Um recorde: mais de metade da electricidade produzida em Portugal em Abril foi solar e eólica

Segundo dados publicados esta quinta-feira pelo Ember, um think tank ambiental sem fins lucrativos, atingiu-se, em Abril, um recorde de produção de energia renovável em Portugal.

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Em Abril de 2023, 35,71% da geração de energia portuguesa foi proveniente do vento FELIPE TRUEBA
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Portugal esteve sob uma seca intensa no ano passado e atravessa agora outra, levando a uma relevante diminuição de produção de energia hidroeléctrica. No entanto, a energia solar e eólica vieram alavancar a percentagem das renováveis do panorama energético português. Segundo o relatório do think tank Ember, em Abril deste ano atingiu-se o recorde de produção de energia solar, contabilizando 15,13% da produção total, o correspondente a 360 gigawatts, ultrapassando o recorde de Julho e de Agosto de 2022 de cerca 300 gigawatts. Já a energia eólica contabilizou 35,71% da geração de energia no mês passado.

Em Abril de 2020, a energia proveniente da água rondava os 36% do valor total português. No mesmo mês deste ano, o valor diminuiu para 14%, maioritariamente devido às secas. É uma redução para menos de metade.

Matt Ewen, analista de dados da think tank Ember, alerta que “com fenómenos meteorológicos mais frequentes, a Europa vai ter que se preparar para uma maior variabilidade na geração hídrica”, guardando, por exemplo, a capacidade hídrica para quando ocorrem períodos com baixa quantidade de vento. No entanto, para Portugal, não será tão fácil, pois “tem mais centrais hidroeléctricas a fio de água do que albufeiras”.

Apesar de 40% da energia portuguesa ser de combustíveis fósseis, o analista de dados acredita que o país “está no caminho certo para uma transição energética”. “A eliminação progressiva do carvão em 2021 foi um grande sucesso” afirma, relembrando que Portugal foi apenas o quarto país europeu a consegui-lo. Além disso, “a ambição futura também é excelente: é um dos únicos quatro países da UE com um objectivo de 100% de energia limpa para 2030, tendo aumentado substancialmente a sua ambição em resposta à invasão da Ucrânia”, acrescenta Matt Ewen.

No ano que se seguiu à invasão da Rússia, segundo o analista da Ember, “um aumento de 50 terawatts por hora de geração de energia eólica e solar na Europa diminuiu a necessidade de importação de cerca de 9 mil milhões de metros cúbicos de gás natural”. E, “uma vez que muitos países europeus, incluindo Portugal, aumentaram o ritmo de implantação de capacidade renovável no último ano, esperamos que esse número continue a aumentar”, acrescenta.

De um Inverno de crise até uma Primavera renovável

Apesar de a Europa já se encontrar num caminho mais distanciado das energias fósseis, a crise de gás e a invasão da Ucrânia aceleraram significativamente, sem dúvida, o processo. “As duas crises ‘gémeas’ trouxeram foco para os grandes riscos à segurança e estabilidade energética da dependência dos combustíveis fósseis, forçando os governos a tomarem medidas rápidas para acelerar a adopção das energias renováveis”, comenta Matt Ewen. E os resultados já se vêem.

Aqui ao lado, a Espanha atingiu também recordes de produção de energia solar em Abril, com 22% da sua produção energética a ser obtida pelo sol, dizem os dados do Ember. E, tal como em Portugal, a combinação sol e vento foi a fonte de 46% de toda a energia produzida. Portugal e Espanha responderam com energia solar e eólica a 49% da procura energética em Abril, recorrendo à produção “caseira” e a importações.

Outros países da Europa chegaram também a recordes verdes: a Suécia produziu em Fevereiro 27% da sua energia a partir do vento e do sol, a Finlândia atingiu os 29% em Abril e, este mês, 29% de toda a energia produzida na Bélgica era solar e eólica, a maior percentagem alguma vez conseguida pelo país.

São boas notícias para a União Europeia, que tem o objectivo de chegar aos 42,5% de energia de fontes renováveis até 2030. Actualmente, a meta encontra-se nos 32% e é actualizada por uma nova lei que pede até que os Estados-membros tentem ultrapassar o valor estabelecido e almejar atingir os 45%.

A transição verde é fundamental, porque “um modelo de crescimento centrado nos combustíveis fósseis é simplesmente obsoleto”, afirmou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, num evento em Bruxelas. É daí que parte a determinação do Green Deal da União Europeia, para “criar um modelo de crescimento diferente que seja sustentável num futuro distante”, acrescentou Von der Leyen.

Em comunicado de imprensa, Nicolas Fulghum, analista da Ember, comenta que, “à medida que a Europa sai de um Inverno de crise, o forte crescimento da energia eólica e solar está a dar frutos. Nesta Primavera, as energias renováveis já estão a atenuar o impacto das secas e dos elevados preços da electricidade em toda a UE, bem como a reduzir as emissões. O ritmo acelerado da implantação, especialmente da energia solar, promete muitos mais recordes para este Verão.”

Os números mais recentes da análise da Ember mostram também que “a Europa já está no caminho para atingir, pelo menos, 45% de energia sustentável até 2030”, afirma Matt Ewen, acrescentando que, com um reforço das políticas e do apoio financeiro, a “meta poderá ser ainda maior”.

A Comissão Europeia propôs nova regulamentação promissora para acelerar os processos de autorização de projectos de energias renováveis e incentivar o investimento, comenta o analista, ressalvando, no entanto, que “estas políticas têm agora de ser aplicadas a nível nacional, o que exige uma capacidade adicional em termos de trabalhadores qualificados, financiamento e desenvolvimento da rede”.