Partido de Xanana Gusmão vence quintas eleições legislativas de Timor-Leste

Maioria absoluta ainda está ao alcance do Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste, enquanto se apuram os últimos votos.

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Partido de Xanana Gusmão foi o mais votado nas legislativas LUSA/ANTONIO SAMPAIO

O Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), de Xanana Gusmão, venceu as eleições de domingo em Timor-Leste, quando está praticamente concluída a contagem dos votos, faltando definir se obtém maioria absoluta.

A vitória dará ao partido uma ampla representação parlamentar, conseguindo pelo menos 31 dos 65 lugares do parlamento (mais dez do que tem actualmente), segundo os resultados nacionais provisórios do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE).

Neste momento falta apenas concluir o apuramento em três municípios –​ Bobonaro, Covalima e Manatuto –, com a contagem nos três casos já bastante avançada e o CNRT a liderar em todos.

Quando estão contados 92,73% dos centros de votação de todo o país – e se mantém a tendência que ficou praticamente inalterada desde o início da contagem –, o CNRT lidera com 263931 votos e 41,59%, um resultado superior aos votos obtidos pelas três forças políticas que compõem o actual Governo.

Se não chegar à maioria de 33 cadeiras, o CNRT deverá fazer um acordo com o Partido Democrático (PD), o que daria às duas forças políticas uma maioria clara, ainda que matematicamente a maioria absoluta ainda seja possível, tendo em conta os votos que falta contar.

O Partido Democrático (PD) passou de quarta a terceira força política em número de votos, invertendo uma tendência de queda no apoio ao partido que se mantinha desde as eleições de 2007, conseguindo mais uma cadeira para um total de seis. Obteve para já 57721 votos ou 9,09%.

Em segundo lugar, ficou a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que tem actualmente 166147 votos e 26,18%, o que representa perder quatro das suas actuais 23 cadeiras.

Os resultados mostram uma punição aos partidos do Governo, em particular ao Partido Libertação Popular (PLP), do primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, que perde metade dos oito lugares no parlamento, passando de terceira a quinta força política.

Taur Matan Ruak é um dos maiores derrotados da votação de domingo, com os eleitores a fugirem da força política que se estreou como a terceira mais votada em 2017, ficando-se agora pelos 37701 votos e 7,25%.

Também a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), de Mari Alkatiri, foi penalizada, com o partido que viabilizou o executivo desde 2020 a registar a pior percentagem de apoio sempre, com uma queda de cerca de oito pontos percentuais face ao voto que obteve nas antecipadas de 2018.

Finalmente, o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) conseguiu aumentar o seu apoio, para 7,25% e deverá manter os actuais cinco lugares.

Os resultados indiciam uma fuga de voto para os maiores partidos, com o total de boletins em partidos que ficaram abaixo da barreira de elegibilidade (4% dos votos válidos) a representar menos de 10% dos votos totais.

Esse valor é mais baixo do que em 2017, quando chegou aos 14% e em 2012, quando garantiu mais de 23,13%.

O CNRT venceu em toda a diáspora, em nove dos 13 municípios de Timor-Leste já apurados (perdeu apenas para a Fretilin em Baucau e Viqueque) e ainda na Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA), zona que tem sido praticamente sempre administrada por um dirigente da Fretilin.

O parlamento fica agora com apenas cinco bancadas partidárias (eram oito antes do voto de domingo) com apenas duas das restantes 12 forças políticas concorrentes a chegar próximo da barreira de 4% dos votos válidos: o estreante Partido Os Verdes de Timor (PVT) e o Partido Unidade e Desenvolvimento Democrático (PUDD), que tinha um lugar no parlamento.

O sufrágio de domingo foi marcado pelo aumento da participação da diáspora timorense, impulsionada em particular pelos jovens emigrantes que se recensearam no último ano, com valores nunca vistos de adesão ao voto.

Num dos centros de votação no Reino Unido a afluência foi tão elevada que os responsáveis da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e do STAE tiveram de colocar uma segunda urna para receber votos.

Imagens da votação em pontos tão diversos como Melbourne, Seul, Lisboa ou Crewe mostraram grandes filas, com responsáveis eleitorais e diplomatas a referirem o entusiasmo da participação dos eleitores.

A contagem dos votos foi dificultada por problemas de Internet, que atrasou a comunicação dos resultados de alguns municípios para Díli, com críticas à forma como o STAE divulgou os resultados.

Situação que levou mesmo o Presidente timorense, José Ramos-Horta, a afirmar que vai solicitar uma auditoria internacional ao processo de divulgação dos dados eleitorais que, mais de 30 horas depois do fecho das urnas, ainda não eram conhecidos.