Famílias estão menos pessimistas, mas aceleração do consumo parece difícil

Confiança dos consumidores voltou a subir em Abril, com os receios em relação a uma escalada dos preços a diluírem-se. Mas a realização de consumos importantes está ainda fora dos horizontes.

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Consumidores portugueses estão menos pessimistas em relação à economia DIOGO VENTURA
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A confiança dos consumidores em relação à sua situação financeira e ao estado da economia portuguesa está nos últimos meses a recuperar dos valores muito baixos que atingiu em meados do ano passado, mas nem assim se deverá conseguir evitar o prolongamento do cenário de quase estagnação do consumo que se verifica actualmente.

De acordo com os dados dos inquéritos de conjuntura publicados nesta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, verificou-se em Abril, pelo quinto mês consecutivo, uma melhoria do indicador de confiança dos consumidores em Portugal. Os -30,2 pontos registados representam uma melhoria de 2,1 pontos percentuais face a Março e representam o valor mais elevado desde Fevereiro de 2022.

Em Março do ano passado, no momento em que se deu o início da guerra na Ucrânia, assistiu-se, tanto em Portugal como no resto da Europa, a uma queda abrupta da confiança dos consumidores, tendo esta atingido o seu ponto mais baixo no passado mês de Novembro, em sintonia com a alta registada na taxa de inflação. Essa quebra da confiança contribuiu para que se registasse uma travagem acentuada no consumo privado em Portugal na segunda metade do ano passado, tendo mesmo este indicador caído 0,4% em cadeia no quarto trimestre.

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Nos últimos meses, contudo, à medida que as pressões inflacionistas foram diminuindo, os níveis de confiança dos consumidores portugueses também recuperaram dos mínimos.

Nas respostas dadas ao INE, os portugueses inquiridos revelaram sobretudo uma melhoria das suas perspectivas relativamente à evolução dos preços nos próximos 12 meses, com a perspectiva de evolução da inflação (que atingiu máximos em meados do ano passado) a ser a mais moderada desde Abril de 2021.

De igual modo, os portugueses revelaram estar menos pessimistas em relação a uma subida do desemprego e passaram, de uma forma geral, a ter uma perspectiva em relação à situação económica do país nos próximos 12 meses que é a menos negativa do registo desde Fevereiro do ano passado.

O problema é que há indícios de que esta retoma dos indicadores de confiança dos consumidores pode vir a não ter um reflexo significativo nos níveis de consumo das famílias.

De facto, quando questionados obre as perspectivas de evolução da situação financeira do seu próprio agregado familiar, os inquiridos continuam a não revelar a mesma moderação do pessimismo que mostram quando se pergunta sobre a evolução da economia. E, talvez por isso, não se tem também registado uma melhoria nas perspectivas de realização de compras importantes no momento actual ou nos próximos 12 meses — que se mantém próximo dos níveis mínimos registados no auge da pandemia. As melhorias são também muito reduzidas no que diz respeito à perspectiva de compra de automóvel nos próximos 12 meses.

A persistência desta atitude muito prudente dos portugueses relativamente ao consumo que esperam vir a realizar está em linha com as previsões mais recentes feitas para a evolução da economia portuguesa. Tanto o Banco de Portugal como a Comissão Europeia, apesar de terem revisto em alta as suas previsões de crescimento económico para Portugal no decorrer deste ano, continuaram a apontar para uma quase estagnação do consumo privado em 2023, depois da forte recuperação de 2021 e 2022.

O Banco de Portugal aponta para um crescimento do consumo privado de 0,3% em 2023 e de 1% em 2024, bem abaixo dos crescimentos previstos para o PIB de 1,8% e 2%, respectivamente. Já a Comissão Europeia, que passou a projectar um crescimento da economia de 2,4% este ano, antecipa que tal aconteça num cenário em que o consumo privado não cresce mais dos que 0,5%.

A maior prudência das famílias portuguesas é, a par com um cenário de subida dos encargos com juros e uma diminuição da poupança acumulada durante a pandemia, uma das causas para não acreditar que o consumo possa continuar a ser o motor da economia portuguesa num futuro próximo.

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