Dançar à chuva
De onde escrevo, a Sul, e sem que o deserto esteja instalado embora vá lançando raízes, a desolação propaga-se pelos quintais e hortas abandonadas à morte dos seus proprietários.
A mulher acordou a meio da noite com o barulho da chuva. Primeiro uma chuva muito fina, farpas oblíquas de água tocada a vento. A mulher levantou-se para olhar pela janela. Sob o cone de luz do candeeiro da rua, vê-a cair como setas diagonais que se renovam com metódica precisão. Só aí se manifesta. No resto dos campos, submersos na escuridão da noite sem lua, a chuva é-lhe imperceptível.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.