Jornalistas que relataram o caso de Mahsa Amini julgadas como agentes estrangeiros
Julgamentos de Niloofar Hamedi e Elaheh Mohammadi realizados à porta fechada. Repórteres Sem Fronteiras denunciam “a farsa” e exigem libertação das duas que podem ser condenadas à morte.
Um tribunal revolucionário iraniano começou esta terça-feira a julgar a jornalista Niloofar Hamedi, do diário Shargh, acusada de ser um agente estrangeiro, por esta ter sido a primeira a informar sobre o caso da jovem curda-iraniana Mahsa Amini, que morreu sob custódia policial, depois de ser detida por estar a usar mal o véu com que as mulheres têm obrigatoriamente de cobrir a cabeça quando estão em público.
O marido, Mohammad Hossein Ajorlou, escreveu no Twitter que a jornalista afirmou-se inocente de todas as acusações no julgamento, realizado à porta fechada, tendo enfatizado que “cumpriu o seu dever” como jornalista de acordo com a lei e que “não realizou nenhuma acção contra a segurança do Estado”.
A jornalista e o marido foram acusados pelo Ministério dos Serviços Secretos do Irão de serem agentes da CIA, os serviços secretos norte-americanos, em território iraniano. Niloofar Hamedi foi a primeira a difundir imagens de Amini desde o hospital, quando esta estava ainda em coma, mostrando imagens da jovem curda junto com a sua família.
This week, Iranian journalists #ElahehMohammadi & #NiloofarHamedi, who have been in prison for more than 9 months because of their groundbreaking coverage of #MahsaAmini?’s death, will go to court. Journalism is never a crime. #WomanLifeFreedom #??_?????_????? pic.twitter.com/chYqMeZdd7
— Jonathan Harounoff (@JonathanHaroun1) May 29, 2023
Outra das jornalistas que desempenhou um papel importante para dar a conhecer o caso Amini, Elaheh Mohammadi, também acusada de ser uma agente estrangeira, começou a ser julgada na segunda-feira. A jornalista do diário Ham Mihan, escreveu uma reportagem do funeral de Amini.
A sua advogada, Shahab Mirlohi, adiantou esta terça-feira, citada pela Radio Farda, filial da Radio Liberty, que à defesa não lhe foi permitido intervir na audiência, também realizada à porta fechada.
A organização Repórteres Sem Fronteiras exigiu a libertação das duas jornalistas, que “enfrentam a possibilidade de pena de morte sem ter visto os seus advogados e sem ter acesso” à acusação. “Denunciamos esta farsa de justiça e exigimos a sua libertação”, escreveu a ONG no Twitter.
O Governo iraniano continua sob pressão devido às manifestações e protestos que se realizam no país desde a morte de Amini, no ano passado. E prendeu e condenou muitas pessoas pelo envolvimento nos protestos, inclusive tendo já executado algumas.
