Primeiro-ministro russo e Xi Jinping promovem “união” que pode “mover montanhas”
Presidente chinês recebeu Mishustin em Pequim e defendeu reforço da cooperação entre China e Rússia. Aliados almejam alcançar 200 mil milhões de dólares em comércio bilateral até ao final do ano.
Poucos dias depois de os líderes políticos dos principais países do Ocidente terem estado reunidos no vizinho Japão, no âmbito da cimeira do G7, e defendido uma estratégia de minimização do risco de dependência económica da República Popular da China, o Governo chinês e o seu Presidente receberam o primeiro-ministro russo com pompa e circunstância, na terça e na quarta-feira, em Xangai e em Pequim.
Com a visita às duas principais cidades chinesas, onde se reuniu com o Presidente Xi Jinping e com Li Qiang, seu homólogo, Mikhail Mishustin tornou-se o político russo mais importante a pisar território chinês desde a invasão da Ucrânia e desde que Vladimir Putin esteve em Pequim, poucas semanas antes do início da guerra, em Fevereiro do ano passado.
Alheios à desconfiança ocidental com a sua “parceria sem limites” e com a recusa chinesa em condenar a Federação Russa pela invasão do vizinho ucraniano, Xi, Li e Mishustin congratularam-se com o momento “sem precedentes” das relações bilaterais e comprometeram-se a aprofundar ainda mais a sua cooperação, segundo todas as declarações que lhes foram atribuídas pelos media estatais dos dois países.
“Temos a esperança de que as duas partes continuem a tirar partido do (…) excelente momento da cooperação sino-russa, a elevar a cooperação em vários sectores (…) e a enriquecer, de forma continuada, o conteúdo da parceria cooperativa estratégica abrangente entre os dois países para a nova era”, disse o Presidente chinês ao primeiro-ministro russo nesta quarta-feira, de acordo com a agência noticiosa Xinhua.
“A China está pronta para trabalhar com a Rússia e com países da União Económica Euro-asiática para promover e conectar a Belt and Road Initiative [a designação oficial chinesa para o projecto económico da Nova Rota da Seda], de forma a desenvolver e a estabelecer um mercado regional ainda maior [e] a garantir uma cadeia de abastecimento global mais estável e robusta, para que possamos obter vantagens reais e tangíveis para os países da região”, acrescentou Xi.
Em resposta, Mishustin – um dirigente alinhado com a política de Putin e totalmente dependente da sua linha de governação – garantiu que a Rússia está “pronta para trabalhar com a China para promover a multi-polarização no mundo” e para “consolidar a ordem internacional baseada no direito internacional”.
“Turbulência” internacional
Na véspera, numa reunião com Li Qiang, mesmo sem fazer qualquer referência à invasão – que Moscovo descreve como uma “operação militar especial” para “desnazificar” a Ucrânia – o primeiro-ministro russo elogiou a posição chinesa sobre a actual situação internacional.
“[As relações entre a China e a Rússia] caracterizam-se pelo respeito mútuo pelos interesses uma da outra e pelo desejo de responderem, em conjunto, aos desafios, que estão associados à crescente turbulência na arena internacional e à pressão das sanções ilegítimas do conjunto do Ocidente”, declarou. “E, tal como dizem os nossos amigos chineses: a união torna possível mover montanhas.”
Mesmo declarando-se neutral no conflito entre russos e ucranianos e defendendo o seu potencial papel de mediador – apresentou um plano de paz genérico e vago, que não distingue país invadido de país invasor e que não estabelece condições prévias para hipotéticas negociações de paz –, o Governo chinês aprofundou significativamente as relações comerciais, diplomáticas, energéticas e até militares com o Kremlin desde a invasão.
Citado pela Sputnik, Mikhail Mishustin disse a um grupo de empresários chineses reunidos em Xangai, na terça-feira, que 70% das trocas comerciais entre os dois países já são feitas em rublos ou yuans e revelou que está previsto um aumento de 40% das exportações russas para a China no sector energético.
Para além disso, o primeiro-ministro russo disse que os governos dos dois Estados estão confiantes de que será possível atingir a meta dos 200 mil milhões de dólares (cerca de 186 mil milhões de euros) em volume total de comércio bilateral até ao final deste ano – ultrapassando os mais 190 mil milhões de dólares registados em 2022, que já tinham sido um recorde anual.