Nova Democracia à frente na Grécia, mas sem conseguir evitar a segunda volta
O partido conservador do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis está num claro primeiro lugar, mas não alcança a maioria absoluta. Eleições marcadas pela descida do Syriza.
O partido do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, Nova Democracia, está à frente do seu rival directo, o Syriza, de Alexis Tsipras. Segundo os resultados parciais, com 90% dos votos contados, a Nova Democracia tinha 40% e o Syriza apenas 20%.
Em terceiro lugar, ainda segundo as sondagens à boca das urnas, está o Pasok (Partido Socialista) com 11,6%, seguindo-se o Partido Comunista (KKE) com 7,2%, a Solução Grega (direita radical) com 4,5%, e o MeRA25, o partido de Yanis Varoufakis, parece não ter conseguido os 3% necessários para se manter no Parlamento.
Será necessária uma segunda volta, que decorrerá a 25 de Junho ou 2 de Julho, em que o partido mais votado recebe um bónus de 50 deputados, facilitando assim a governação sem precisar de uma coligação. Até agora, nenhum dos maiores partidos pôs publicamente hipótese de formar governo com um dos outros, sendo difícil de imaginar que haja um entendimento para uma coligação ao fim dos três dias de prazo para esse efeito, que começam a contar a partir de segunda-feira.
Mais, ainda não tinham saído os resultados e já a Nova Democracia estava a falar na segunda volta. o ministro da Ordem Pública, Takis Theodorikakos, disse na televisão Skai: "Temos dito que queremos governar com maioria porque isso irá assegurar a estabilidade e o seguir em frente. Por isso, temos o direito de a pedir ao povo grego na próxima eleição”, declarou.
E depois o próprio primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, ao congratular-se com a vitória ainda a contagem ia a meio, mas já com a dimensão da distância em relação ao segundo partido a ser marcante: “Os resultados são decisivos. Mostram que a Nova Democracia tem a aprovação do povo para governar, forte e autonomamente”. A Nova Democracia não tem incentivo para fazer uma coligação quando pode esperar governar sozinha com o bónus que conseguirá na segunda volta.
É uma noite particularmente penosa para Alexis Tsipras. O líder do Syriza, o partido de esquerda, já venceu eleições mesmo que para impor um programa que tinha rejeitado, mas parece ter sido incapaz de capitalizar os erros do Governo conservador. "É um resultado extremamente negativo para o Syriza", disse Tsipras na sua primeira reacção.
O mandato de Mitsotakis foi marcado por escândalos como o das escutas a políticos, que já foi chamado o Watergate grego, e um grave acidente ferroviário - o pior da história da Grécia - em que morreram 57 pessoas, na maioria jovens.
O Governo tem argumentado que foi difícil cumprir o seu programa por causa de imprevistos de peso como a covid-19 que afectou muito o turismo, ou a subida generalizada dos preços na sequência da invasão russa da Ucrânia, pedindo um forte mandato para poder levar a cabo reformas para melhorar finalmente a vida das pessoas na Grécia.
Mitsotakis voltou a este tema no discurso de vitória, dizendo que é preciso um governo forte para levar a cabo reformas de que o país precisa.
Nas eleições de 2019, a Nova Democracia obteve 39,8% dos votos, e o Syriza, então no Governo, 31,6% (nestas eleições ainda foi aplicado o bónus de 50 deputados, permitindo ao partido conservador obter maioria absoluta com aquela percentagem).
"Reversão total da política da crise grega"
A grande variação eleitoral é do Syriza, que registou uma queda abrupta. O partido passou já por ondas de saídas de figuras de peso que se recusaram a ficar no partido quando este ia impor medidas de austeridade, como a antiga Presidente do Parlamento Zoe Konstantopoulou (e também Yanis Varoufakis, se bem que este foi uma entrada tardia no partido) sem ter um efeito destes.
Se há quem diga que Tsipras terá de tirar as consequências deste resultado desastroso, também há quem aponte que o Syriza é Tsipras, que foi ele quem o transformou de uma força nas franjas a partido de relevo e, além de ter sido Governo, a manter-se como a principal força da oposição.
Durante a campanha, Mitsotakis provocou o líder do Syriza, dizendo que quando jogava basquetebol nos Estados Unidos, quem perdia, saía.
Stathis Kalyvas, professor na Universidade de Oxford, comenta como é difícil acreditar nesta diferença. “É simplesmente a reversão total da política da crise grega”, declarou no Twitter. “A saída de Varoufakis [o seu partido, Mera25, não parece ter entrado no Parlamento] é a cereja no topo do bolo”.
Mais, Kalyvas acredita que estas eleições são um passo intermédio no final de um interregno na política grega que culminará a uma passagem do Pasok a primeiro partido da oposição e uma descida continuada do Syriza.