Reciclagem de embalagens: qual o contributo de Portugal?
A reciclagem tem evoluído de forma positiva, em Portugal, mas abaixo da média europeia. Apostar na reciclagem de embalagens de cartão para líquidos é estratégica para acelerar o passo.
Em Portugal, cada cidadão produz, em média, 511 quilos de resíduos por ano, de acordo com o Relatório Anual de Resíduos Urbanos 2021. Desse total, o destino preferencial dos resíduos urbanos continua a ser o aterro (31%), apesar de este valor ter diminuído nos últimos anos.
E quanto a reciclagem? Os dados de 2021 apontam mais de 470 mil toneladas de resíduos de embalagens recolhidas, com um aumento da reciclagem de embalagens na ordem dos 8,2%, segundo o relatório Novo Verde de 2021.
São boas notícias? Não necessariamente. Na Europa, produz-se, geralmente, menos resíduos e recicla-se mais do que em Portugal. Cada cidadão europeu gera 505 quilos de resíduos por ano e a taxa de reciclagem de embalagens está nos 64%, lembram os dados do Eurostat, gabinete de estatísticas da União Europeia (UE).
Em Portugal, essa percentagem é de 59,5%, apenas à frente de países como a Islândia (57%) ou a Croácia (54,2%). E mais do que estar abaixo da média europeia, a prestação de Portugal está aquém do necessário para cumprir os ambiciosos objectivos estabelecidos pela UE para 2030 e 2050.
A visão da UE é clara: todos os Estados-Membros devem ser climaticamente neutros em 2050, no culminar de uma transição para um modelo de economia circular.
Nesta lógica, os famosos três R´s – Reduzir, Reutilizar e Reciclar – são princípios absolutamente essenciais para alargar o ciclo de vida dos produtos e diminuir o desperdício ao mínimo. É preciso ter em conta, no entanto, que a opção de reutilização nem sempre é adequada e possível de colocar em prática, sobretudo quando estão em causa os resíduos gerados pela indústria alimentar. Criar condições para aumentar a taxa de reciclagem assume-se, cada vez mais, como um factor-chave. E, aqui, é incontornável o foco nas embalagens de cartão.
Mais economia circular com a reciclagem de embalagens de cartão para alimentos e bebidas
A indústria alimentar é um dos principais produtores de resíduos. Ainda assim, nem sempre é possível, neste sector, reutilizar embalagens, por uma questão de segurança alimentar. É o caso das embalagens de líquidos sensíveis e altamente perecíveis como o leite e sumos, que têm uma utilização única.
Ramiro Ortiz, Director Geral da Tetra Pak Ibéria, explica o que está em causa. “Uma embalagem reutilizável não garante as mesmas funções que uma embalagem asséptica, tais como garantir a segurança alimentar, prolongar a validade dos alimentos, sem refrigeração, de uma semana para um ano, sem necessidade de conservantes, bem como reduzir o desperdício alimentar e garantir a disponibilização generalizada dos alimentos”.
Em Portugal, no primeiro trimestre de 2023, o crescimento mais significativo nos valores da recolha selectiva verificou-se nas embalagens de cartão para alimentos líquidos (ECAL): mais 10% em relação ao período homólogo de 2022, com 2161 toneladas recicladas, segundo a Sociedade Ponto Verde.
Assim, e devido à sua utilização única e ao elevado número de ECAL no mercado, é necessário criar estratégias para aprofundar a reciclagem destas embalagens, contribuindo para os objectivos de economia circular. Actualmente, a taxa de reciclagem de ECAL na Europa é de 51%, destaca a ACE – Alliance for Beverage Cartons and the Environment. No entanto, a Tetra Pak e outros parceiros, através da ACE, comprometeram-se a aumentar a taxa de reciclagem para 70% na UE, para 2030.
E o que pode ser feito em Portugal para melhorar a reciclagem de embalagens de cartão para bebidas? O desempenho do sector, as boas práticas internacionais e iniciativas da própria indústria apontam caminhos possíveis:
- Sensibilização de toda a cadeia de valor (consumidores, governo e indústria) sobre a premência da reciclagem. Por exemplo, passar a mensagem de que os consumidores “podem valorizar os resíduos através de actos simples, mas importantes, como a reciclagem” é uma das vias para os mobilizar, sugere Ramiro Ortiz;
- Aumento e optimização das infra-estruturas de recolha, triagem e reciclagem para embalagens, numa sinergia entre governo, empresas e consumidores. Uma das possibilidades passa pela aposta em infra-estruturas que estimulem a reciclagem, como os sistemas de depósito e incentivo (SDI). “A recolha é o primeiro passo para alcançar uma reciclagem de qualidade”, explica Ramiro Ortiz. “Se forem considerados de um ponto de vista integrado, estes sistemas poupam custos para as empresas, sensibilizam o público para a importância de uma gestão eficiente dos resíduos e, em última análise, aumentam as taxas de reciclagem de qualidade."
No mesmo sentido, estender os sistemas de recolha “a canais onde esta não está devidamente implementada ou desenvolvida (escolas, espaços públicos, feiras, concertos, eventos desportivos, entre outros)” torna-se igualmente importante, bem como a aposta em metas de recolha mais ambiciosas. “Seria adequado fixar um objectivo de recolha obrigatória para a Europa para que, até 2030, 90% das embalagens de bebidas fossem recicladas, incluindo, também, as embalagens de cartão para bebidas”, defende o Director Geral da Tetra Pak Ibéria.
- Promoção de design de produto focado na reciclagem, numa lógica de inovação colaborativa. Exemplos como os que são desenvolvidos pela Tetra Pak, que investe 100 milhões de euros por ano na melhoria do perfil ambiental das embalagens, mostram a importância de um design pensado para a reciclagem.