Porto procura ideias “fora da caixa” para problemas sociais da cidade
Primeira edição do Laboratório de Inovação Social, cujas candidaturas decorrem até 30 de Julho, vai apoiar um máximo de cinco projectos com 120 mil euros.
A Câmara do Porto está à procura de “soluções inovadores” para resolver “velhos e emergentes” problemas sociais da cidade e tem 120 mil euros para apoiar um máximo de cinco projectos. As candidaturas para a primeira edição do Laboratório de Inovação Social, enquadrado na estratégia do Centro de Inovação Social do município, estão abertas até ao dia 30 de Julho.
O volume de pedidos de apoio e de investimento social que chegava à Câmara do Porto incentivou a autarquia a ir à raiz do problema: quais eram, afinal, as áreas onde era preciso investir? No âmbito da Rede Social do Porto, foram identificadas três grandes fragilidades: o isolamento dos idosos, a vulnerabilidade dos jovens que saem do acolhimento residencial para autonomia de vida e a desinserção social e simbólica das pessoas com deficiência.
É em torno desses problemas que os cidadãos e associações podem agora apresentar projectos “inovadores” e “fora da caixa”. Fernando Paulo, vereador com o pelouro da Coesão Social, quer “pôr a cidade a pensar e a trazer novas ideias” para dentro da autarquia, oferecendo aos participantes a oportunidade de “testar e incubar" os seus projectos.
Dessas novas práticas podem, no limite, “surgir políticas públicas”, aponta o vereador. Mas podem também nascer “ideias de negócio e oportunidades de serviço em áreas emergentes.” “Estamos a mobilizar [a população] e a apelar à participação dos cidadãos, para que sintam que o desenvolvimento da cidade pode e deve ser construído por todos e não apenas por quem tem responsabilidade política.”
Em Abril, o evento InPorto deu sinais positivos. Académicos, técnicos, mas também cidadãos comuns participaram na iniciativa que debateu os três grandes problemas identificados e serviu de mote à criação deste concurso.
O Laboratório de Inovação Social – financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência – é, agora, a oportunidade de levar essa discussão a bom porto. As 20 melhores propostas participarão num “bootcamp de pré-aceleração” nos dias 16 e 17 de Setembro. Daí saem dez projectos para um programa intensivo de dois meses de aceleração (Outubro e Novembro), com sessões de capacitação e oportunidades para contactar com contextos reais do problema social em causa.
As cinco melhores propostas seguem, já em Janeiro de 2024, para um programa de incubação de seis meses. Nessa fase, os projectos contam com mentoria, capacitação, um espaço físico de trabalho e o suporte de um técnico do departamento municipal de coesão social com experiência no problema social ao qual se pretende dar resposta.
No final, as soluções são apresentadas a investidores, agentes políticos e público, num evento que fecha a primeira edição deste laboratório criado no âmbito do Centro de Inovação Social, um dos dois de iniciativa autárquica existentes no país (o outro fica em Braga).
No site do concurso – onde pode ser consultado o regulamento – estão disponíveis “casos de estudo” sobre os problemas sociais que se procuram resolver e que devem servir de base às propostas. Podem concorrer equipas de pessoas singulares (com mais de 18 anos e um número mínimo de duas pessoas) ou entidades, com ou sem fim lucrativo.
O município tem já garantida uma segunda edição do Laboratório de Inovação Social, com mais 120 mil euros. Quando os projectos da primeira fase estiverem incubados, serão identificados pela rede social do Porto três novos problemas e a metodologia será repetida.
Envelhecimento: um problema sério
No Porto, como no resto do mundo, o envelhecimento da população, e o seu isolamento, é um problema sério. “A cidade tem uma taxa bruta de envelhecimento que ronda os 128%. Temos de mudar as políticas e possibilitar que as pessoas em todas as fases da vida tenham uma vida plena e activa”, aponta Fernando Paulo.
Para o vereador, as respostas existentes nesta área são “insuficientes”, não só em número mas também no seu formato: “Cada vez mais temos pessoas com 65 anos que vivem o pleno da sua vida e que esperam que a cidade lhes dê oportunidade para terem um envelhecimento activo.”
Ao município chegam também, com frequência, pedidos de ajuda de instituições que acolhem jovens e que relatam a existência de uma lacuna: após os 18 anos, a resposta quase desaparece. “Há uma vulnerabilidade na saída desse acolhimento e na transição para a autonomia”, aponta o vereador. Também para as pessoas com deficiência, e “apesar dos avanços civilizacionais”, a realidade é a de existência de uma “desinserção social e simbólica”, admite. “É preciso criar outras respostas.”