Mourinho sabe que a Liga Europa também pode bater três vezes
Sevilha quer reforçar recorde com sétimo troféu. Treinador português perto de conseguir o pleno na sexta final.
Qual centurião, José Mourinho encontra-se, após 14 longas batalhas, com a Roma às portas de Budapeste para refulgir as memórias que guarda da primeira grande conquista europeia, forjada há 20 anos nas margens do Guadalquivir com a chama do “dragão”.
Agora, depois de duas Champions, uma segunda Liga Europa (pelo Manchester United) e a recente Liga Conferência (já de “giallorossi”), Mourinho está preparado para mostrar que não perdeu o toque de Midas. Dom que pode granjear-lhe uma terceira Europe League (sempre em clubes distintos, algo nunca conseguido por nenhum treinador) e um terceiro troféu sob bandeira italiana.
Tudo perfeitamente exequível, ainda que pela frente surja, imperial, um Sevilha que nas últimas dez edições foi coroado por seis vezes... Continuando imaculado em matéria de finais da Liga Europa.
Sevilha que, tal como os romanos, sonha com a passadeira especial da Liga dos Campeões, reservada ao vencedor do duelo da Puskás Aréna. No caso dos espanhóis, com o duplo impacto, pois, a uma ronda do desfecho da La Liga — depois de três treinadores, com Lopetegui e Sampaoli antes de Jose Luis Mendilibar —, encontram-se numa situação algo precária para garantir, juntamente com outros quatro emblemas, a última vaga europeia.
Menos pressionado, nesse aspecto, a Roma (6.ª na Série A italiana) confia no potencial do grupo, mas não menos na estrela do treinador. Com cinco triunfos em cinco finais, também José Mourinho não tem motivos para duvidar da liderança nem da capacidade para dar continuidade ao legado europeu iniciado há duas décadas.
Por isso, Sevilha será sempre um marco incontornável na história do treinador português e até da Roma, que na Taça UEFA perdeu a única final (a duas mãos) que disputou, em Maio de 1991, com o Inter de Milão de Giovanni Trapattoni, precisamente o único treinador com cinco troféus conquistados, tal como Mourinho (excluindo provas como Supertaças, Intercontinentais ou Intertoto). Em 2020/21, Paulo Fonseca ficou perto de uma segunda final, que chegou agora sob o comando do especialista.
A história é dos rapazes
Apesar do enfoque em José Mourinho, o treinador português garante que está num registo diferente do que o notabilizou à chegada a Inglaterra. Mais do que uma certa vaidade, naturalíssima, o outrora conhecido por “Special One” está, hoje, mais preocupado com a felicidade dos jogadores e dos tiffosi. Algo que surge entre as primeiras declarações do técnico na conferência de imprensa de antevisão.
“O trabalho está feito. Agora, os rapazes têm de fazer história”, o que não deixa de ser uma curiosa escolha de palavras para quem assegura que a história não joga. Isto a propósito dos méritos do adversário, uma equipa montada para a Champions e que na Liga Europa fez cerca de metade dos jogos (oito) dos italianos. Passado sublinhado por Jose Luis Mendilibar, técnico do Sevilha, para reclamar algum favoritismo, ao concordar que “a história não joga mas também não mente”.
Mourinho tem uma perspectiva diferente e, mesmo elogiando o homólogo, lembra que Roma não precisou dessa alavanca para chegar a Budapeste, destino cobiçado por “gigantes” como Barcelona, Arsenal, Manchester United ou Juventus, os dois últimos vítimas do Sevilha.
“Fizemos 14 jogos para chegar aqui. Queremos e merecemos esta final. Temos trabalhado no duro para estarmos em condições”, asseverou, apesar das dúvidas quanto à disponibilidade de elementos fundamentais como o avançado argentino Paulo Dybala, melhor marcador dos romanos, a par de Lorenzo Pellegrini, ambos com quatro golos e a possibilidade de destronarem Marcus Rashford, do Manchester United, que lidera a lista de goleadores da prova, com seis.
Kardsdorp, Spinazzola e Dybala (pelo menos para 30 minutos) parecem, entretanto, ter recuperado, ajudando a equilibrar as contas. Uma lógica que Mendilibar aborda com prudência, sem cair na armadilha dos elogios de José Mourinho, sempre seguro do desafio que a Roma representa, enquanto “equipa extremamente difícil de contrariar”, emocionalmente “equilibrada”, o que exige “equilíbrio e tranquilidade dos adversários”, até para evitar surpresas “nas transições, no momento de perda de bola”, que o Sevilha terá de evitar para conseguir o sétimo troféu.