Aeroporto de Lisboa: “É imperativo que seja fechado”, pedem moradores estrangeiros

Os benefícios de manter o aeroporto dentro da cidade (poucos e baseados em suposições em lugar de factos e números) são muito menores que os custos (muitos e já amplamente estudados).

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Há zonas de Lisboa em que o som dos aviões é muito intenso. Ambientalistas têm pedido (pelo menos) o fim dos voos nocturnos Miguel Manso
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Carta aberta ao Governo

Somos jovens profissionais estrangeiros que recentemente se mudaram para esta maravilhosa cidade que é Lisboa, havendo quem nos chame nómadas digitais, mesmo que a nossa intenção possa ser de cá permanecer. Como muitos estrangeiros nos últimos anos, escolhemos Lisboa e Portugal como a nossa nova casa pois há muito para amar nesta cidade e neste país – as pessoas, a cultura, a paisagem, só para dar alguns exemplos. Certamente existem problemas também (desde o trânsito caótico na cidade à subida das rendas), mas estes estão bem reconhecidos e os diferentes actores estão a esforçar-se para resolvê-los. Mas há um problema específico que ainda não é amplamente reconhecido como tal: é o caso do aeroporto de Lisboa localizado no interior da cidade. Ainda pior: para alguns esta localização é considerada um factor de atractividade.

Consequentemente, a questão que temos colocado a nós mesmos é a seguinte: porque é que outras cidades que estiveram na mesma situação que Lisboa (por exemplo, Hong Kong, Berlim, Atenas ou Munique) fecharam completamente o aeroporto antecedente preferindo construir um novo fora da cidade? Porque, em nossa opinião, os benefícios de manter o aeroporto dentro da cidade (poucos e baseados em suposições em lugar de factos e números) são muito menores que os custos (muitos e já amplamente estudados).

Para aqueles que consideram a proximidade do aeroporto uma vantagem competitiva para atrair mais turistas e profissionais, perguntamos: onde estão os estudos que demonstram isso? Se existem, os defensores desta hipótese teriam de os partilhar connosco porque não nos foi possível encontrá-los. Estes estudos não só teriam que mostrar que os turistas vêem favoravelmente a proximidade (o que é razoável), mas também que se o aeroporto fosse mais longe o número de viagens por razões turísticas e profissionais aumentaria menos – o que duvidamos que seja compatível com a realidade, porque ninguém de entre nós ou que conheçamos se encontrou em situação em que decidiu deixar de ir a uma cidade porque o aeroporto se encontrava a 45 minutos ou uma hora do centro.

Pelo contrário, é muito fácil encontrar os custos associados à presença de um aeroporto numa região tão densamente habitada. Estima-se que mais de 400 mil pessoas são afectadas pelo ruído dos aviões em Lisboa, e isso provoca vários efeitos nocivos. Os estudos demonstram que há uma correlação entre problemas cardiovasculares e a proximidade de um aeroporto, e que a falta de sono de qualidade por causa do ruído causa uma significativa perda de produtividade. Mostram também que a presença de fontes de ruído como vias rápidas e aeroportos leva a uma perda notável nos valores imobiliários. Por outro lado, a presença do aeroporto impede a construção de edifícios altos que poderiam aliviar a falta de habitação em Lisboa, assim como os terrenos do aeroporto poderiam servir esse fim.

Finalmente, com a presença do aeroporto dentro de Lisboa impede-se o desenvolvimento de outros sítios – um aeroporto noutro local da região poderia favorecer a formação de um agrupamento de empresas de alto conteúdo tecnológico nesse local, como no caso da Oise perto do aeroporto Charles de Gaulle na região de Paris.

É certo que se o número de pessoas lesadas fosse menor, como no caso de Genebra, a possibilidade de ter um aeroporto próximo da cidade seria um factor competitivo, mas para Lisboa os custos são muitos mais elevados que os benefícios. Considerando todos os prós e contras, é imperativo então que o Aeroporto Humberto Delgado seja fechado o mas rapidamente possível e que o governo, em parceria com os outros actores como a Comissão Técnica Independente para o novo aeroporto, a APA e ANA, se encarreguem de encontrar soluções alternativas.

Entretanto, como mitigação intermédia, e já, teria de haver uma interdição ou maior limitação dos voos nocturnos como no Luxemburgo ou Düsseldorf, e a ANA ou o governo deveriam encarregar-se de insonorizar os edifícios públicos e privados impactados pelo ruído dos aviões.

Constatamos que as gerações de profissionais mais novos que planeiam ou ponderam vir para Lisboa são cada vez mais sensíveis a este problema, pelo que se nada for feito cremos que esta bela cidade perderá muito no futuro.