Grupo Bilderberg faz reunião anual em Lisboa. Marcelo e Costa podem ir ao jantar

Após 24 anos, uma elite mundial volta a Portugal para discutir e tomar decisões sobre o presente e o futuro do planeta. Políticos portugueses ficam de fora.

Foto
Durão Barroso integra a comissão directiva do grupo Bilderberg Daniel Rocha
Ouça este artigo
00:00
03:54

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

“Filas de limusines negras, sem qualquer espécie de matrícula à excepção de um ‘B’ no pára-brisas, às vezes escoltadas pela polícia, outras vezes não", foram vistas a entrar no parque do hotel da Penha Longa, em Sintra, em Junho de 1999. Testemunhas falaram também num helicóptero que sobrevoava permanentemente o local, enquanto outros agentes de segurança patrulhavam os arredores. “Os polícias de serviço nos portões do recinto tornaram bem claro que não passavam da ponta visível de um gigantesco iceberg de segurança”, escrevia-se então.

O cenário, provavelmente actualizado com drones, deverá repetir-se na próxima semana, mas provavelmente noutro local. Após 24 anos, o Grupo Bilderberg volta a reunir-se em Portugal de 19 a 21 deste mês e, embora a localização continue a ser envolta em segredo, tudo indica que não será em Sintra, mas no Pestana Palace Lisboa, na zona de Alcântara, um hotel luxuosamente exclusivo onde cada noite custa cerca de 1000 euros nesta altura.

Todos os anos, desde 1954, a cimeira quase secreta tem juntado as pessoas mais poderosas do mundo: chefes de Estado, membros de governos e parlamentos, chefes de alianças militares, presidentes de empresas multinacionais, líderes de bancos e organizações financeiras internacionais, tubarões dos media e das organizações ambientalistas, sobretudo americanos e europeus (incluindo britânicos).

Os resultados destas reuniões - onde se influenciam as decisões dos líderes mundiais - têm sido mantidos em rigoroso segredo, apesar de ali ser produzido um documento, reservado, com as ideias mais importantes, mas sem referir quem as verbalizou, em respeito às regras de Chattam House.

Pouco ou nada se sabe sobre a agenda e convidados deste ano – ou não fosse o segredo a alma do negócio dos “altos sacerdotes da globalização”, como já foram chamados -, embora nos últimos anos a organização divulgue, na véspera do encontro anual, os participantes e a agenda de trabalhos. E não se sabe porque, além da regra de confidencialidade que todos os participantes assinam, as questões de segurança impõem-se.

“Imagine o que seria uma bomba num local onde se encontram primeiros-ministros e ex-chefes de governos muito importantes, CEO de empresas importantíssimas a nível global e responsáveis por instituições internacionais”, explica ao PÚBLICO Francisco Pinto Balsemão, que durante três décadas integrou o grupo – que integrou pela primeira vez em 1981, quando era primeiro-ministro -, chegando a pertencer ao steering committee (comissão de direcção)

Foi ele que organizou os anteriores encontros Bilderberg em Portugal, o primeiro no Outono de 1988, celebrando o seu estatuto de membro permanente da comissão executiva. Na altura o grupo “foi agraciado com um jantar oferecido pelo Presidente Mário Soares no Palácio de Queluz”, conta-se no seu livro de memórias, da autoria de Joaquim Vieira. Em 2015 fez-se substituir por José Manuel Durão Barroso, chairman da Goldman Sachs International.

Este ano, apesar de Portugal, como país anfitrião, ter direito a uma quota maior de convidados, não deverá haver políticos portugueses na reunião – e ao longo dos anos foram muitos os que passaram por lá, a começar por quase todos os primeiros-ministros (excepto Passos Coelho e alguns antes de o serem, como Pedro Santana Lopes e José Sócrates), assim como praticamente todos os líderes do PS e do PSD –, mas apenas grandes empresários, que pagam uma pequena fortuna para participarem. É provável porém que, tal como em 1999, o Presidente da República e o primeiro-ministro sejam convidados para o jantar de sábado.

Quanto aos temas, será inevitável falar-se da guerra na Ucrânia, do futuro da NATO, da ascensão de países asiáticos, em particular a China e a Índia, e da evolução do ex-bloco soviético. A Inteligência Artificial, a transição energética e a evolução do sistema bancário também deverão ser abordadas num encontro que obedece a uma disciplina férrea, tanto em termos de confidencialidade como no cumprimento de horários e tempos de intervenção.

Notícia corrigida às 11h07 com novas informações sobre a localização do encontro

Sugerir correcção
Ler 33 comentários