As ruas de Bogotá assemelham-se a um campo minado do Minesweeper, depois de um grupo de cidadãos colombianos começar a assinalar os ladrilhos soltos: o grupo usa tinta rosa-choque e uma cruz preta para tentar impedir que quem passe tropece ou seja encharcado.
Foi Nicolás de Francisco que teve a ideia, depois de uma idosa ter partido o pulso por ter tropeçado num ladrilho solto. A partir daí, começou a marcar o chão para prevenir que outras pessoas se magoassem ao caminhar pelas ruas da capital colombiana. O perigo é maior quando chove. Ao El País, o engenheiro civil da Universidade dos Andes, Alberto Cuellar explicou que a infiltração da água debaixo dos blocos leva ao desgaste da base do material. Fruto da erosão, o ladrilho deixa de ter um suporte e, quando calcado, a água acumulada esguicha no peão e, por vezes, o bloco parte-se.
Foi aí que surgiu o Empecemos, movimento que sinaliza ladrilhos soltos no passeio ou buracos nas estradas. Além disso, também alertam as autoridades locais para o problema, com o objectivo de proteger os cidadãos, especialmente quem tem mais dificuldades a perceber os riscos. “Tornámo-nos um grupo de activistas da cidade”, afirma Nicolás de Francisco.
Há pelo menos 20 anos que estes problemas existem. O antigo presidente da Câmara, Enrique Peñalosa, usou materiais como ladrilho e cimento para reformar os espaços públicos, especialmente os passeios, tentando aumentar a segurança de quem anda na rua. Porém, duas décadas depois, isso é o que impede as pessoas de usar os passeios.
O grupo quer agora pressionar o poder local a arranjar as ruas. Giovanni Acevedo, um dos voluntários, considera que vários espaços da cidade são negligenciados e por esse motivo, “os cidadãos têm que se organizar por eles próprios de forma artística”. Os Minesweepers já pintaram 11 mil lajes na cidade e tornaram-se populares entre velhos e jovens, que comentam nas redes sociais sobre outros locais onde deviam intervir.
O número de voluntários tem aumentado e planeia-se angariar fundos suficientes para marcar milhões de lajes. Além do pavimento, os Minesweepers passaram a sinalizar todos os tipos de perigos como a falta de tampas de saneamento. Contudo, as autoridades locais ainda não responderam à iniciativa.
Este tipo de intervenção cívica não é uma novidade nos espaços públicos de Bogotá, onde troncos de árvores são colocados para avisar condutores de buracos na estrada ou pneus passam a cobrir bueiros destampados.
Também em Portugal já surgiu este tipo de activismo. Em Celerico de Basto, em Fevereiro, Pedro Queirós, juntou dois amigos e começaram a plantar camélias nos buracos da estrada, como forma de chamar a atenção da autarquia. "Como somos a capital das camélias da Europa, se fizermos isto em todos os buracos talvez consigamos ser a capital das camélias do mundo", comenta nas redes sociais.
Um dos mais conhecidos, no entanto, é um trabalhador da construção civil que decidiu desenhar pénis à volta de buracos na estrada, no Reino Unido. Esta foi uma estratégia que rapidamente mostrou resultados: “Estavam lá há oito meses, pelo menos. Um bocado de arte e foram tapados em 48 horas.”