Plataforma Parar o Gás bloqueia entrada do terminal de gás de Sines. “Negociar o quê? Não há planeta B”
Na formação sobre acção de massas que os activistas tiveram, uma das mensagens principais é a não violência: seguir o consenso de acção é abster-se de agredir ou insultar polícias.
Uma dezena de activistas da plataforma Parar o Gás bloqueou uma das entrada do terminal de GNL de Sines, ligando os braços uns aos outros com tubos. São acompanhados por mais de uma centena de activistas sentados na rampa de entrada. Outro grupo de activistas está a bloquear a outra entrada. As palavras de ordem? “Negociar o quê? Não há planeta B.”
Com um brilhozinho nos olhos (reforçado por glitter) e ar de desafio, os dez activistas sentaram-se lado a lado à frente do portão por onde entram os camiões carregados com gás natural liquefeito vindos do Porto de Sines.
Ao centro, Ana Maria está presa ao portão pelo pescoço, com um dispositivo de bloqueio. É enfermeira de ajuda humanitária: "Tenho testemunhado em primeira mão o impacto das alterações climáticas em populações muito mais vulneráveis."
Porquê escolher esta forma de acção? É, descreve, "mais uma tentativa, entre muitas", de chamar a atenção. "Não deveria ser necessário tanto... Não deveria ser necessário tanto", repete.
É preciso abrir os olhos, acrescenta, perante "os lobbies capitalistas" que atrasam as decisões de descarbonização urgente. "É o ponto em que já estamos... Já não há tempo."
Por perto estão várias activistas prontas a dar apoio, trazer uma garrafa de água, conferir se está tudo bem.
Concentração durante a manhã
Ao final de manhã, mais de 200 pessoas tinham-se concentrado em diferentes pontos de Sines, vestidas com fatos brancos de corpo inteiro, para marchar numa acção de protesto para interromper o funcionamento do terminal de gás natural da REN no porto de Sines.
"Isto é decididamente a maior acção de desobediência pelo clima em Portugal", afirmou um dos organizadores, perante o grupo que se concentrava no Jardim República de Sines, onde estavam mais de 100 pessoas. Os activistas eram vigiados de perto por alguns agentes da GNR.
O protesto arrancou com mais de uma hora de atraso, depois de os três autocarros com origem no Porto, Coimbra e Lisboa terem ficado retidos durante quase uma hora pela brigada de trânsito da GNR de Grândola.
Para a plataforma Parar O Gás, um grupo que reúne diversos colectivos de todo o país, a acção serve para reivindicar "electricidade 100% renovável e acessível a todas as pessoas em Portugal até 2025". Tendo em conta que "a grande maioria do gás fóssil é utilizada para produzir electricidade em Portugal" e que "a grande maioria do gás fóssil chega a Portugal por barco, no porto de Sines,", o curso de acção era óbvio: "No dia 13 de Maio de 2023, partiremos de vários lugares em Sines".
No seu consenso de acção, os activistas escrevem que pretendem ir "em manifestação" até ao Terminal de Gás Natural Liquefeito do Porto de Sines, a entrada principal de "gás fóssil" em Portugal, onde vão, "com coragem e criatividade, travar o seu funcionamento".
Tudo foi preparado com cuidado
No autocarro do Porto, uma das activistas, que vem pela primeira vez a uma acção directa, diz sentir-se preparada, entre a sessão inicial de apresentação, a formação em acção de massas e, em particular, o briefing legal em que uma jurista do Parar o Gás explicou quais são os direitos e garantias de quem escolhe manifestar-se desta forma.
Não é a única que decide participar pela primeira vez numa acção de massas. No autocarro, mas também nas sessões de esclarecimento e de organização, despontam aqui e ali desabafos sobre como sentiram que "está na altura".
Na formação sobre acção de massas, uma das mensagens principais é a não violência: seguir o consenso de acção é abster-se de agredir ou insultar polícias ou quaisquer outras pessoas que intervenham. A resistência às detenções é pacífica — mas são recomendadas técnicas como a do "saco de batata", para dificultar ao máximo o processo de detenção.
Na formação, as pessoas vão descobrindo como podem ser úteis à acção: algumas oferecem-se para o grupo de media, que estará a registar a acção; outras, menos confortáveis para acção mais afoita, sabem que terão lugar nos momentos de manifestação e de ocupação pacífica dos espaços; por fim, aqueles que estão disponíveis para a verdadeira acção directa, que mais tarde terão uma formação específica para saberem como actuar sem pôr em causa a segurança dos trabalhadores e outras pessoas que estejam no Porto de Sines.