Maestro Gustavo Dudamel deixa abruptamente a Ópera de Paris
Com quatro anos de mandato ainda por cumprir, diz que sai para passar mais tempo com a família. Mas já antes anunciara que vai dirigir a Filarmónica de Nova Iorque a partir de 2026.
O maestro venezuelano Gustavo Dudamel demitiu-se da direcção musical da Ópera Nacional de Paris, que esta quinta-feira divulgou um comunicado a confirmar a sua saída “por razões pessoais”.
Dudamel é um dos mais requisitados maestros actuais e tinha ainda quatro anos de contrato para cumprir na Ópera de Paris, cuja direcção assumira em Agosto de 2021.
Com 42 anos, o maestro dirige também desde 2009 a Orquestra Filarmónica de Los Angeles, que já anunciou ir deixar para assumir a direcção musical e artística da Orquestra Filarmónica de Nova Iorque a partir de 2026, quando expiraria o contrato que até agora mantinha com a Ópera de Paris.
“É de coração pesado e após longa reflexão que anuncio a minha demissão”, afirmou Gustavo Dudamel, garantindo: “Não tenho outro plano que não seja estar com os meus entes queridos, a quem estou profundamente grato por me ajudarem a persistir na minha determinação de crescer e de me manter motivado, pessoal e artisticamente, todos os dias da minha vida”.
Num curto comunicado, o director-geral da Ópera Nacional de Paris, Alexander Neef, disse respeitar inteiramente a decisão de Dudamel, felicitou-o pela “relação especial” que soube forjar com os músicos, cantores e restante equipa da orquestra, e assegurou-lhe a sua “profunda gratidão” pelo trabalho desenvolvido nestes dois anos.
Segundo o jornal New York Times, a Ópera de Paris e Dudamel estarão ainda a discutir como resolver os vários compromissos que o maestro já assumira para a temporada 2023-2024, incluindo a direcção de uma nova produção da ópera Lohengrin, de Wagner, e a estreia parisiense da ópera The Exterminating Angel, do compositor contemporâneo inglês Thomas Adès.
Esta inesperada saída a menos de meio do mandato levanta a possibilidade de que Dudamel pretenda antecipar um envolvimento mais forte com a Filarmónica de Nova Iorque ainda antes de assumir a respectiva direcção. A presidente da filarmónica, Deborah Borda, muito próxima de Dudamel, reconhece ter a expectativa de que esta decisão do maestro venezuelano lhe permita “passar mais tempo” com a orquestra nova-iorquina a partir da próxima temporada, mas garante que nada foi ainda discutido.
“É muito claro que ele não quer tomar essa decisão agora”, disse Borda, que já há alguns meses, quando foi divulgado o futuro compromisso de Dudamel com a Filarmónica de Nova Iorque, procurara afastar a ideia de que o maestro se preparava para reduzir a sua presença na Europa, explicando que este percebera, durante a pandemia, que queria passar mais tempo com a família, actualmente radicada em Espanha, onde vivem a sua mulher, o seu filho de 12 anos, os seus pais e a sua avó.
“Não duvido de que vá receber algumas críticas”, afirmou Deborah Borda ao New York Times a propósito desta decisão de Dudamel, “mas creio que foi um passo arrojado e importante”.