A celebração do acolhimento familiar

Celebra-se a 31 de Maio o Dia Mundial do Acolhimento Familiar. Tenho 18 anos, estou em acolhimento familiar desde os dez. Esperei por ele sete anos.

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Megafone P3: A celebração do acolhimento familiar Vidal Balielo Jr./Pexels
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Celebra-se a 31 de Maio o Dia Mundial do Acolhimento Familiar. Tenho 18 anos, estou em acolhimento familiar desde os dez. Esperei por ele sete anos. Já vos contei a minha história. Hoje quero relembrar-vos do quão importante é o acolhimento familiar num país – o nosso – que largamente o ignora e menospreza, remetendo aproximadamente 97% das crianças e jovens que retira de situações de perigo para instituições, privando-as de qualquer outra família.

Fazem-no os juízes, fá-lo o sistema, fazemo-lo todos nós, famílias, indivíduos, portugueses, todos os dias. “Numa casa, não!”, “Numa família, não!” são as vozes de dez milhões de portugueses, menos as cento e tal famílias que abrem os braços anualmente. Apenas 3% dessas crianças e jovens virão a conhecer um lar que as acolhe quando dele necessitam. Não é uma estimativa, são dados concretos.

O que diz sobre todos nós? Cada um saberá. A mim fez-me sentir menos que todos, indigna de afectos, de colo, de carinho. E acreditem que vir a reconhecer estes sentimentos, aceitá-los, perceber o quanto me moldaram (e ainda moldam), as consequências que, potencialmente, nunca virei completamente a saber sobre o meu eu e percurso presente e futuro, e aqui narrá-los, tem sido uma jornada (com muito apoio psicológico). É isto que fazemos a mais de 6000 crianças diariamente, em média, em Portugal.

Celebra-se no dia 31 de Maio o Dia Mundial do Acolhimento Familiar. Celebro, pessoalmente, no dia 12 de Junho, mais um ano de acolhimento familiar. São, no meu lar, com a minha “mãe de coração”, dias de festa. Mais do que qualquer outro aniversário. Porquê o acolhimento familiar? Porque lhe é um dia dedicado? Porque é imperativo aumentar a consciencialização sobre o acolhimento familiar. Para mim foi uma mudança a 180 graus (e quilómetros à hora!).

Penso que na altura nem me apercebi de todas as suas dimensões, mas soube no meu íntimo que era finalmente a oportunidade de ter uma vida como todos os outros. Não nos enganemos: o acolhimento residencial tem o seu lugar na sociedade, é certamente uma medida necessária, no entanto, favorecê-lo como sendo a solução é uma ilusão. Não é suposto uma criança crescer numa instituição. Ponto final.

Se o for, desafio a sociedade a, pela ocasião do nascimento de um bebé, o encaminhar para uma instituição e deixá-lo lá ficar, afinal estará bem. Chocados? Eu fui uma dos 6000 por ano a quem isso aconteceu pela ocasião do meu terceiro aniversário de vida. E assim continuou ano após ano após ano.

Não estou zangada, mas estou triste. Não por mim, mas por todas as crianças e jovens que ainda não encontraram o seu lar, porque ainda não estamos a fazer o suficiente. Ainda não valorizamos o acolhimento familiar. Como escreveu recentemente a Dra. Celina Cláudio, que me tem acompanhado na minha jornada, é uma invisibilidade.

A propósito do Dia Mundial do Acolhimento Familiar, pergunto: que futuro queremos? A minha mãe de acolhimento diz-me frequentemente “mede-se uma pessoa, e um país, pelo que faz pelo mais vulnerável”. Com os anos tenho vindo a perceber isso melhor.

Não se sintam mal se não conseguem acolher uma criança ou jovem em perigo, mas sintam-se inquietados o suficiente para contribuírem de alguma forma e aprenderem sobre a sua necessidade e o quanto pode mudar a vida de alguém. Propõe-se que o dia 31 de Maio seja de reconhecimento do acolhimento familiar, celebrado com o levantar de três dedos pintados com uma cara feliz e uma publicação nas redes sociais com a #worldfosterday.

Eu desafio-vos a encontrar a instituição de enquadramento para famílias de acolhimento mais perto de vocês e visitarem durante três minutos o seu site. Explorem um recurso qualquer online sobre o acolhimento familiar, desde o que é, à sua situação em Portugal, por que existe e como podem ajudar. São três minutos que dedicarão a esta causa. E, quem sabe, também os primeiros três minutos que farão a diferença na vida de uma criança ou jovem.

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