No País dos arquitectos: o novo edifício da ESAP

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Cortesia de Cannatà e Fernandes
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No 62.º episódio do podcast No País dos Arquitectos, Sara Nunes (da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures) conversa com a arquitecta Fátima Fernandes, do atelier Cannatà & Fernandes, sobre o novo edifício da Escola Superior Artística do Porto (ESAP).

Depois de décadas no centro histórico do Porto, a ESAP mudou-se para a zona de Campanhã, em frente à Escola Artística Soares dos Reis. Para além da transformação da cidade e dos efeitos do turismo, a arquitecta explica que um dos motivos que originou esta transição foi, por um lado, a necessidade de preservar “a relação com a urbanidade” e, por outro, incentivar a interdisciplinaridade e o cruzamento entre as diferentes áreas de conhecimento: “Sentimos que [no edifício anterior], entre os diferentes cursos, já não havia uma dinâmica de espaços, que permitisse desenvolver actividades conjuntas.” A arquitecta corrobora esta ideia, dizendo que a cidade é “o maior livro” para os arquitectos e para os artistas, e a ligação da ESAP com o centro histórico não ficou esquecida neste novo projecto.

Logo no início da conversa, Fátima Fernandes sublinha que este projecto foi desenvolvido não só por ela, mas também por Michele Cannatà (que também faz parte do atelier Cannatà & Fernandes) e João Carreira: “É muita responsabilidade, mas acho que foi um percurso muito bom. Houve também uma grande colaboração de todos.” Todos eles são arquitectos e dão aulas nesta escola, que funciona como uma cooperativa sem fins lucrativos: “Aqui o conceito de cooperar é fundamental.”

O projecto integrou a intervenção numa fábrica de curtumes e a construção de um novo edifício: “A escola também tem um edifício que se abre sobre a Avenida [de Fernão Magalhães] e depois tem uma espécie de espaço intersticial que está frontal à Escola Artística de Soares dos Reis, que é um espaço bastante interessante.” A arquitecta chama também a atenção para o diálogo na integração entre os diferentes volumes e para o corredor que funciona como local de circulação e dá palco a diferentes eventos que são realizados na escola: “É um espaço com uma escala e com uma flexibilidade muito grandes, sobretudo para as actividades que aí podem decorrer.”

Fátima Fernandes lembra a utilização colectiva dos diferentes espaços, onde o interior está em permanente ligação com o exterior: “O espaço transparente das salas tem um factor muito importante na abertura e na interligação que nós consideramos que é fundamental – numa escola que tem cursos de artes – para se contaminarem uns aos outros.” A somar a tudo isto, a proximidade com a Escola Soares dos Reis vem reforçar o espírito cooperativo e o trabalho conjunto das instituições: “A estrutura da cidade entra dentro da escola e a escola faz-se com esta dinâmica que é a dinâmica da rua, do cruzamento e que cruzará as diferentes actividades, dos diferentes cursos.” Fátima Fernandes esclarece ainda que haverá outros trabalhos a ser desenvolvidos: “Há um espaço que não está concluído que é muito importante. É um grande jardim, um jardim-praça (...). Esse espaço está à cota do rés-do-chão e tem uma escadaria no topo, que nos liga a uma plataforma que abre para a Rua dos Navegantes.” Existem previsões de que os trabalhos ficarão concluídos no final de 2025.

Ao longo da conversa, a arquitecta explica que, todos os anos, cada currículo é trabalhado de forma conjunta entre todos os professores da ESAP: “Cada aluno nas áreas disciplinares desenvolve trabalhos específicos, mas faz sempre parte de um todo. E esta decisão do curso só é possível numa escola com um número reduzido de estudantes.” No curso de Arquitectura, Fátima Fernandes diz haver “uma grande articulação entre as áreas disciplinares ao longo do ano” e adianta que existem neste momento duas matérias que estão a ser introduzidas: “É uma matéria que está relacionada, por exemplo, com as questões do clima, da Geografia e também dos comportamentos dos materiais e das origens dos materiais.”

Hoje, a ESAP, não estando no centro histórico, continua a funcionar como ponto de encontro, incentivando a partilha entre os vários cursos: Arquitectura, Design, Fotografia, Cinema, Artes Plásticas e Teatro. A arquitecta conta que o feedback que tem recebido do novo edifício da ESAP tem sido muito positivo: “Os alunos sentem-se muito bem e os professores e os funcionários adoram a escola. (...) Há, inclusive, ex-alunos que dizem: «Agora é que eu queria estar na escola.»”

No final do episódio, Fátima Fernandes revela que está expectante em relação ao futuro da instituição: “Espero que esta escola tenha, como já teve, uma grande influência na produção não só de bons arquitectos, mas também de bons artistas e de bons pensadores que venham a ser capazes de melhorar a sociedade em que nós vivemos e que viverão no futuro outras pessoas.” A esta ideia, a arquitecta acrescenta uma outra: “A escola é, indiscutivelmente, o lugar onde o pensamento produz conhecimento que é depois posto em prática (...) e que muda a vida das pessoas.”

Para saber mais sobre o projecto da ESAP e a importância da cooperação entre as diferentes áreas do saber, ouça a entrevista na íntegra.

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