Escuso-me a comentar as políticas do governo nacional para as questões sociais comuns ao país, latente nas cidades. As medidas e políticas são como aquela brincadeira: um telefone sem fio. Aumenta-se um ponto, retira-se outro; no fim, temos um conto do que foi dito.
Lisboa está ao abandono. Digam-me vocês: o que está melhor desde o início do mandato de Carlos Moedas? Ou ainda: qual foi o serviço, área, aspecto da cidade que se manteve como antes do mandato? O tema da habitação, batido pelos meios de comunicação social, faz eco nos Paços do Concelho. Não se encontram medidas além das que já estavam em andamento.
O presidente da CML ocupa-se em afastar responsabilidades e chafurdar no refugo da especulação imobiliária: juntar-se à manifestação da associação de proprietários do alojamento local; participar da inauguração de um alojamento universitário privado cujo quarto mais barato ronda os 700€ (em 2023, 840€).
A higiene urbana está reduzida à mitigação de um problema de longa data. A falta de recolha apropriada aliada à falta de alternativas de pontos de recolha e uma campanha de sensibilização da população transforma Lisboa, todas as noites, numa cidade com peças de arte abstracta de lixo todas as manhãs – uma versão de Ladyhawke num desencontro entre a responsabilidade e pelo amor pela cidade.
A turba de turistas que pulula o centro de Lisboa encontra alegria e boa disposição para ter o seu lugar ao sol e ao céu. Mesmo assim, entre deslumbradas pela beleza da cidade e desorientadas com o caos da mobilidade, as pessoas turistas não deixam de observar o descaso da CML com a higiene e a mobilidade. Nem o famigerado desejo de atrair turistas para Lisboa faz Moedas adoptar medidas para lhes facilitar a vida. O tipo de turismo e qualidade do turismo é responsabilidade da CML na medida em que tem impacto na vida dos seus residentes (e resistentes face aos preços do arrendamento).
A mobilidade é um tema antigo na cidade. Dividida entre uma cidade mais ecológica e atractiva para turistas e o capital especulativo, a CML permite que três obras de infra-estrutura aconteçam ao mesmo tempo: a expansão do metro; o plano de drenagem; obras na baixa. Tudo antes do verão e antes da visita do Pontífice. Aqui perguntam-se todas as pessoas: por que razão estas obras não tiveram início no Verão, quando a população residente esta de férias e é a época da estiagem? A resposta saberá Moedas.
Os unicórnios ainda não fizeram a sua magia; tão pouco o capital privado que tem a característica de rebelar-se do poder público quando o mercado lhe corre bem e rever-se na garantia de estabilidade de liquidez proporcionada pelo mesmo poder público quando lhes corre mal. Os unicórnios de Moedas estão na incubadora de ideias geniais e inéditas que, esperemos nós, tragam alguma melhoria concreta para a cidade. Moedas, esse, esvai-se em desculpas que disfarçam a ausência de uma agenda política e em reaccionarismo incauto.