Concertos dos Coldplay obrigam residentes e trabalhadores em Coimbra a repensar rotina

Ficar em teletrabalho ou optar pela bicicleta são algumas das soluções possíveis perante o corte de ruas e o estacionamento das viaturas de milhares de pessoas que visitam a cidade nos próximos dias.

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São esperadas, pelo menos, 60 mil pessoas em cada dia de concerto dos Coldplay em Coimbra EPA/Francisco Guasco
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A sequência de concertos dos Coldplay no Estádio Municipal de Coimbra, que se inicia nesta quarta-feira, promete levar à cidade 60 mil pessoas em cada um dos próximos quatro dias. Esta afluência extraordinária obrigou o município a delinear um “plano complexo” de circulação, que passa pela interdição de várias estradas e vias pedestres nas imediações do estádio até domingo. Quatro ruas estarão completamente cortadas e outras 11 têm a circulação de viaturas condicionada.

Por isso, para chegar ao recinto dos concertos, quem comprou bilhete terá de atravessar a cidade a pé, desde as estações de comboio, junto ao Mondego, ou comprando um bilhete de autocarro. Já quem permanece alheio aos espectáculos dos Coldplay mas trabalha ou reside em Coimbra, lamenta os constrangimentos causados à rotina. Ao PÚBLICO, Nuno Cavaleiro, de 25 anos, que trabalha a dez quilómetros de casa, no ramo da engenharia de qualidade, relatou dificuldades “desagradáveis”.

Uma vez que a urbanização da Quinta da Portela, a três quilómetros do estádio, é uma das 16 zonas recomendadas pela autarquia para estacionamento gratuito, Nuno Cavaleiro, que não usufrui de uma garagem, tem apenas uma alternativa nos próximos dias: usar a bicicleta. Assim, para começar a trabalhar pelas 7h30, está obrigado a sair de casa pelas 6h45, uma vez que vai pedalar durante 25 minutos. Ainda que a empresa disponibilize balneário, Nuno Cavaleiro admite que o cansaço e o suor da travessia obrigam a atrasar o horário.

“Usar a bicicleta para todo o quotidiano não é viável. Mas se tiver um imprevisto, vou usar o carro e quando regressar não tenho onde estacionar. A rotina vai além do trajecto até ao local de trabalho. A Câmara deveria ter organizado de forma diferente, não constrangido a vida nas urbanizações”, critica.

E quem mora junto ao estádio? “Tenho colegas de trabalho que estes dias ficam em teletrabalho, os acessos às garagens já são muito apertados, além do trânsito na cidade”, esclarece Nuno Cavaleiro.

Em entrevista ao PÚBLICO, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva, esclareceu que “constrangimentos inevitáveis” acontecem quando há eventos capazes de atrair “cerca de 60 mil pessoas em cada dia”, e que “praticamente lotaram” os alojamentos da cidade.

As medidas definidas são "necessárias" para salvaguardar “uma boa experiência no concerto” e, desejavelmente, gerar “a vontade de voltar a Coimbra", explicou José Manuel Silva.

Além disso, o “pequeno investimento” de 800 mil euros promete gerar “um retorno entre os 30 e os 50 milhões de euros, importante para a marca Coimbra”, argumenta o autarca.

Questionado sobre a particular movimentação na cidade durante esta semana, José Manuel Silva aproveitou para esclarecer que “as escolas públicas vão manter o normal horário de funcionamento”, lembrando que também o rali e a Queima das Fitas, outros eventos que trazem muita gente a Coimbra, geram desconforto a algumas pessoas, normal da “vida em sociedade”, comentou.

Para além dos Coldplay, a semana académica

A tradicional semana académica arranca também esta quinta-feira, mas no Paço das Escolas, junto à Faculdade de Direito. Apesar da distância de três quilómetros, e de admitir uma afluência ainda maior nesse dia, o presidente da Câmara de Coimbra descartou qualquer agravante na zona alta da cidade.

Por sua vez, o presidente da direcção-geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), João Pedro Caseiro, disse ao PÚBLICO que o plano de segurança prevê mais de mil pessoas no recinto destinado à serenata, que abre a Queima das Fitas, na meia-noite de quinta-feira, como acontece quando o evento se dá na Sé Velha, actualmente em obras.

João Pedro Caseiro reconhece que os concertos no estádio vão dificultar o acesso “dos estudantes dos politécnicos e de outros pólos ao recinto da Queima das Fitas”, do outro lado do rio.

“Os dois dias de rali na última semana serviram de preparação para o que está a chegar. Este é o outro prato na balança de quando são agendados eventos que trazem muitas pessoas à cidade”, disse.

Os quatro concertos da banda britânica também alteraram a agenda da Queima das Fitas, uma vez que o cortejo académico passou para terça-feira, ao invés de se realizar ao domingo. Uma questão de segurança, sublinhou João Pedro Caseiro.

A decisão, inicialmente contestada no meio académico, foi aceite mais tarde, uma vez que o cortejo não seria possível durante o último dia de concertos. Ainda assim, considera o presidente da AAC, a medida "lesa os familiares dos estudantes” e poderá gerar “um impacto emocional negativo nos finalistas e universitários de primeiro ano”.

A Câmara Municipal de Coimbra disponibiliza no site várias recomendações para quem visitar a cidade esta semana, como parques de estacionamento, estradas cortadas e as rotas dos autocarros.

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