Conversas em vez de cliques. Chatbot da Microsoft vai ser padrão no Windows

A Microsoft vê novos sistemas de IA generativos (”chatbots inteligentes”) como o próximo padrão para interagir com máquinas. Na conferência Build 2023, apresentou-se como uma base do ecossistema.

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Satya Nadella, presidente executivo da Microsoft DR
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Dentro de alguns dias, um chatbot da Microsoft vai começar a aparecer em todos os computadores com Windows 11 como um co-piloto para ajudar os utilizadores a navegar diferentes programas e apps com conversas em vez de apenas cliques. A chegada do Copilot foi partilhada no arranque do Build 2023, a conferência anual da Microsoft em Seattle, nos EUA, dirigida a programadores, que arrancou esta terça-feira.

A tecnológica norte-americana, que é uma das grandes financiadoras do ChatGPT, também anunciou ferramentas que ajudam empresas e programadores que queiram criar os seus próprios “co-pilotos”, uma espécie de chatbots que usam IA e grandes modelos linguísticos para ajudar pessoas a realizar tarefas cognitivas complexas. Por exemplo, resumir textos, escrever documentos legais e editar vídeos.

"Isto é sobre criar oportunidades para os programadores chegarem aos consumidores", salientou em palco o presidente executivo da Microsoft, Satya Nadella, que acredita que o mundo está num ponto de viragem tecnológica. A Microsoft vê os novos sistemas de IA generativos (os chamados "chatbots inteligentes”) como o próximo padrão para interagir com máquinas.

"Sempre gostei da frase de [Steve] Jobs sobre como os computadores são como bicicletas para a mente. É uma metáfora maravilhosa", reflectiu. "Mas em Novembro, com o lançamento do ChatGPT, fomos de bicicletas para máquinas a vapor", continuou. "Há a sensação de que há algo grande que está a mudar à nossa volta​."

Microsoft quer estar na base do ecossistema

Desde o lançamento do ChatGPT, da OpenAI, a tecnologia que permite a programas informáticos falar e responder como se fossem humanos tem despertado muita atenção. A base são os Transformers, modelos linguísticos criados para encontrar padrões em enormes sequências de dados e aprender qual é a melhor forma de completar diferentes padrões.

A Microsoft tem aproveitado o interesse para lançar várias ferramentas de IA, incluindo o seu próprio chatbot, em Fevereiro. Agora, a versão paga do ChatGPT, a ferramenta que popularizou a tecnologia de IA generativa no final de 2022, vai passar a usar o motor de busca da Microsoft, o Bing. Com isto, as respostas do ChatGPT deixam de estar limitadas a uma base de dados do final de 2021 e passam a incluir informação da Internet, tal como o rival Bard, da Google.

No entanto, a empresa não é a única a investir na área. No começo de Maio, a Google anunciou que está a trabalhar no seu próprio modelo de linhagem generativa, o PaLM 2, que é leve o suficiente para funcionar em smartphones. O modelo está integrado no chatbot da Google, o Bard, que está disponível nos EUA desde Março mas ainda não chegou a Portugal. Do outro lado do oceano Pacífico, as chinesas Alibaba e Baidu também lançaram os seus próprios chatbots.

O foco da Microsoft, porém, tem sido criar formas de outras empresas e organizações criarem os seus próprios chatbots. A tecnológica quer disponibilizar plugins (‘extras’ que são adicionados a programas para expandir as suas capacidades) compatíveis com diferentes produtos e serviços. Desta forma, qualquer empresa pode criar um assistente, mesmo que não tenha especialistas de IA ou capacidade para treinar grandes modelos de linguagem. A tecnologia Microsoft fica na base do ecossistema.

“Isto abre uma nova forma de entender a IA que se assemelha mais a um co-piloto que nos pode ajudar a raciocinar em qualquer tarefa cognitiva, para nos apoiar na nossa vida quotidiana, para nos tornar mais produtivos no trabalho, ou mesmo para fazer avançar a descoberta científica em áreas como a sustentabilidade, o abastecimento alimentar ou a descoberta de medicamentos”, defendeu ao PÚBLICO David Carmona, responsável pelo departamento de inovação e IA da Microsoft, que veio a Portugal no começo do mês para falar no congresso anual da APDC, associação que reúne empresas de comunicações e tecnologia no país.

“O poder destes modelos vai para além da simples correspondência estatística de padrões. Podem raciocinar em cima de grandes quantidades de dados e podem ser personalizados utilizando linguagem natural, tornando-os flexíveis e acessíveis a todos”, continuou Carmona.

Manipulações assinadas

O rápido desenvolvimento da tecnologia vem, no entanto, acompanhado de preocupações sobre o uso da tecnologia para promover burlas e disseminar notícias falsas, por exemplo através de imagens ou vídeos fabricados (os chamados deepfakes). Na mais recente cimeira do G7, os líderes das sete economias mais ricas do mundo discutiram o tema da inteligência artificial, concordando que é preciso fazer alguma coisa em relação aos potenciais riscos da tecnologia.

Há anos que os legisladores europeus estão a tentar definir uma abordagem de risco, com diferentes regras consoante o risco societal que as ferramentas de inteligência artificial representam.

A Microsoft destaca que está consciente dos problemas associados a sistemas de inteligência artificial generativa. Esta terça-feira, a empresa anunciou ferramentas para o criador de imagens do Bing e o Microsoft Designer que permitem aos utilizadores assinar imagens e vídeos criados com inteligência artificial. O sistema depende de métodos de criptografia que permitem marcar conteúdo com metadados das imagens originais (por exemplo, a localização, tamanho, qualidade, e data de criação das imagens originais).

“Mesmo que tenhamos razões para estarmos entusiasmados com as possibilidades desta nova era da IA, é importante reconhecer que também existem riscos associados a estas tecnologias”, acentuou David Carmona, em resposta a questões do PÚBLICO. “Acreditamos que o desenvolvimento e a implantação da IA devem ser orientados pela criação de um quadro responsável, que aborde os desafios da IA.”

A conferência Build, da Microsoft, que se foca em ferramentas e workshops para programadores, decorre até dia 25 de Maio, nos EUA. Ao todo, a Microsoft planeia anunciar mais de 50 novos produtos e funcionalidades. O chatbot (Copilot) da Microsoft chega aos sistemas Windows 11 a partir de Junho.

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