Manchester City, uma perfeição desenhada por Guardiola

“Citizens” campeões da Premier League após derrota do Arsenal no campo do Nottingham Forest.

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Pep Guardiola, treinador do Manchester City EPA/Peter Powell
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O Manchester City é campeão. Era uma questão de tempo até que acontecesse, sobretudo desde que o Arsenal deixou de acreditar em si próprio. Campeão sem jogar, porque os “gunners” voltaram a perder neste sábado, derrotados por 1-0 no campo do Nottingham Forest. E, assim, é mais um título para os “vizinhos barulhentos” de Manchester (como Alex Ferguson chamava ao City), a quinta Premier League para Pep Guardiola nos últimos seis anos. E está a caminho de uma “tripla” histórica, ainda com a final da FA Cup (com o Manchester United) e a final da Liga dos Campeões (com o Inter Milão) no horizonte.

Este City construído e apurado por Guardiola ao longo de sete temporadas atingiu o seu zénite. Pode não ter sido a época em que fez mais pontos (tem 85 e pode chegar aos 94, mas já fez 100 em 17-18 e 98 em 18-19), e, provavelmente, nem será a época em que marcará mais golos na Premier League (tem 92 e mais três jornadas para chegar aos 106 de 17-18). Mas é difícil não olhar para esta versão do Manchester City como uma equipa perfeita, ou perto disso. Os números da época podem não sugerir perfeição (não ganhou os jogos todos), mas mostram outra coisa: evolução.

“Sendo este City, obviamente, uma equipa de Guardiola, não são um puro exemplo do Guardiolismo, como, por exemplo, o City de 17-18, e nem vale a pena falar do Barcelona 10-11. Evolução implica cedências e nenhuma foi tão grande como Erling Haaland”, escrevia há poucos dias o jornalista Jonathan Wilson no “Guardian”. E não é por acaso que a grande maioria das derrotas e empates aconteceram na primeira metade da época – era o City a habituar-se a jogar com alguém que nunca tinha tido, um verdadeiro 9 goleador como o “bomber” norueguês.

Ao contrário de outras criações de Guardiola, como o Barcelona de Xavi, Iniesta e Messi, ou o City com os seus “falsos 9” como Agüero ou Gabriel Jesus, este City teve de aprender a jogar para Haaland. O norueguês não seria a única solução, mas seria a principal – até agora, marcou 52 golos, mais de um terço dos que o City marcou (146) em toda a temporada. Depois de Haaland, há vários goleadores “menores”, como Álvarez (16), Mahrez (15), Foden (14) e De Bruyne (10).

A assimilação aconteceu no momento certo. A última vez que o City perdeu pontos foi a 15 de Fevereiro, num empate com o Nottingham Forest, seguindo-se depois uma série de 11 vitórias consecutivas. Nos últimos 11 jogos, incluindo o deste sábado em Nottingham, o Arsenal, que foi líder durante boa parte da época (248 dias na frente) e estava bem encaminhado para regressar aos títulos, ganhou apenas cinco, mais três empates e três derrotas. E isto tem ainda mais significado, sabendo-se que o City continuou a somar na Taça de Inglaterra e na Champions, e o Arsenal cedo deixou de ter esses “estorvos” extra – eliminado pelo City na taça e pelo Sporting na Liga Europa.

Garantida mais uma Premier League (com três jogos ainda por fazer, com Chelsea, Brighton e Brentford), o City é fortíssimo candidato à tripla. Ninguém duvida do seu favoritismo na taça frente ao rival United, nem na Champions frente ao Inter, especialmente depois do amasso que aplicou ao Real Madrid, 4-0 na segunda mão e mantendo os “merengues”, detentores do troféu, a apenas um remate.

E este título, tal como outros, também tem um sabor português. Bernardo Silva já vai em cinco títulos de campeão inglês e, apesar de não ter sido a época em que marcou mais ou assistiu mais, sentiu-se a verdadeira dimensão do seu génio, um jogador talhado para ser treinado por Guardiola e que faz tudo – até marcar golos de cabeça, ele que apenas 1,73m de altura. E Rúben Dias, um líder na defesa, já vai em três títulos de campeão. Quanto a João Cancelo, também é campeão inglês pela terceira vez, mas à distância – fez a primeira época no Etihad, mas não encaixava nesta versão do City e foi para Munique.

Esta é uma equipa feita de craques, da baliza (Éderson) até ao ponta-de-lança (Haaland), com o seu sabor português (Bernardo, Dias, Cancelo), mais Stones, Walker, Rodri, Akanji, De Bruyne, Gundogan, Álvarez e Grealish. E é impossível ignorar que juntar todos estes craques na mesma equipa só aconteceu porque havia dinheiro para isso – o xeque Mansour alimentou a ambição do clube com centenas de milhões desde 2008.

Mas tudo isto só aconteceu porque Pep Guardiola continua a ser um visionário, sendo ao mesmo tempo um vencedor em série. Este é o 35.º título da sua carreira, ele que começou na equipa B do Barcelona em 2007-08 – foi campeão da terceira divisão espanhola nessa época. Depois, vieram Barcelona, Bayern Munique e Manchester City, sempre a ganhar, sendo agora tricampeão, algo que já não se via em Inglaterra desde Alex Ferguson, com o United, em 2009. E daqui a umas semanas, faremos a recontagem dos títulos.

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