Observatório contabiliza 12 “presumíveis vítimas” de mendicidade forçada em três anos

Dados referem-se ao período entre 2019 e 2021 e poucos casos chegam ao conhecimento das autoridades. Estão em causa rede internacionais e há crianças vendidas a mil euros.

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Rapariga era forçada a mendigar à porta de um supermercado Helena Colaço Salazar (arquivo)
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Poucos casos de mendicidade forçada chegam às autoridades. O Observatório de Tráfico de Seres Humanos sinalizou 12 “presumíveis vítimas” entre 2019 e 2021, avança o Jornal de Notícias na edição desta quarta-feira. A Directoria do Porto da Polícia Judiciária abriu, entre 2014 e 2021, nove inquéritos.

"É um número que que não retrata, nem de perto nem de longe, a realidade”, admite a coordenadora nacional das respostas de assistência às vítimas de tráfico de seres humanos, Marta Pereira, citada pelo JN. “É muito difícil identificarmos vítimas de mendicidade forçada. Passamos por estas pessoas diariamente, mas não conseguimos ver o problema. Muitas vezes até não queremos ver. Mas estas situações não fazem parte da tradição ou da cultura de um povo. São crime."

"Há muitas cifras negras, porque a mendicidade forçada é um crime muito difícil de investigar”, diz, por sua vez, o inspector-chefe da PJ Sebastião Sousa, também citado pelo JN. “As vítimas não têm consciência de que são vítimas e não colaboram com as autoridades. Por outro lado, como são forçadas a casar e a engravidar, vão reforçando os laços familiares com os criminosos, o que que dificulta a denúncia."

O JN conta a história de uma mulher que, em criança, foi vendida pela mãe duas vezes. Na primeira vez, foi para a Irlanda. Na segunda, para Portugal. Foi forçada a unir-se ao filho do casal que a comprou e era obrigada a fazer trabalho doméstico, a mendigar à porta de um supermercado e a servir o “marido”.

Não é um fenómeno novo. Sebastião Sousa fala em “redes internacionais, sobretudo provenientes da Roménia e Bulgária”, que “tiveram o seu apogeu até 2018 e recuaram com a pandemia”. Compram crianças por mil a dois mil euros a famílias extremamente pobres e muitas vezes endividadas.

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