Neste curso de defesa pessoal, aprende-se a surpreender atacantes. Eis algumas técnicas

Saber onde atacar o agressor (sem precisar de ter força) ou deitá-lo ao chão são alguns dos exercícios. Quanto mais baixa for a vítima, maior será o impacto da queda do possível atacante.

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Neste curso de defesa pessoal, aprende-se a surpreender atacantes. Eis algumas técnicas Teresa Pacheco Miranda
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Ricardo Macedo, professor de artes marciais, chega ao Centro de Desporto da Universidade do Porto (CDUP) para mais uma aula de defesa pessoal, mas desta vez, só as mulheres podem participar. “A aula começa às 18h. Vou só trocar de roupa e depois vamos para a sala”, diz depois de passar o cartão para entrar no interior do ginásio.

O curso começou há cerca de três anos, depois uma conversa entre colegas de trabalho num convívio de fim de ano. Nesse dia, recorda Ricardo, alguém comentava que a zona de Paranhos estava a ficar perigosa. Nunca fizeram aulas de defesa pessoal?”, perguntou.

Inicialmente, a ideia era que as aulas fossem apenas para os funcionários da universidade (tanto homens como mulheres), mas, aos poucos, foi-se alargando ao resto da comunidade académica e não só. De vez em quando, fazem-se aulas só para mulheres — e, apesar de Ricardo não concordar com a separação, respeita a decisão. “As necessidades dos homens que fazem defesa pessoal são as mesmas do que as das mulheres, só que temos a ideia de que se é homem então é teoricamente mais forte e não é”, defende.

As arquitectas Diana Maudslay, Sara Walton e Maria João Marques são apenas três das quase 20 participantes que, aos poucos, vão entrando numa das salas de ginástica do edifício da rua da Boa Hora, no Porto. Nunca foram assaltadas nem agredidas, mas querem estar prevenidas e familiarizadas com as artes marciais.

“O conselho mais básico que um instrutor de defesa pessoal diz é para a pessoa fugir se conseguir, porque é a realidade”, explica Ricardo. No entanto, também há técnicas que nos preparam mentalmente para anteciparmos situações de perigo e sabermos como reagir. É isto que as alunas vão aprender em quatro aulas.

Quando imaginamos estes casos, destaca o professor, assumimos sempre que “o agressor é sempre mais alto, mais forte e mais pesado” do que a vítima. No entanto, isto não quer dizer que sejam factores negativos, porque, na realidade, não é preciso ter força para sair da situação.

“A utilização de força aplicada vai ser uma conjunção de desequilíbrios. Tem que ver com aproveitar não o grupo muscular como, por exemplo dar um murro no braço, mas mexer o corpo todo e manter a potência sobre o impacto. Quando a vítima é alguém mais baixo, não vai ter força para conseguir segurar o agressor, portanto o impacto vai ser maior.”

Agarrar o pulso

Diana Maudslay, que é mais baixa do que Ricardo Macedo, exemplifica a descrição que o instrutor acabou de fazer. Neste exercício, o atacante está a agarrar o pulso de Diana bloqueando-lhe o movimento do braço para o lado direito.

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Ao rodar o braço para a esquerda, a vítima impede o agressor de mover o pulso Teresa Pacheco Miranda

Para o afastar, a jovem roda o braço para o lado esquerdo e, de seguida, roda o corpo para se libertar. “Não faças força. Avança a perna de trás”, diz Ricardo. Com este último movimento, o corpo da aluna exerce força sobre o pulso do professor que acaba sem o conseguir mover. De seguida, dá-lhe um empurrão nas costas.

Atacar a cara

Maria João Marques é a próxima a simular uma situação de perigo. “Avança directamente para mim, põe as mãos no queixo e empurra de baixo para cima”, explica Ricardo.

