O primeiro-ministro, espanhol, Pedro Sánchez, assumiu a responsabilidade da derrota dos socialistas nas eleições regionais de domingo e decidiu antecipar as legislativas. Inicialmente previstas para Dezembro, as eleições que o PP espera que venham confirmar o "fim do sanchismo" e selar a mudança de ciclo vão agora realizar-se a 23 de Julho. “Peço desde já uma maioria clara, uma maioria incontestável e uma maioria contundente”, reagiu o líder do maior partido da oposição de direita, Alberto Núnez Feijóo.

“Assumo os resultados na primeira pessoa e acredito que é necessário dar uma resposta. Muitos presidentes com gestões impecáveis deixaram de o ser”, afirmou o chefe do Governo de coligação PSOE-Unidas Podemos. “Tudo isto aconselha uma clarificação por parte dos espanhóis sobre as forças políticas que devem liderar esta fase”, considerou. “É melhor que os espanhóis tomem a palavra para definir o rumo político do país.”

O primeiro comentário dos conservadores veio do presidente da câmara de Madrid, que obteve uma maioria absoluta. “Vamos completar o trabalho”, assegurou José Luiz Martínez Almeida, numa mensagem no Twitter em que partilha um vídeo do seu discurso de vitória, no domingo à noite, na varanda da sede do PP e ao lado de Feijóo. “A cara de presidente do Governo com que este à minha direita está a ficar”, diz, a ir, ao líder do seu partido. "Espanha iniciou um novo ciclo político, se os espanhóis quiserem o meu momento chegará”, afirmou depois Feijóo, exultante, na mesma varanda, entre Almeida e Isabel Díaz Ayuso, a presidente da comunidade de Madrid que celebrava por fim a tão ambicionada maioria absoluta.

Esta segunda-feira, clebrando o anúncio de Sánchez ainda antes de Feijóo, Díaz Ayuso afirmou que “o projecto [do PSOE] está esgotado”. Na sua opinião, a decisão do primeiro-ministro constitui "uma rendição” e mostra que “está num beco sem saída”.

Tom ligeiramente diferente usou Feijóo, quando comentou a antecipação das legislativas (uma hora depois do previsto, no final da reunião do Comité de Direcção do Partido). “Ontem [domingo] os cidadãos votaram maioritariamente no meu partido, mas o sanchismo ainda não foi abolido”, avisou. A expressão “fim do sanchismo” tinha sido usada na véspera pela secretária-geral do PP, Cuca Gamarra.

A opção mais perigosa

Apesar de tudo, o presidente do PP mostrou-se confiante: “Também quero demonstrar a minha satisfação por isto se ter traduzido na convocatória de eleições legislativas. Melhor quanto antes. Espanha deu o primeiro passo para abrir um novo ciclo político. Convoco desde este instante todos a culminar esse ciclo que termina a 23 de Julho”, apelou.

Mas a verdade é que a antecipação de eleições, e principalmente o momento da convocatória, não terá agradado a todos no PP. Segundo o jornal digital infoLibre, “vários dirigentes expressaram o seu ‘aborrecimento’ e ‘mal-estar’”, considerando que Sánchez quis anular o efeito da vitória do PP e apontando que as legislativas vão acontecer agora em plenas férias de Verão.

“Sánchez, habituado a decisões arriscadas, optou pela mais perigosa de todas, mas também a única que ninguém esperava na noite eleitoral”, analisa o jornalista Carlos E. Cué no site do diário El País. O objectivo, explica, é “colocar os eleitores, sobretudo os progressistas, na posição de terem de decidir quase de imediato se querem consolidar o resultado das eleições regionais e municipais, que entregam quase todo o poder ao PP e ao [partido de extrema-direita] Vox, e se permitem que isso chegue também à Moncloa, ou se se mobilizam para o evitar”.

A extrema-direita

Sublinhando que “cada eleição é diferente, variam os candidatos, os círculos, as regras eleitorais, o momento político, a participação, as motivações dos eleitores e um grande etc.”, o mesmo jornal avança com uma tradução matemática dos resultados de domingo para as legislativas, usando o método de Hondt. As contas apontam para uma vitória clara do PP, que obteria o maior número de deputados no Congresso, mas como esse apoio seria conseguido graças a votos do Vox e do Cidadãos, Feijóo não chegaria à maioria absoluta “mesmo somando os deputados da extrema-direita”.

Um eventual acordo com a extrema-direita a caminho das legislativas é grande discussão a que Feijóo não poderá continuar fugir. Pedindo ao líder do PP que comece a construir “uma alternativa a partir dos municípios e das regiões”, o presidente do Vox lembrou que “há um partido que ganhou em muitas comunidades e autarquias, mas que não tem maioria para governar e deve escolher se negoceia connosco ou segue outro caminho”. E dirigindo-se directamente a Feijóo, Santiago Abascal pediu-lhe “patriotismo, responsabilidade e visão” para selar uma alternativa ao Governo de “socialistas, comunistas, separatistas e terroristas”.

Ainda que a vitória do PP tenha sido muito significativa, com o partido a ultrapassar as melhores expectativas e a conquistar aos socialistas a Comunidade Valenciana, Aragão, Ilhas Baleares, Cantábria, La Rioja e Múrcia, assim como várias cidades grandes, como Sevilha, Valladolid, Valência, Granada, Toledo ou Huelva, Abascal tem razão. O PP recuperou pelo menos seis das dez regiões onde governavam os socialistas (entre as 12 comunidades que foram a voto este domingo), mas para governar na Comunidade Valenciana, Cantábria, Baleares, Extremadura e Aragón vai precisar do Vox.

Unidade da esquerda

Antes de a direita conseguir reagir à decisão, anunciada numa curta intervenção no Palácio da Moncloa, chegaram os comentários dos parceiros de Governo. A segunda vice-presidente de Sánchez e líder do recém-formado partido Sumar, Yolanda Díaz considerou que “a mensagem recebida foi muito clara: é preciso fazer as coisas de outra maneira. “Frente à Espanha negra de Feijóo [líder do PP] saímos para vencer. As pessoas estão à nossa espera”, escreveu no Twitter.

A par do PSOE, o Podemos registou uma grande derrota, um resultado que Pablo Iglesias, ex-fundador e ex-presidente do partido, e ex-vice-presidente do Governo, descreveu como “um desastre, péssimo”. Para inverter a situação, defendeu, em declarações à rádio RAC1, é preciso selar a unidade entre o seu partido e a plataforma de Yolanda Díaz, que não se apresentou nas eleições municipais e autonómicas. Pouco depois, era a actual líder do Podemos, e ministra dos Direitos Sociais, a anunciar a mesma prioridade. “A nossa formação trabalha já para dar à cidadania progressista a notícia que há tanto tempo espera. Para que este espaço político se apresente unido nas eleições e saiamos vencedores”, afirmou Ione Belarra.

Não sobra é muito tempo para o conseguir: a lei define que os partidos que querem estabelecer coligações têm de o comunica “nos dez dias seguintes à convocatória”. Por isso mesmo, anunciou Belarra, as negociações começatram