Como tornar os sistemas alimentares mais sustentáveis em Portugal

Um sistema alimentar sustentável capaz de alimentar os cidadãos não se pode limitar só a aumentar a produção agrícola. Tem de ajudar aqueles que são de facto a espinha dorsal da produção alimentar.

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Num contexto de alterações climáticas, as políticas de abastecimento alimentar na União Europeia têm-se focado no desenvolvimento sustentável do sector agrário, tendo como objectivo garantir alimentos frescos e seguros aos cidadãos a preços acessíveis.

Estas novas políticas têm salientado a necessidade de redução da pegada ambiental e de tornar a agricultura mais moderna e resiliente. Neste enquadramento político, a União Europeia tentará também estabelecer um rendimento justo e um forte apoio aos seus produtores (as), principalmente pela reforma da nova Política Agrícola Comum (PAC), que visa distribuir o seu orçamento de forma mais justa, dando-se prioridade aos jovens e pequenos (as) produtores (as).

Esta medida de “redistribuição” foi algo que muitos esperavam, pois, poderá revitalizar um sector que há muito tempo estava a precisar de alguma atenção política. Tal é notório quando olhamos com atenção para o panorama agrícola português, no qual se tem 20% dos beneficiários a receber 85% dos pagamentos diretos (Comissão Europeia, 2020).

Assim, conjugou-se um quadro geral europeu baseado em monopólios de produção e de subvenção, resultando num número pequeno (7,5%) de grandes produtores que trabalham em dois terços de toda a superfície agrícola utilizada na União Europeia, independentemente da eficiência de produção, da insustentabilidade para com os recursos ou de providenciarem condições de trabalho nocivas aos trabalhadores (as) agrícolas.

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A investigadora Kaya Schwemmlein DR

Do outro lado, tem-se as explorações pequenas, que representam quase 66% dos produtores da União Europeia (Eurostat, 2022). Todavia, estas explorações pouco ou nada recebem, mesmo sendo mais eficientes no seu desempenho: produzem mais nutrientes por unidade, o abastecimento alimentar é local e ajudam a colmatar as necessidades alimentares dos agregados familiares.

Uma distribuição mais justa de subsídios

A política europeia prevê que a solução seja deixada a cada Estado-membro. No caso português, a solução passa por uma análise do ponto da situação, das necessidades e das propriedades rurais.

Através dos resultados da minha investigação, no qual se analisaram dados harmonizados e comparáveis sobre o desempenho multidimensional de diferentes escalas de práticas e modelos agrícolas, foi possível traçar-se um quadro de apoio à decisão que poderá auxiliar não só na mitigação dos efeitos das alterações climáticas, mas que poderá estar na base da construção para um roteiro para a mudança através de políticas agrárias sustentáveis adequadas à realidade portuguesa. Tal poderá levar a decisões políticas mais prudentes e mais eficientes na distribuição de subsídios e na gestão rigorosa de fundos comunitários.

A investigação lembra, portanto, que um apoio justo e contínuo às pequenas explorações agrícolas e outros produtores marginais pode desempenhar um papel importante na redução do risco de pobreza rural, proporcionando rendimentos e alimentos adicionais, oferecendo uma alimentação local, justa e sã.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

Estudante de doutoramento no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa

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