Metade dos maiores lagos do mundo está a perder água

Desde 1990 que 53% dos lagos a nível mundial encolheram, segundo um estudo publicado na Science.

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Apenas 24% dos lagos registou aumentos significativos no armazenamento de água Nuno Alexandre
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Os maiores lagos que existem no mundo estão a ficar mais pequenos e com menos água. A partir de uma combinação de observações de uma série de satélites com mais de três décadas, um grupo de investigadores chegou à conclusão de que “mais de metade dos maiores lagos do mundo diminuiu nas últimas três décadas”, contou o autor principal do estudo, Fangfang Yao ao Azul. A avaliação publicada esta quinta-feira na revista Science foi “a primeira análise exaustiva de tendências e dos factores de variabilidade do armazenamento global da água dos lagos com base numa série de satélites e modelos”, acrescenta.

Motivado pela crise ambiental que vai impactar algumas das maiores massas de água, e em especial o “desastre do mar de Aral”, um dos maiores lagos do mundo que está quase seco, Fangfang Yao, investigador convidado na Universidade da Virgínia, juntamente com colegas da Universidade do Colorado em Boulder, Universidade Estadual do Kansas, de França e da Arábia Saudita criaram uma técnica que permite medir as alterações dos níveis da água em cerca de 2000 dos maiores lagos e reservas do mundo. Isto é, de 95% do armazenamento total de água dos lagos na Terra.

Apesar de a maioria dos lagos estar a diminuir, o estudo mostra que cerca de 24% registaram aumentos significativos no armazenamento de água. Estas massas de água tendem a situar-se em áreas subpovoadas no interior do Planalto Tibetano e no Norte das Grandes Planícies da América do Norte, também como em áreas com novos reservatórios, como as bacias dos rios Yangtzé (Amarelo), Mekong e Nilo, mostram os dados.

Perdas generalizadas de água

Estudos anteriores indicavam uma tendência em que os lagos secos ficassem mais secos e os húmidos mais húmidos, mas o investigador principal apresentou com surpresa que os dados mostram “perdas generalizadas de água nos lagos nos trópicos húmidos e nas regiões de alta latitude ao longo das últimas três décadas”, o que mostra que “as tendências de seca em todo o mundo são mais extensas do que se pensava anteriormente”.

As causas da perda de água não surpreendem, por causa do “consumo de água humano, o aquecimento climático e a sedimentação”, enumera Yao. Já nos lagos em que a água aumentou, isso deveu-se maioritariamente “ao enchimento dos reservatórios e ao aumento regional da precipitação e do escoamento da água”, acrescenta o investigador.

A análise publicada na Science mostra que cerca de um quarto da população do mundo reside em regiões com uma bacia hidrográfica com um lago seco e sublinha a importância de soluções de gestão. Yao sugere que “os lagos sejam geridos de forma integrada com outros recursos hídricos”, porque, caso contrário e à medida que o clima se torna mais árido “em combinação com as não-linearidades do nível dos lagos, pode levar à desertificação mais cedo do que se pensa”.

Além dessa gestão integrada dos recursos hídricos, o investigador enumera a importância da “comunicação da utilização da água e o cuidado em evitar o consumo excessivo durante os anos de seca” como algumas das coisas que deveríamos fazer para prevenir a perda de água e “ajudar a salvar estes lagos que são fortemente influenciados pelas actividades humanas”.

A equipa de investigadores organizou cerca de 250.000 imagens de satélite da área dos lagos, captadas entre 1992 e 2020 para analisar a área de 1972 dos maiores lagos da Terra, dizem em comunicado de imprensa. Além disso, recolheram os níveis de água de nove altímetros (instrumento usado para medir altitudes) de satélite, recorrendo aos níveis de água a longo prazo para reduzir qualquer incerteza. “A combinação de medições de nível recentes com medições de área a longo prazo permitiu aos cientistas reconstruir o volume de lagos com décadas de existência”, acrescentam no comunicado.

E Yao deixa o aviso: “Estas massas de água são particularmente vulneráveis a um futuro previsivelmente mais quente”.

Texto editado por Claudia Carvalho Silva