Crescimento-surpresa registado no primeiro trimestre foi graças às exportações
Exportações, principalmente as de serviços em que se inclui o turismo, aceleraram no arranque de 2022, garantindo um ritmo de crescimento da economia que forçou a várias revisões de previsões.
O crescimento mais forte do que o esperado da economia portuguesa no decorrer do primeiro trimestre deste ano teve como principal explicação uma aceleração acentuada das exportações, principalmente aquelas que resultam das despesas realizadas pelos turistas no país.
A confirmação foi dada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) nos dados das contas nacionais relativos ao primeiro trimestre de 2023 publicados esta quarta-feira. Tal como já tinha sido revelado na estimativa rápida divulgada no final de Abril, os dados oficiais mostram que a economia cresceu 1,6% face ao trimestre imediatamente anterior, pondo a variação homóloga do Produto Interno Bruto (PIB) nos 2,1%.
Este resultado ficou bastante acima das expectativas da generalidade dos analistas e conduziu a uma revisão em alta das previsões que tinham sido feitas pela Comissão Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional para a totalidade de 2022. Se antes previam um crescimento em Portugal em torno de 1%, agora passaram a apontar para variações anuais do PIB de 2,4% e 2,6%, respectivamente.
As razões para esta surpresa não eram ainda totalmente claras nos dados publicados pelo INE em Abril, uma vez que não foi nessa altura revelada a evolução das diferentes componentes do PIB. Mas, agora, os dados mais completos publicados esta quarta-feira não deixam margem para dúvidas: as exportações foram o motor do crescimento forte registado no primeiro trimestre.
Ao mesmo tempo que o consumo privado cresceu 0,4% face ao trimestre anterior e o investimento registou mesmo uma descida de 0,8%, as exportações aumentaram 6,8%, uma forte aceleração depois de, ao longo do ano de 2022, não terem apresentado taxas de variação trimestrais em cadeia superiores em 3,7%.
Estes números, combinados com o facto de as importações praticamente não terem crescido durante o mesmo período, fizeram com que o contributo do sector externo para o crescimento da economia no primeiro trimestre tenha sido particularmente expressivo.
De acordo com as contas do INE, para a variação em cadeia do PIB de 1,6%, a procura interna teve um contributo negativo de 0,8 pontos percentuais, compensado por um contributo positivo da procura externa líquida (exportações menos importações) de 2,5 pontos.
Depois, dentro das exportações, é também possível observar níveis de crescimento diferentes. Os números do INE mostram que foi na venda de serviços ao estrangeiro que esteve o principal motivo para o resultado mais positivo. As exportações de bens cresceram 4,8% face ao trimestre anterior, enquanto as exportações de serviços registaram uma variação de 10,8%, uma aceleração significativa face aos 5,6% do trimestre anterior.
Em Portugal, são as receitas do turismo que mais peso têm nas exportações de serviços. Indicadores sectoriais confirmam que o arranque de 2023 foi positivo para a actividade turística em Portugal que regressou já aos níveis pré-pandemia na generalidade dos indicadores.
O contributo negativo da procura interna, por seu lado, não constitui uma surpresa e era, aliás, o motivo pelo qual a generalidade dos analistas estava à espera de um desempenho mais fraco da economia. Com a inflação a pesar no poder de compra e nas expectativas e a escalada das taxas de juro a tornar as coisas ainda mais difíceis, o consumo privado e o investimento registaram no primeiro trimestre taxas de crescimento muito baixas (e mesmo negativas no caso do investimento).
As perspectivas para os próximos trimestres não são muito diferentes no caso do consumo privado, e no investimento a esperança reside essencialmente numa aceleração da execução dos fundos provenientes da União Europeia (UE).
Sendo difícil que as exportações continuem a crescer ao mesmo ritmo que o fizeram no primeiro trimestre, a expectativa é por isso que se registe até ao final do ano um abrandamento da economia portuguesa. Ainda assim, mesmo num cenário de estagnação nos próximos três trimestres, a variação do PIB no total de 2023 será sempre superior a 2%.