Segunda rede de compra de votos desmantelada em Espanha, a dias das eleições

Dois candidatos do PSOE foram detidos em Mojácar, enquanto em Melilla estão envolvidos membros do partido que governa esta cidade autónoma e pelo menos dois suspeitos de comprarem votos para o PP.

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O ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, garantiu que “não vai haver nenhum tipo de fraude” em Melilla JOHANNA GERON/Reuters
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Um dia depois da detenção de dez pessoas no enclave espanhol de Melilla por delito eleitoral e pertença a organização criminosa, a Guardia Civil deteve esta quarta-feira seis pessoas por alegada compra de votos por correspondência para as eleições municipais e autonómicas do próximo domingo – a segunda operação, sem ligações à de Melilla, decorre no município de Mojácar, na província de Almería. Dois dos detidos em Mojácar são candidatos do Partido Socialista – um deles é o número dois da lista, o empresário Francisco Bartolomé Flores.

Flores foi suspenso pelo PSOE, assim que foi tornado público o seu envolvimento, ainda antes da detenção. O segundo candidato, em quinto lugar na lista socialista, é o também empresário Eduardo de Castro González, um independente. O PSOE andaluz sugeriu que o partido lhe pedirá que renuncie, caso seja eleito, mas responsáveis da direcção nacional citados pelas agências de notícias espanholas afirmam que “se [os detidos] chegassem à câmara, não formariam parte do grupo municipal socialista”.

A operação em Mojácar continua e pode haver novas detenções no decorrer de uma investigação inicialmente desencadeada pela denúncia de uma pessoa que foi afectada pelo esquema. Citados pelo diário El País, responsáveis da Guardia Civil descrevem um “puro caso de compra de votos” que afectou “um número indeterminado de votos”.

Este município do Sul de Espanha é governado pelo Partido Popular, que saiu das eleições municipais de 2019 com maioria absoluta.

Antes de Mojácar – e mesmo das detenções de terça-feira em Melilla – o caso de fraude eleitoral neste território espanhol do Norte de África já abria noticiários desde o inicio da campanha. Este caso envolve directamente o governo da cidade autónoma, presidido por Eduardo de Castro González, eleito pela Coligação por Melilla (CPM, partido influente junto da comunidade muçulmana). Um dos detidos é Mohamed Ahmed al-Ial, vereador de Distritos, Juventude e Participação Cidadã, deputado da assembleia municipal e número três das listas do partido. González retirou já a vereação a Al-Ial, mas o envolvimento do CPM não fica por aqui. Entre os restantes detidos está o genro do presidente do partido, Mustafa Aberchán, assim como um irmão desse seu familiar. Os outros detidos serão pessoas conhecidas por tráfico de haxixe e outros delitos comuns. Todos ficaram em liberdade depois de prestarem declarações.

A rede começava por convencer cidadãos com poucos recursos a solicitar o boletim de voto por correio (a única altura em que o eleitor tem de se identificar é quando recebe o boletim) depois de ter vendido cada um desses votos aos vários partidos. Em troca do boletim, estas pessoas recebiam entre 50 e 200 euros.

Em Melilla foi o número de pedidos para votos por correspondência, muito superior ao habitual, que levantou suspeitas. A polícia acredita que dos 11.707 boletins solicitados por correio, cerca de 10 mil estavam nas mãos dos autores do esquema – a nível nacional, a média de votos por correspondência está nos 2%; estes pedidos correspondiam a quase 20%, num universo eleitoral de 55 mil pessoas.

Segundo fontes da investigação citadas pela televisão laSexta, dois dos acusados, que angariariam votos para o PP, tentaram fugir no momento da detenção.

O ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, garantiu que “não vai haver nenhum tipo de fraude” em Melilla, já que, em casos como este, são “adoptadas as medidas necessárias” para assegurar “uma democracia plena”.

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