Public Order Act: quem tudo vê e tudo ouve

A acção policial é, portanto, selectiva, dirigida a quem atenta contra o Estado e a sua eficácia resultante da omnipresença de quem tudo vê e tudo ouve.

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Megafone P3: Public Order Act: a omnipresença de quem tudo vê e tudo ouve Jonathan Harrison/Unsplash
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A durabilidade do regime resulta da repressão policial, da intimidação policial e a população responde na sua maioria na passividade, fruto do medo constante do confronto e das consequências impostas a todo e qualquer dissidente.

A acção policial é, portanto, selectiva, dirigida a quem atenta contra o Estado e a sua eficácia resultante da omnipresença de quem tudo vê e tudo ouve num dos países do mundo com maior número de câmaras de circuito fechado, em média uma câmara para cada 11 pessoas. A acção policial dissuasória é amplificada pela imprensa escrita ao serviço do Estado e a mensagem simples acautelando as populações caso se envolvam em política.

A acção policial é igualmente correctiva, reservada a quem se tenha “desviado” e, por conseguinte, sujeito a medidas de correcção pela prisão preventiva para que não tenham a ousadia de atentar contra o Estado outra vez.

A prisão no sentido da manutenção da ordem pública (e alguém me explique qual ordem quando se sai à rua pelo protesto, no protesto e com o protesto) num mundo cada vez mais vulnerável face às alterações climáticas, às guerras e à indústria do armamento, às crises económicas resultantes subjugando populações inteiras à vontade dos dirigentes e o emprego a faltar, o dinheiro a faltar, sem educação, sem pão, saúde ou futuro e se já não conseguimos estar em casa então vamos para as ruas e a polícia à espera.

E se o regime se apoia na sua “legalidade” então corrija-se a lei (da ordem pública), de seu nome Public Order Act, em vigor desde Maio de 2023 e ostensivamente demonstrada pela acção das polícias contra movimentos republicanos e ambientalistas às 7h30 da manhã de sábado, 6 de Maio, o dia da Coroação de Carlos III.

Sejamos claros quando os q primeiros parágrafos deste texto são, na sua maior parte, uma descrição da acção da Polícia Internacional de Defesa do Estado, uma polícia que é o reflexo de um regime totalitário, nem por isso extinto e hoje bem presente nas ruas do Reino Unido onde se é preso preventivamente pela posse de um megafone, não vá o mesmo perturbar este país de bons costumes.

E o cidadão comum nem por isso imune, bastando estar no lugar errado à hora errada para sofrer as vicissitudes de uma polícia que não olha a meios quando se vem celebrar a coroação e se é preso por arrasto.

As detenções de 6 de Maio? Por posse de cintos e alças com o intuito de se prenderem a grades mas também por suspeita de posse de ovos, não vão os mesmos acabar na pessoa do Rei. Não se encontraram ovos alguns e a presença dos cintos só pelas calças largas, quiçá agora no chão, de alguns dos manifestantes. Piadas à parte, na verdade nada disto tem piada num país onde o simples acto de apregoar um produto, seja em Portobello Road ou num mercado ao sábado é susceptível de intervenção da polícia, assim como foi motivo de intervenção a ostentação de um papel em branco no centro de Londres.

Mas não só e não nos esqueçamos das detenções aquando dos protestos pacíficos em nome de Sarah Everard, à data a mando da pandemia e uma distopia à qual não queremos regressar. Quando, num misto de ignorância e revolta, os britânicos votaram em 2016 para sair da União Europeia fizeram-no pela melhoria das suas vidas. Infelizmente, a realidade hoje não podia ser mais contrária aos seus desejos.

Hoje, o Estado Novo do Reino Unido, liberto das concessões europeias, vê-se consequentemente empobrecido e na necessidade de defender o pouco que é seu (que não é pouco nenhum num dos 7 países mais ricos do mundo) e a liberdade de expressão a sua maior vítima.

O egoísmo dos dirigentes é proporcional à sua opulência e a polícia o seu braço armado. E não, não se avizinham tempos negros quando já se vêem bem as trevas e as trevas estão em todo o lado.

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