Rússia sai de tratado militar e Lukashenko tenta captar aliados

Kremlin queixa-se de “vácuo” no controlo internacional de armamento, mas diz não ter culpa. Presidente da Bielorrússia tenta aliciar Cazaquistão: “Há armas nucleares para todos.”

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O sistema móvel de mísseis balísticos de curto alcance Iskander, de fabrico russo, que pode transportar ogivas nucleares SERGEI CHIRIKOV/EPA
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A Rússia abandonou formalmente um tratado militar internacional assinado no fim da Guerra Fria e o porta-voz de Vladimir Putin disse esta segunda-feira que está a criar-se um “vácuo” legislativo sobre controlos de armamento a nível mundial. Rejeitou, no entanto, que a responsabilidade seja de Moscovo.

Desde o início da invasão da Ucrânia, em Fevereiro do ano passado, as relações entre a Rússia e o Ocidente deterioraram-se a tal ponto que Putin decidiu suspender a participação russa em tratados como o New START, sobre proliferação nuclear, e o Tratado sobre Forças Armadas convencionais na Europa.

Quanto a este último, o Presidente russo assinou recentemente um decreto que formaliza a “denúncia” de um acordo celebrado em Novembro de 1990 entre vários países europeus, os Estados Unidos e o Canadá. “Neste campo do controlo de armamento, de estabilidade estratégica, está a desenvolver-se um grande vácuo, claro, que idealmente seria urgentemente colmatado com novos actos de lei internacional para regular esta situação”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, quando questionado sobre o abandono do tratado.

“Isto é do interesse de todo o mundo”, acrescentou Peskov, citado pela Reuters. “Mas para que isto aconteça precisamos de relações bilaterais funcionais com um conjunto de Estados que neste momento não existem”, disse, concluindo: “A culpa não é nossa.”

O Tratado sobre as Forças Armadas convencionais na Europa, de que Portugal é um dos subscritores, é um extenso documento que define limites aos arsenais de cada país, estabelece normas técnicas para a utilização de material militar e prevê inspecções mútuas entre países signatários. Tudo com o objectivo de “evitar qualquer conflito militar na Europa” e “eliminar (…) a capacidade de lançar ataques de surpresa e de iniciar acções ofensivas de larga escala na Europa”, como se lê no prefácio.

O abandono formal do tratado pela Rússia segue-se a uma suspensão em 2007 e a uma “paragem total” de participação em 2015, pelo que tem um valor mais simbólico do que real.

Ele chega, no entanto, num momento em que a Rússia está mais isolada devido à invasão da Ucrânia e depois de, em Fevereiro, Putin ter anunciado a suspensão do tratado New START, assinado bilateralmente com os Estados Unidos para limitação do número de ogivas nucleares dos dois países.

Neste momento, pela primeira vez desde a queda da União Soviética, a Rússia pôs em marcha um plano para a colocação de armas nucleares tácticas na Bielorrússia. E o Presidente deste país declarou no domingo que, caso mais países da antiga esfera soviética queiram juntar-se à aliança, há “armas nucleares para todos”.

“Ninguém está contra o Cazaquistão e outros países terem as mesmas relações próximas que nós temos com a Federação Russa”, disse Alexander Lukashenko em entrevista a uma televisão russa. “Se alguém está preocupado é muito simples: juntem-se ao estado unido da Rússia e da Bielorrússia. É só isso: haverá armas nucleares para todos.”

Já na segunda, o Presidente do Cazaquistão recusou a oferta. “Gostei da piada”, disse Kassym-Jomart Tokayev, citado pelo seu gabinete, segundo a Reuters. “Quanto a armas nucleares, não precisamos delas porque aderimos ao Tratado de não-proliferação nuclear”, acrescentou.

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