com o cardeal-patriarca de Lisboa, e a cerimónia do Acolhimento e a Via-Sacra, com o Papa Francisco.

A primeira fase da obra altar-palco, anunciou, estará concluída em meados deste mês de Junho.

Na entrevista, o bispo auxiliar de Lisboa voltou a prometer transparência e prestação de contas da jornada “até ao cêntimo”, durante e depois da iniciativa, afirmando que muito do trabalho tem sido feito “com o pelo do cão”, sem gastos extras.

Mesmo que isso signifique “adiar um bocadinho”, ou “empurrar com a barriga” a contratação de “pessoas em full time”, ainda que isso lhe tenha custado ou custe “o desagrado” dos seus colaboradores.

“Daí que tenha feito aqui alguma ginástica acrobática de maneira a ir equilibrando aquilo que eram as necessidades de gastos e aquilo que eram as receitas que iam acontecendo e, até à data, não foi necessário ir buscar dinheiro fora emprestado para corresponder aos gastos necessários. Rezo para que até ao fim se possa manter desta maneira”, afirmou, para logo depois introduzir o factor trabalho, porque “só rezar não chega”.

Uma semana de espectáculos

Os dias da JMJ prometem pôr Lisboa e a região num rebuliço, com dezenas de espectáculos, concertos, performances, exposições e conferências, envolvendo mais de um milhão de jovens.

O Festival da Juventude é protagonizado pelos próprios peregrinos, “numa partilha da vivência cristã feita por jovens de todo o mundo, fruto da sua criatividade”, assume a organização da JMJ.

“Nós temos mais de 90 grupos, ou pessoas, já marcadas e aprovadas [para actuação] em centenas de locais, quer em Lisboa, quer em Loures, quer nos municípios onde os jovens vão estar” alojados durante a semana da JMJ, disse à agência Lusa o presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, Américo Aguiar.

O bispo auxiliar de Lisboa adiantou que a organização tem trabalhado “com os municípios, de maneira que os jovens que estiverem em Odivelas, na Amadora, em Almada, nas manhãs de terça, quarta, quinta e sexta-feira não vão ser convidados a vir para Lisboa”, permanecendo nessas horas nos concelhos de acolhimento, onde farão as suas apresentações artísticas. Estão já previstas intervenções de representantes de 55 países.

Também os Rise Up, que nas edições anteriores da JMJ se chamavam Catequeses, vão acontecer nos concelhos onde os jovens pernoitam, explicou o bispo, alertando para as diferenças em relação à cidade de Lisboa.

“Depois, naquilo que é a cidade de Lisboa, haverá o maior contingente. O grupo de Cuba quer cantar, o grupo de não sei de onde quer fazer uma exposição ou outro grupo quer fazer teatro. E, aí, quase todos os espaços públicos e privados colectivos estão sob reserva”, disse Américo Aguiar.