Museu Nacional Ferroviário é o primeiro com um plano geral de sustentabilidade
Objectivo é alcançar a neutralidade carbónica até 2050 através da redução dos níveis de energia, emissões, resíduos e água, e do uso do comboio na deslocação ao Entroncamento.
Não é o único a propor-se incorporar a sustentabilidade em todas as suas actividades, hábitos, processos e espaços museais, mas é o primeiro museu em Portugal a apresentar “uma estratégia mais ampla, traduzida num plano completo para atingir esse objectivo”. Quem o diz é João Neto, presidente da Associação Portuguesa de Museologia, que tem vindo a analisar muitas candidaturas de museus no âmbito do PRR, mas que considera o Museu Ferroviário do Entroncamento um caso exemplar.
De acordo com o seu Plano de Sustentabilidade, a que o PÚBLICO teve acesso, esta instituição “assume o compromisso de minimizar a sua pegada ecológica através da implementação de uma Estratégia Ambiental que permita alcançar a neutralidade carbónica até 2050”. E uma das medidas mais imediatas é óbvia e comum a muitos museus: a substituição das luminárias existentes por lâmpadas LED, que permitirão reduzir o consumo de energia para cerca de metade do actual, proporcionando uma poupança anual de 8350 euros. Mais: esta simples medida, a finalizar em 2025, tornará possível diminuir a potência instalada dos actuais 40kW para 20kW.
Além de poupar nos consumos de energia, o museu ferroviário propõe-se, ele próprio, produzir energia ao integrar uma Comunidade de Energia Renovável (CER), no que se traduzirá na instalação de uma central fotovoltaica de 198,7kW nos amplos telhados das suas instalações. De acordo com o documento, 54% da energia consumida passaria a ser proveniente da central solar e “o Museu Nacional Ferroviário tornar-se-ia carbon-positive, gerando mais 310% de energia do que aquela que consome”. Entre poupança energética para o museu e para os parceiros da CER e a venda do excedente de energia, estima-se que os benefícios sejam de 673 mil euros nos próximos 20 a 30 anos.
O museu pretende ainda poupar no combustível através de uma melhor gestão da sua frota e reduzir os consumos de água. O projecto prevê “a instalação de dispositivos de elevada eficiência na poupança de água, tais como: torneiras, autoclismos, redutores de pressão e reguladores de caudal”.
No exterior, a poupança de água na rega poderá ser concretizada com a instalação de poliacrilatos de potássio nos solos ajardinados, que promovem a retenção do precioso líquido ao nível das raízes.
O museu quer ainda sensibilizar os funcionários e voluntários para a redução de papel em impressões, melhorar a separação de resíduos e garantir que, a partir de agora, as tradicionais garrafinhas de água em plástico serão substituídas por jarros de vidro, tanto na utilização diária como em eventos internos e externos.
De comboio para o museu
Mas uma das medidas com maior potencial para a promoção da sustentabilidade ambiental é intrínseco ao próprio museu ferroviário e à sua localização. Se há cidade no país bem servida pelo modo ferroviário é o Entroncamento. No entanto, o plano constata que “a maioria dos visitantes opta pelo carro ou pelo autocarro, no caso dos grupos, para a deslocação para o museu”.
Ora, as suas instalações – distribuídas por três edifícios numa área de 4,5 hectares – ficam na própria estação do Entroncamento, onde param diariamente cerca de 80 comboios. Só desde Lisboa há 37 comboios em cada sentido, com preços que variam dos 8,80 aos 18,10 euros e tempos de percurso que oscilam entre os 53 minutos (desde o Oriente) a 1h27. E tem comboios directos (ou, na maioria dos casos, com um simples transbordo) desde Valença, Braga, Guimarães e Porto até Faro, além do eixo da Beira Baixa (Castelo Branco, Covilhã e Guarda).
Para uma família, que melhor modo de transporte do que o comboio para ir visitar um museu ferroviário? Quantas toneladas de emissões de gases com efeito de estufa se evitariam com a opção pelo comboio em detrimento do carro e do autocarro na visita ao museu?
O Plano de Sustentabilidade refere que “a Fundação Museu Nacional Ferroviário tem um protocolo de parceria com a CP para a compra de bilhete integrado Museu + Viagem de Comboio”, mas o mesmo não tem sido devidamente promovido pelas partes, apesar de ser uma área em que os ganhos ambientais são mais significativos.
Por outro lado, nas visitas escolares continua-se a privilegiar o autocarro, havendo ainda um trabalho a fazer para que os grupos de alunos e professores se desloquem em comboio através de um tarifário mais competitivo.
O Museu Nacional Ferroviário conta com uma extensa colecção de locomotivas, carruagens, salões, vagões, entre outros objectos relacionados com os caminhos-de-ferro, como equipamentos de via e catenária, equipamentos de comunicação, equipamento de oficina, informação, segurança e sinalização, equipamento de saúde, tarifários e bilhética, equipamentos de restauração, entre outros.
Não é um simples depósito de peças antigas. É dinâmico, interactivo e faz uma boa contextualização da história do caminho-de-ferro em Portugal. Entre as peças mais significativas encontram-se o Comboio Real e o Comboio Presidencial.