As figuras do título do Benfica
A análise aos seis jogadores mais determinantes no campeonato conquistado pelo Benfica.
Para ser campeão, o Benfica utilizou, até ver, 32 jogadores na I Liga. Há um “fosso” claro entre o 14.º e 15.º mais utilizados, provando que Roger Schmidt selou um grupo curto para atacar o título e só em casos pontuais recorreu à extensão total do plantel.
Mas mesmo dentro dos 14 mais utilizados houve uns mais do que outros. E não falamos só de minutos, mas de influência.
Enzo Fernández
Sim, só jogou 29 jogos. Sim, só jogou até Janeiro. Sim, foi embora sem poder participar na fase decisiva da temporada. Mas o jogador argentino foi a peça central da forma como o Benfica construiu uma vantagem que acabou por ser decisiva na fase em que quebrou de rendimento.
Sem Enzo, a equipa jogou pior. Sem Enzo, a equipa perdeu mais. Sem Enzo, o treinador teve de “inventar” soluções – Chiquinho, João Neves, Aursnes, João Mário e até Paulo Bernardo passaram pela posição 8.
E se o que fica do título do Benfica é o nível de jogo altíssimo visto até Dezembro, então Enzo Fernández é uma das grandes figuras desta conquista.
Grimaldo
O lateral fez, possivelmente, a melhor temporada pelo Benfica. Mesmo com Ristic a dar boas indicações nos poucos minutos que fez, o espanhol foi a primeira, segunda e terceira opções para a posição. Foi ele e sempre ele. E fez por isso.
Foram oito golos e 14 assistências, mas, acima disso, uma influência tremenda no futebol ofensivo de uma equipa que jogou quase sempre sem um ala-esquerdo de corredor e, portanto, necessitada de um lateral capaz de oferecer algo diferenciado.
Por dentro, por fora, em cruzamento, em passe, em remate ou em bolas paradas, Grimaldo fez tudo. E o título é muito dele.
Gonçalo Ramos
Não é o avançado mais participativo no jogo e não foi a ele que o Benfica recorreu quando não sabia a quem dar a bola. Mas não era para isso que Schmidt o queria.
Nesta temporada, Ramos tornou-se um ponta-de-lança, mais do que um avançado – saiu menos da área e “cheirou” mais o golo, com presença nas zonas de finalização. E finalizou.
Até ver, foram 27 golos, muitos deles em momentos de “desbloqueio” de jogos – e esses golos não valem o mesmo do que os outros.
Aursnes
Quando foi contratado, o médio norueguês chegou como um médio-defensivo para jogar na posição 6. Talvez pudesse ser opção também a 8, em caso de necessidade. Certo? Errado.
Roger Schmidt viu Aursnes como ala-esquerdo, como segundo avançado, como ala-direito e como lateral-direito. Como 6 jogou pouco e como 8 foi ainda mais raro.
Em suma: Aursnes jogou em seis das 11 posições do campo e é difícil dizer que não cumpriu em todas elas.
Tornou-se o jogador do ataque que permitia à equipa defender mais alto e, com bola, demonstrou predicados inesperados. Terá havido melhor reforço na Liga portuguesa?
João Mário
Aos 30 anos, João Mário foi alguém que nunca tinha sido. Nunca foi finalizador, mas afinal é. Nunca teve especial “faro” para as zonas certas de finalização, mas afinal tem. Nunca foi intenso sem bola, mas afinal consegue ser.
Schmidt construiu um plano colectivo perfeito para João Mário, que, mesmo com alguns golos de penálti, teve um impacto considerável no capítulo da finalização, com 23 golos marcados. Quem diria que o elogio a João Mário no final de uma temporada passaria mais pelos golos do que pelo passe?
António Silva
É difícil dizer que algum jogador dos 11 mais utilizados teve uma temporada fraca. Bah, Otamendi, Florentino, Neres e Vlachodimos foram importantes, mas António Silva, pelo que fez num momento de problemas na defesa, tem um patamar só seu.
O jovem central começou a temporada na equipa B e, apesar de um erro aos sete minutos do primeiro jogo na I Liga, no Bessa, mostrou personalidade para arrancar um desempenho de alto nível nessa partida. E nas seguintes – mesmo com avançados de topo mundial pela frente.
Foi tendo algumas falhas sobretudo quando analisava mal o momento de jogar em antecipação, mas, em geral, fez uma temporada tremenda, com qualidade no jogo aéreo, no desarme, na velocidade, no controlo do espaço e até na construção – arrisca bastante e foi quase sempre feliz nisso.