Contexto

Esta segunda-feira foi divulgada a imagem de um selo comemorativo da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que terá sido apresentado pelo Vaticano. Na ilustração, o Papa Francisco surge acompanhado de vários jovens em cima do Padrão dos Descobrimentos.

A imagem motivou reacções de indignação nas redes sociais por parte de vários utilizadores, que fizeram notas sobre as semelhanças entre a ilustração presente no selo e algumas do Secretariado de Propaganda Nacional.

Além disso, houve quem sublinhasse paralelismos com a expansão marítima do império português na época dos Descobrimentos.

As críticas chegaram também de alguns sectores da Igreja portuguesa, incluindo do bispo Carlos Moreira Azevedo, delegado do Comité Pontifício para as Ciências Históricas, que considerou a imagem de "péssimo mau gosto". O bispo português, que exerce funções no Vaticano, fez ainda questão de sublinhar que "certamente o Papa Francisco não se identifica com esta imagem nacionalista" que "contraria a fraternidade universal".

Os factos

O site oficial da Jornada Mundial da Juventude confirma que o selo foi apresentado pelo Vaticano, esta segunda-feira. Foi desenhado pelo artista italiano Stefano Morri e começou a ser emitido na terça-feira. A ilustração pretendia representar “o Papa Francisco na proa de um barco, a guiar os jovens para o futuro”.

O carimbo comemorativo que representa o logótipo da Jornada Mundial da Juventude, lançado em conjunto com o desenho, destinava-se a ser utilizado usado nos dias 16 e 17 de Maio pela agência de correios Arco delle Campane.

Os paralelismos feitos com a época da expansão marítima não são acidentais. O site de notícias do Vaticano, Vatican News, escreve que “da mesma forma que o timoneiro [Infante] D. Henrique lidera a tripulação na descoberta do novo mundo, também no selo do Vaticano o Papa Francisco conduz os jovens e a Igreja, representada pela barca de Pedro, na descoberta desta mudança de época”.

Quanto a uma leitura que associa o desenho do selo ao imaginário gráfico do Secretariado de Propaganda Nacional do Estado Novo, Rosa Pedroso Lima, porta-voz da Fundação JMJ Lisboa 2023, considerou-a "abusiva em relação às intenções expressas pelo Vaticano". Defendeu ainda, em declarações à Lusa, que a mensagem transmitida era "de união entre os povos, raças, credos e culturas".

Esta quarta-feira, 17 de Maio, o Vaticano interrompeu a venda do selo da JMJ. A informação foi confirmada pelo 7Margens e pela Renascença, tendo um funcionário do posto de correios oficial da Praça de São Pedro dito que era "impossível fazer a venda, por ordens superiores".

Os selos da autoria de Stefano Morri que estiveram apenas um dia em circulação tornam-se, assim, um objecto filatélico raro com maior valor de mercado. Foram vendidos com um valor facial de 3,10 euros e tiveram uma tiragem de 45 mil unidades.

Resumo

O Vaticano apresentou mesmo, esta segunda-feira, um selo comemorativo da Jornada Mundial da Juventude de 2023, a realizar-se em Lisboa, que inclui o Papa e alguns jovens no Padrão dos Descobrimentos.

No entanto, na sequência de uma onda de críticas nas redes sociais e mesmo de alguns sectores da Igreja, o selo foi esta quarta-feira, 17 de Maio, retirado de venda e de circulação. De acordo com o protocolo da Santa Sé, deverão ser destruídos os restantes exemplares.