Pobreza está a levar mais pessoas com formação superior a pedir ajuda

Assistência Médica Internacional (AMI) aponta alimentação como maior necessidade de quem procura ajuda. Organização também tem recebido mais pedidos de apoio psicológico.

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No primeiro trimestre de 2023, 533 pessoas em situação de pobreza procuraram apoio da AMI pela primeira vez Nelson Garrido/Arquivo

Há cada vez mais pessoas com formação superior a pedir ajuda devido à situação de pobreza, alertou esta quarta-feira a Assistência Médica Internacional (AMI), assinalando que “os salários muito baixos” não permitem fazer face às necessidades.

“Começam já a aparecer aqui números preocupantes de pessoas que têm uma escolaridade mais avançada, um nível de literacia maior. Até pessoas que tiraram formação superior e, ou não conseguem arranjar algo que seja compatível com a sua formação, ou conseguem, mas com ordenados muito baixos”, disse à Lusa a directora da AMI, Salomé Marques, no Centro Porta Amiga de Chelas (Lisboa).

“O [pedido] flagrante é a alimentação. [As pessoas] dirigem-se ao centro (…) com essa necessidade. Só que depois, em ambiente de gabinete, percebemos que, além da alimentação, há toda uma série de necessidades muita alargada, quer a água, a luz, o gás, as rendas, a medicação e, às vezes exames, que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não comparticipa”, realçou.

A responsável salientou também que a organização não-governamental (ONG) tem recebido mais pedidos de ajuda para apoio psicológico.

“Estamos a sentir a saúde mental das pessoas cada vez mais fragilizada. Isto é muito preocupante, porque não há emprego, não há poder económico e claro que toda a estabilidade emocional vai ficar afectada. Acaba por ser uma bola de neve”, afirmou.

Salomé Marques antecipou também que a situação de pobreza em Portugal deverá “agravar-se mais” nos próximos tempos.

Segundo um relatório da ONG, publicado no final de Abril, o número de novos pedidos de ajuda à AMI aumentou 46% no primeiro trimestre deste ano e 53% nos casos de pessoas em situação de sem-abrigo face ao período homólogo.

A AMI especificou que os seus serviços sociais apoiaram no primeiro trimestre 5409 pessoas em situação de vulnerabilidade social, das quais 533 procuraram apoio pela primeira vez, um aumento de 46% em relação ao mesmo período de 2022.

Das pessoas apoiadas, 2692 são homens e 2717 são mulheres, encontrando-se a maioria em idade activa, entre os 16 e os 66 anos (70%), seguida de menores de 16 anos (21%) e dos maiores de 66 anos (7%).

A maioria (79%) são naturais de Portugal e 6% dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

No que diz respeito ao emprego, 43% das pessoas com mais de 16 anos não exerce qualquer actividade profissional e 41% não tem formação profissional.

De acordo com a AMI, os recursos económicos provêm sobretudo de apoios sociais como o RSI - Rendimento Social de Inserção (18%), pensões e reformas (10%), e subsídios e apoios institucionais (5%).