Revisão do Estatuto dos Profissionais da Cultura deve começar em Setembro

Tutela esteve reunida com sete associações do sector e reconheceu que não foi ainda pago qualquer subsídio de suspensão de actividade por falta de regulamentação da lei.

Foto
Manifestação "Parados, Nunca Calados" de artistas em 2020 Rui Gaudêncio
Ouça este artigo
--:--
--:--

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

O Ministério da Cultura disse esta sexta-feira às associações do sector cultural que irá começar o processo de revisão do Estatuto dos Profissionais da Área da Cultura em Setembro. A tutela reconheceu, numa reunião que decorreu esta manhã, que ainda não foi pago nenhum subsídio de suspensão de actividade aos artistas que o requereram, disse ao PÚBLICO Amarílis Felizes, da direcção da Plateia — Associação de Profissionais das Artes Cénicas.

É mais um passo no longo caminho da criação, aprovação e aplicação do novo regime contributivo e de enquadramento fiscal das actividades dos profissionais do sector, que tem sido marcado por críticas vindas do terreno devido a problemas “gravíssimos” de implementação do estatuto, que também passam por “informações contraditórias” de algumas instituições públicas e vários embates com a máquina fiscal e administrativa do Estado, como descreveu esta sexta-feira Amarílis Felizes.

A Plateia foi uma das sete associações e sindicatos presentes na reunião com o ministro Pedro Adão e Silva, juntamente com Acção Cooperativista, Acesso Cultura, Associação Portuguesa de Realizadores, Cena-STE - Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos, Performart - Associação para as Artes Performativas em Portugal e Rede - Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea.

A tutela apontara no final de Janeiro, um ano depois da entrada em vigor do Estatuto dos Profissionais da Área da Cultura, que a revisão do documento, prevista na própria lei, deveria avançar no segundo trimestre deste ano. Agora, relata Amarílis Felizes, o ministro balizou o início do processo em Setembro com a expectativa de que este terminasse em Dezembro.

“Estamos muito disponíveis para o diálogo e para partilhar o que conhecemos do sector”, dizem as associações depois da reunião solicitada em conjunto em meados de Maio. Algumas delas, como a Plateia, tinham já pedido para ser recebidas no Palácio da Ajuda em Janeiro, mas o encontro só ocorreu agora, quando se chegou a “um ponto crítico”, denunciado em comunicado a 16 de Maio, quanto ao não pagamento dos subsídios de suspensão de actividade.

Nesta reunião, as associações e o sindicato dizem que obtiveram “reconhecimento destes problemas, mas não grandes respostas, grandes estratégias” para os solucionar. Um dos problemas mais prementes, como foi noticiado pelo PÚBLICO, é a ausência de resposta da Segurança Social aos artistas que “há meses” dizem ter solicitado o subsídio de suspensão de actividade. Trata-se de uma subvenção que dá protecção social a quem está sem trabalho num sector marcado pela intermitência e pela actividade de projecto a projecto.

“Confirmámos nesta reunião que nenhum [subsídio de suspensão de actividade] foi pago porque há ainda um problema de regulamentação, o que achamos muito grave. Ao fim de um ano e meio de a lei estar em vigor, como é que ainda não há regulamentação [da lei] para que a Segurança Social possa processar a informação e pagar estes subsídios, que servem para substituir os rendimentos de quem necessita? As pessoas estão a fazer contribuições para isso”, resume a dirigente da Plateia como porta-voz das sete entidades presentes no encontro com Adão e Silva. A lei permite, no papel, beneficiar do subsídio de suspensão da actividade cultural desde 1 de Outubro de 2022.

Em jeito de balanço do encontro, sublinhou-se ser “fundamental que se mantenha e reforce a ideia de que tem de haver protecção social adequada para quem trabalha na cultura” e que na revisão do estatuto "se reforce o combate à precariedade no sector e que haja mais medidas para isso".

Estas associações também já lamentaram em Maio que a Comissão de Acompanhamento do Estatuto, criada para existir durante dois anos, só se reuniu duas vezes, em vez de as cinco previstas na lei, desde Janeiro de 2022, e que as reuniões foram “pouco úteis”.

O PÚBLICO contactou o Ministério da Cultura sobre este tema, que respondeu que "todos os dias o ministro recebe e dialoga com entidades nas mais diversas áreas e por regra não comenta o que se passa no âmbito das reuniões".

Sugerir correcção
Comentar