Alstom consegue conciliar sistemas de segurança ferroviária português e europeu

Sistema permite uma migração gradual para o mecanismo de segurança europeu uniformizado, conhecido por ECTS.

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Os comboios nacionais utilizam o sistema de segurança Convel desde 1993 Matilde Fieschi
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A Alstom concluiu, no centro de engenharia e inovação da Maia (distrito do Porto), o sistema Convel Dual, que permite compatibilizar os sistemas de segurança ferroviária português (Convel) e europeu (ECTS), disse hoje à Lusa um responsável.

"Apresentámos, há poucas semanas, à IP [Infra-estruturas de Portugal], um produto chamado Convel Dual, que permite combinar os sinais do Convel com um sinal ECTS", disse à Lusa Marcos Pereira, gestor de projecto do Digital e Sistemas Integrados da Alstom.

Em causa está a actual mudança de paradigma para um sistema europeu uniformizado, o ECTS, que é diferente do Convel, desenvolvido para Portugal e utilizado no país desde 1993, e que está actualmente em uso nos comboios nacionais.

Segundo o responsável, este é "mais um passo, um upgrade [melhoria] no sistema existente para permitir, no futuro próximo, aumentar o tráfego e também a possibilidade de circulação de veículos tanto com o sistema Convel como ECTS".

Marcos Pereira sublinhou que a existência deste sistema poderá permitir "uma redução nos custos, porque uma situação é substituir por completo o sistema existente, e outra situação é o que nós propomos, de fazer uma migração gradual".

"Isto seria uma forma de abrir, portanto, a possibilidade de aumentar o número de passageiros como de mercadorias, sem dúvida", já que grande parte dos novos comboios espanhóis, por exemplo, já têm o sistema ECTS instalado.

Segundo Marcos Pereira, o produto já foi apresentado à IP através de "uma demonstração em laboratório do sistema".

"Ficaram convencidos, foi demonstrado que o sistema funcionava, que as balizas [placas na linha que são "marcadas" à passagem dos comboios] podiam ser gravadas com os protocolos tanto de ETCS como de Convel", assegurou.

O responsável da Alstom afirma que o próximo passo será "ir para o terreno" e conseguir uma via de testes junto da IP, para "demonstrar o sistema a funcionar em plena via, com um veículo ou dois equipados com Convel e/ou ETCS".

Inaugurado em Setembro de 2022, o centro de engenharia e inovação da multinacional francesa Alstom na Maia emprega 25 pessoas e tem como principal foco o desenvolvimento de sistemas de sinalização ferroviária e de mobilidade urbana.

Além de trabalhar em Portugal com a Metro do Porto, a IP ou a CP - Comboios de Portugal, a Alstom, através da nova unidade na Maia, está também a exportar para países como Espanha, França, Turquia, México ou Equador.

A empresa trabalha também com a Universidade do Porto na criação de um mestrado na área da ferrovia, bem como com o Centro de Competências Ferroviário (CCF), instalado em Guifões (Matosinhos, distrito do Porto).

Questionado acerca da notícia avançada pelo jornal Eco da eventual abertura de uma fábrica em Matosinhos caso vença o concurso público para o fornecimento de 117 comboios para a CP, Marcos Pereira disse que se a empresa ganhasse "iria contratar, só para este contrato, cerca de 300 pessoas" directamente e 1500 indirectamente.

No entanto, assegurou que "a unidade da Maia não depende e não foi criada a pensar nesse concurso", que na sua fase final conta também com os suíços da Stadler e os espanhóis da CAF, que também já adiantaram que instalarão fábricas em Portugal, caso vençam.