Irão executa mais três pessoas ligadas aos protestos anti-regime
Organizações de defesa dos direitos humanos criticam julgamentos apressados, falta de provas e confissões obtidas após tortura.
As autoridades iranianas executaram esta sexta-feira três pessoas que tinham sido condenadas à morte por envolvimento nos protestos anti-regime do ano passado. Ao todo, sete pessoas foram executadas por ligações ao movimento de contestação.
Majid Kazemi, de 30 anos, Saleh Mirhashemi, de 36, e Saeed Yaghoubi, de 37, foram executados na cidade de Ishafan, no Centro do Irão, de acordo com o Ministério da Justiça. Os três homens tinham sido condenados à morte pelo alegado envolvimento num tiroteio em que três elementos das forças de segurança foram mortos, durante uma manifestação em Novembro do ano passado.
Organizações de defesa dos direitos humanos têm criticado a forma como os julgamentos dos participantes nos protestos anti-regime têm sido conduzidos. A Amnistia Internacional disse que os homens executados esta sexta-feira foram julgados de forma apressada e que as confissões terão sido obtidas após tortura.
“A forma chocante como este julgamento e a condenação destes manifestantes foram apressadas através do sistema judicial do Irão, entre o recurso a ‘confissões’ manchadas pela tortura, falhas processuais graves e falta de provas, é mais um exemplo do desrespeito descarado das autoridades iranianas pelos direitos à vida e a um julgamento justo”, considerou a Amnistia através de um relatório publicado esta semana.
A poucos dias de serem executados, os três homens fizeram um derradeiro pedido de clemência através da família.
Numa mensagem de áudio captada na prisão onde estavam detidos, um dos homens diz estar inocente. “Eu não tinha armas nenhumas comigo, eles [forças de segurança] continuavam a bater-me e davam-me ordens para dizer que aquela arma era minha”, ouve-se na gravação, citada pela BBC.
Desde Dezembro, outras quatro pessoas foram executadas por participação aos protestos contra o regime de Teerão.
Nos últimos meses do ano passado, o Irão foi varrido por uma onda de protestos sem precedentes motivados pela morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos, que estava sob custódia da polícia da moralidade por estar a usar o “hijab” (lenço islâmico) de forma “imprópria”.
Os protestos representaram a maior ameaça ao regime ditatorial instituído desde a Revolução Islâmica, em 1979, e as autoridades responderam com um nível elevado de repressão.
Na semana passada, o director do departamento de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, disse estar chocado com o “número assustadoramente elevado” de execuções no Irão este ano. Segundo as fontes das Nações Unidas, pelo menos 209 pessoas foram executadas desde o início do ano, na maioria dos casos por crimes ligados ao tráfico e consumo de droga.