Jack Teixeira foi apanhado três vezes a consultar segredos do Pentágono e manteve acesso

Departamento de Justiça dos Estados Unidos afirma que o militar norte-americano sabia que estava a partilhar informações confidenciais do Pentágono com cidadãos estrangeiros.

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Teixeira, de 21 anos, foi detido em Abril e acusado de divulgar documentos secretos do Pentágono Reuters/WCVB-TV
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O militar norte-americano Jack Teixeira, detido em Abril e acusado de partilhar documentos confidenciais com centenas de pessoas através da Internet, manteve a sua autorização de acesso a informação secreta – e continuou a gerir as redes de comunicação do Pentágono – mesmo depois de ter sido alvo de três denúncias internas, entre Setembro de 2022 e Janeiro de 2023.

Num documento entregue na noite de quarta-feira a um juiz do estado do Massachusetts que vai decidir, na sexta-feira, se Teixeira deve permanecer detido, ou se pode aguardar julgamento em liberdade –​, o Departamento de Justiça dos EUA revela que o militar foi visto por um colega, em Setembro de 2022, "a tirar notas sobre informação classificada" numa sala reservada à consulta de documentos secretos.

Segundo uma nota interna do quartel onde Teixeira prestava serviço uma base da Guarda Nacional Aérea dos EUA no Massachusetts –, o militar recebeu uma ordem "para deixar de tomar notas, por qualquer meio, sobre informação confidencial".

Em Outubro de 2022, Teixeira volta a ser referido num memorando interno, onde se lê que o militar "parece ter ignorado a ordem lhe foi dada em Setembro" e "tem de deixar de consultar informação confidencial e concentrar-se no seu trabalho", como especialista em gestão de redes e sistemas informáticos.

Finalmente, em Janeiro de 2023 – três meses antes de Teixeira ter sido apontado, nos media norte-americanos, como responsável pela partilha de segredos militares dos EUA –, o jovem voltou a ser visto por um colega "a consultar conteúdo que não está relacionado com a sua função, e que diz respeito a informação confidencial".

Neste terceiro memorando interno, é referido que Teixeira tinha sido avisado previamente "para se concentrar nas suas funções e para deixar de procurar produtos relacionados com os serviços de informação".

Uma porta-voz da Força Aérea dos EUA, Ann Stefanek, citada pelo The New York Times, disse que dois superiores hierárquicos de Teixeira foram suspensos enquanto decorre uma investigação interna.

No documento entregue ao juiz David Hennessy, do Massachusetts, os procuradores do Departamento de Justiça revelam outra informação que era desconhecida até agora, sobre a dimensão do grupo de pessoas com quem Teixeira partilhou segredos do Pentágono.

Segundo notícias publicadas nos media norte-americanos no último mês, o militar divulgou documentos secretos junto de seis centenas de pessoas, de pelo menos 25 países, em dois servidores da plataforma Discord; agora, o Departamento de Justiça diz que os documentos do Pentágono foram partilhados num terceiro servidor do Discord com pelo menos 150 utilizadores, "alguns deles cidadãos de países estrangeiros".

No entender dos procuradores do Departamento de Justiça, o juiz deve manter Teixeira detido até ao julgamento, por forma a impedi-lo de divulgar mais segredos militares, potencialmente a espiões estrangeiros.

Segundo os advogados do militar, o Departamento de Justiça está a exagerar de forma propositada a dimensão do caso, para o poder comparar a episódios anteriores como o que teve como protagonista Chelsea Manning, a militar norte-americana que divulgou, em 2010, centenas de milhares de documentos secretos sobre as guerras no Iraque e no Afeganistão.

Jack Teixeira, de 21 anos, um lusodescendente nascido nos EUA e neto de um natural dos Açores, enfrenta duas acusações relacionadas com a posse e divulgação de documentos confidenciais e pode ser condenado a um máximo de 25 anos de prisão.

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