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O ataque deve ser imprevisível e o atacante não está à espera de ser agredido na cara Teresa Pacheco Miranda

A aluna está a empurrar a cabeça do instrutor para trás, mas há mais uma técnica que pode aplicar: “Em teoria também podemos pôr o dedo no olho e empurrar o queixo de baixo para cima”, acrescenta.

Segundo o professor, um dos pontos mais importantes na defesa pessoal é a imprevisibilidade. O atacante não está à espera que a vítima reaja e muito menos que o agrida na cara.

Fazer o atacante cair

Em certos casos, os gestos da vítima podem fazer com que passe para a posição de agressor, como é o caso deste exemplo. O instrutor está a ser agarrado no ombro e cintura, o que diminui as opções de ataque.

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Quando não é possível mexer os braços, o professor aconselha a usar as pernas para fazer o agressor cair Teresa Pacheco Miranda

Aqui, a alternativa é aproveitar o espaço que existe entre as pernas do atacante para o desequilibrar e deitar ao chão. Nesta situação, reforça o professor, o impacto será maior quanto mais baixa for a vítima.

Agarrar o pescoço

“O que vais fazer agora é o seguinte: pões a mão no meu braço, vais tentar rodar a cabeça e esconder o queixo. A mão esquerda entra por baixo do cotovelo, sais e empurras-me.”

Neste exemplo, ao empurrar o braço com a mão, Sara Walton abre espaço para a cabeça passar. A arquitecta roda o corpo e empurra o professor com a mão ou, se for mais fácil no momento do ataque, dá-lhe um pontapé.

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Aqui, a aluna empurra o braço do professor para conseguir passar a cabeça por baixo Teresa Pacheco Miranda

Roubar a mochila

O que se pode fazer quando o assaltante quer roubar uma mochila, carteira ou telemóvel? Neste caso, a mochila está apenas pendurara num dos ombros de Diana e o facto de o atacante surgir por trás, diminui a rapidez da vítima em agir.

Desta fora, afirma o professor, a melhor forma de oferecer resistência é enganar o agressor. Esta pessoa vai pensar que Diana vai puxar a mochila para si, e, por isso, Ricardo aconselha a fazer o oposto. A rapariga finge que lhe está a dar a mochila e avança sobre ele.

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Neste exercício, a vítima simula que entrega a mochila ao atacante para depois o empurrar Teresa Pacheco Miranda

“Todas estas situações podem e devem ser acompanhadas por um sinal sonoro que assusta”, adianta soltando, de seguida, um grito que apanhou toda a turma de surpresa. “Até vocês saltaram não foi? Isto funciona”, completa.

“Mas isto é quando temos a mochila num ombro. Se tivermos nos dois não vai causar mais desequilíbrio?”, pergunta Diana. A dúvida é testada e a resposta é sim, a pessoa não vai ter tanto equilíbrio porque vai ser puxada para trás, no entanto, a técnica é a mesma.

Primeiro, a pessoa tira a mochila e, quando o agressor pensa que a vai receber, avança para ele. “Ele pode estar com uma faca, mas se estiver não te vai atacar pelas costas, porque vai querer mostrar que tem uma”, completa Ricardo.

E se tiver uma arma?

Quando a agressão envolve facas ou qualquer outra arma, “temos que medir bem a situação”, alerta o instrutor. “Se sentirmos que não temos segurança, a melhor coisa é dar os objectos e tentar negociar sair.”

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Puxar o braço para baixo e atacar a cara afasta a faca Teresa Pacheco Miranda

Contudo, se a pessoa decidir oferecer resistência, pode puxar o braço do atacante para baixo contrariando, desta forma, a ameaça da faca próxima do corpo. E para o afastar empurra as mãos contra o queixo.

Apesar de estes movimentos ajudarem em situações de perigo, Ricardo destaca que o principal é ter calma independentemente das reacções que o corpo vá ter. Contudo, se não estiver ninguém por perto, “a melhor técnica é fugir”, conclui.

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