Ilhas Canárias pedem mais autonomia para enfrentar “apocalipse climático”

O arquipélago espanhol das Canárias pode perder metade das praias e 10% das habitações locais se as tendências actuais da crise climática se mantiverem, alerta o programa europeu Copérnico.

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Crise climática pode levar o arquipélago das Canárias a perder metade das praias e 10% das habitações locais Programa Copérnico/DR
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Caso a tendência actual de mudança climática se mantenha, o arquipélago espanhol das Canárias pode perder metade das praias e 10% das habitações locais. Este possível cenário, descrito como um “apocalipse climático” pelo programa europeu Copérnico, está a levar a administração local a pedir maior autonomia para enfrentar os desafios colocados pela crise do clima.

“Face a estes desafios, a administração local apela a um maior controlo sobre a governação e os processos de decisão das ilhas [Canárias]. Argumenta-se que o aumento da autonomia daria as ferramentas e os recursos necessários para colocar em prática medidas eficazes para mitigar os efeitos da mudança climática e salvaguardar o futuro das comunidades locais”, lê-se numa nota divulgada esta quinta-feira pelo Copérnico, um serviço europeu dedicado à observação da Terra e à monitorização de riscos e fenómenos naturais.

No comunicado que divulga “a imagem do dia”, o programa Copérnico destaca uma imagem das Canárias registada por um dos satélites Sentinela-2 no dia 30 de Abril de 2023. O arquipélago espanhol, localizado na costa noroeste da África, abriga ecossistemas únicos agora ameaçados pelas “terríveis consequências das mudanças climáticas, incluindo o aumento do nível médio do mar, fenómenos climáticos extremos e a possível deslocação da população local”.

Seca também é um desafio

Um artigo científico, publicado há cerca de um mês na revista npj Climate and Atmospheric Science, que integra o grupo editorial Nature, indicava que os modelos climáticos disponíveis hoje projectam ainda um aumento da seca em muitas regiões em resposta às concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera, sendo o arquipélago das Canárias uma delas.

“Em áreas com topografia complexa, como as ilhas Canárias, os gradientes de elevação podem desempenhar um papel importante nas mudanças futuras”, refere o estudo, cuja primeira autora é Judit Carillo, investigadora na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

Segundo os autores, “um aumento significativo na duração e severidade da seca é projectado até o final do século XXI (2070-2099), em relação ao passado recente (1980-2009), em cenários de emissões intermediárias e altas”.

Além disso, de acordo com o mesmo estudo, a percentagem de terras afectadas por episódios de seca hidrológica, em média, aumentaria substancialmente. Calcula-se que tal aumento poderia mesmo chegar a 96% nas cotas mais altas, num cenário de manutenção das emissões.

Um estudo anterior de Judit Carrillo, publicado no ano passado, já explorava as consequências da crise climática para aquele que é um dos principais destinos turísticos da Espanha. Considerando que as ilhas espanholas dependem significativamente do turismo, a escassez de água traria uma camada extra de complexidade aos desafios já colocados pela subida do nível médio do mar, pela erosão da costa e pela consequente perda de território.