Enviado especial do Governo chinês visita a Ucrânia sem grandes novidades na mala

Périplo europeu do antigo embaixador chinês na Rússia começa em Kiev e termina em Moscovo, com passagens por França, Polónia e Alemanha. Plano de paz de Pequim não convence ucranianos nem aliados.

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Li Hui com Dmitri Medvedev, ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da Rússia REUTERS/Dmitry Astakhov/RIA Novosti/Pool
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Na conversa telefónica que teve com Volodymyr Zelensky no final de Abril, a primeira desde o início da invasão russa da Ucrânia, há mais de um ano, Xi Jinping prometeu para breve uma visita do representante especial do Governo chinês para os Assuntos Euro-asiáticos a Kiev.

Mas a passagem de Li Hui pela capital ucraniana, nesta terça e quarta-feira, dificilmente dará um pontapé de saída num processo negocial sustentado para a resolução do conflito a curto ou médio prazo.

Embaixador da República Popular da China na Federação Russa durante uma década e um dos principais contribuidores para o estreitamento das relações entre Pequim e Moscovo nos últimos anos, Li traz na mala o mesmo plano de paz genérico que a Ucrânia e os seus aliados consideram inaceitável, por não distinguir entre invasor e invadido e por não fazer qualquer referência às condições prévias para haver diálogo entre russos e ucranianos.

Para além de Kiev, a visita do diplomata à Europa inclui paragens na Polónia, França e Alemanha, terminando em Moscovo.

Ainda que não tenha dado grandes pormenores sobre a agenda de trabalhos, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês diz, ainda assim, que o périplo tem como objectivo encetar “comunicações aprofundadas com as diferentes partes para um acordo político sobre a crise da Ucrânia”.

Na mesma linguagem vaga, o Global Times, jornal do Partido Comunista Chinês, refere que a “principal missão da visita será a de aprender e comunicar sobre as exigências e as opiniões” das diversas partes, mas apressa-se a minimizar as hipóteses de um grande volta-face no conflito, apontando o dedo aos Estados Unidos e ao Ocidente.

“A China não pode resolver esta crise sozinha, especialmente tendo em conta o aumento do apoio militar do Ocidente – liderado pelos EUA – à Ucrânia”, lê-se num artigo publicado esta terça-feira que faz eco das recentes promessas de mais armamento que as principais potências europeias fizeram ao Presidente Zelensky e do “início da muito antecipada contra-ofensiva” do Exército ucraniano.

A forma como as várias partes antecipam e definem as suas expectativas sobre a visita de Li a Kiev – a primeira de um membro relevante do Governo chinês ao país invadido pela Rússia desde o início da guerra – e aos seus aliados não é alheia à posição oficial da China sobre o conflito.

Pequim recusa condenar a Federação Russa pela invasão – opta quase sempre pelo termo “crise”, em vez de “guerra” ou “conflito”, para descrever a agressão territorial russa –, não se coíbe de denunciar a “mentalidade de Guerra Fria” do Ocidente, critica abertamente a política de sanções contra o Kremlin e tem intensificado a sua cooperação económica, energética, diplomática e militar com Moscovo.

E também há suspeitas, principalmente nos EUA, de que a China pode vir a fornecer armas ao Exército russo que combate na Ucrânia.

A par disso, Xi Jinping escolheu Moscovo para a sua primeira visita ao estrangeiro depois de ter sido reconduzido a um terceiro mandato presidencial, enfatizando a proximidade com o “querido amigo” Vladimir Putin e o potencial da “parceria sem limites” entre os dois países.

Li Hui foi, aliás, instrumental no reforço dessa aliança na última década. Fluente em língua russa, ingressou no antigo Departamento do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês para os Assuntos Soviéticos e da Europa de Leste, em 1975, e passou grande parte da carreira diplomática na União Soviética e nos Estados que lhe sucederam após a desintegração do bloco regional.

Segundo o Japan Times, que cita a informação estatal chinesa, durante o período em que Li serviu como embaixador em Moscovo (2009-2019), Xi visitou a Rússia oito vezes, Putin visitou a China dez vezes e o volume das trocas comerciais bilaterais praticamente triplicou.

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