No título do Benfica nem todos foram úteis

Entre contratações falhadas e jogadores que foram menos utilizados do que possivelmente mereciam existe um lote de campeões pouco úteis no sucesso do Benfica.

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Guedes (à direita) foi um dos que participou menos do que se esperava no título do Benfica Reuters/PEDRO NUNES
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O Benfica conquistou neste domingo o campeonato nacional de futebol e seguem-se, portanto, os destaques a quem mais contribuiu para o sucesso.

E quem não contribuiu muito? E quem contribuiu negativamente? Também os há.

Draxler: o dinheiro mal gasto

O Benfica até pode não estar a pagar o salário total de Julian Draxler, mas o dinheiro investido para ter o craque alemão foi, em suma, deitado ao lixo.

O estatuto do jogador foi inversamente proporcional ao rendimento e a contribuição de Draxler, pouco relevante no campo, torna-se contribuição negativa caso esse dinheiro tenha deixado de ser gasto noutro jogador. E é provável que assim tenha sido.

Jogar no Totobola à segunda-feira é mais fácil, diz a sabedoria popular, mas a premissa não invalida que os sinais de alerta em torno do alemão tenham sido ignorados.

Poderia ter corrido bem, mas correu francamente mal - para o jogador, que falhou a ida ao Mundial, e para o Benfica, que não teve o craque de nível global que esperava ter tido.

Gilberto: não era suposto ter ficado só a ver

Um jogador lesiona-se e o treinador tem duas opções: recorrer ao suplente óbvio, apostando num jogador dessa posição, ou adaptar um atleta que nunca actuou ali.

Se esse treinador se decide pela segunda opção, sobretudo adaptando um jogador relevante na sua função habitual, então algo de muito estranho se passa com o tal suplente.

Esta é a história de Bah, Roger Schmidt, Gilberto e Aursnes.

O dinamarquês lesionou-se e o alemão preferiu recorrer ao norueguês, o seu mais-que-tudo, e deixar de lado o brasileiro, em quem arriscou inicialmente, mas de quem abdicou quando o Benfica teve de mostrar do que era feito.

Gilberto, até pelos minutos jogados na temporada anterior, era alguém que teria de se chegar à frente quando Bah fosse forçado a chegar-se atrás. Mas Schmidt quis Aursnes, o homem que tudo faz, e Gilberto ficou a ver. Foi curto.

Ristic: soube a pouco

Ristic é um dos casos mais curiosos da época de futebol português. Contratado para ser uma alternativa a Grimaldo, o estatuto de internacional sérvio, conjugado com predicados conhecidos que trazia de França, faziam do lateral-esquerdo um suplente de luxo. Mas não foi.

Aquele que poderia ser um mero caso de irrelevância na equipa torna-se um caso intrigante de falta de aposta, já que deixou excelentes indicações quando foi chamado a jogar - qualidade ao nível do cruzamento, do remate (marcou um golaço ao Estoril) e até técnica para desequilibrar pela via individual.

Deu pouco, mas fica a ideia de que, com maior predisposição de Schmidt para a rotatividade, poderia ter dado bastante mais.

Resta saber se Schmidt “amava” Grimaldo em demasia e Ristic pode ser o novo “amor” ou se era apenas falta de confiança no sérvio - e se assim for, não é a saída do espanhol que vai tornar Ristic mais relevante na próxima temporada.

Schjelderup e Tengstedt: frios como a Escandinávia

Se alguém esperava que dois jovens talentosos vindos da Escandinávia pudessem oferecer alguma rotatividade a partir de Janeiro, a par de Gonçalo Guedes, enganou-se redondamente. O que equivale a dizer que boa parte do país se enganou.

O que se disse e escreveu sobre Tengstedt e Schjelderup ficou-se pela quimera e nenhum dos atacantes contratados no Inverno teve um papel relevante.

Por dificuldades na adaptação ou por parca disponibilidade de Schmidt para dar oportunidades - ou ambas as coisas -, o dinamarquês e o norueguês são apenas projectos de algo que está por vir.

Com Benfica campeão podemos dizer que não fizeram falta, mas essa visão iria escamotear o redondo falhanço de dois reforços que nem na equipa B foram diferenciadores.

Guedes: ele saiu da frente

O que se espera de reforços de Inverno, sobretudo os emprestados por seis meses, é que tenham impacto imediato na equipa - sobretudo se forem jogadores de nível europeu.

Se adicionarmos uma camada - a de ser alguém português e já conhecedor do campeonato e do clube -, então a exigência é ainda maior. Seria, em tese, um reforço perfeito para um final de temporada com exigências em várias frentes.

Gonçalo Guedes era isto tudo, mas não foi nada disto. O atacante português, condicionado por uma lesão, teve um papel quase irrelevante no título do Benfica e se Schmidt já era pouco dado a rotações, menos terá ficado quando soube que não haveria Guedes.

Com Guedes, o défice físico na fase decisiva da temporada, com queda Champions e agonia temporária no campeonato, poderia ter sido evitado? Nunca saberemos, mas não é difícil presumir que sim.

Avançados: os golos já estavam atribuídos

Nesta temporada, o Benfica entregou-se a Gonçalo Ramos em matéria de presença na área. Schmidt raramente cedeu a colocar dois avançados, mesmo em ocasiões que justificavam ataque massivo à área adversária.

A aposta, que acabou por correr bem, deixou “fora de jogo” Yaremchuk, que saiu em Agosto, Rodrigo Pinho, que saiu em Janeiro e Henrique Araújo, que também saiu no mercado de Inverno.

Depois, há o caso de Musa. Um pouco como Ristic, o avançado croata pareceu ter justificado mais do que aquilo que recebeu de Schmidt.

Mostrou qualidade a jogar em apoios frontais, “selando” e arrastando defensores, evidenciou algum faro de golo em finalizações na área e deu a dimensão física e aérea que o Benfica muitas vezes procurou de forma estéril sem o ter em campo - e outras em que não procurou, mas a falta de ideias em ataque posicional recomendaria essa procura.

Em suma, Musa mostrou qualidade e marcou golos, motivo pelo qual é o jogador deste artigo que menos se enquadra no conceito de baixa utilidade. Ainda assim, deve ser considerado não pela parca ajuda, porque chegou a dá-la, mas pela ajuda que parece ter sido inferior ao que poderia ter sido - e não por culpa própria.

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