No País dos arquitectos: Uma casa no Gerês com “respeito pela paisagem”
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No 58.º episódio do podcast “No País dos Arquitectos”, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com os arquitectos Luís Tavares Pereira (do atelier [A] ainda arquitectura) e Guiomar Rosa sobre a Casa na Montanha, no Gerês.
Logo no início da conversa, Luís Tavares Pereira revela que durante o projecto da Casa na Montanha houve sempre um “respeito pela paisagem”: “A casa (...) é assente num conjunto de pilotis que não só minimizam o contacto com o terreno, como também a elevam acima das árvores de modo a que a nossa vista a partir da casa (...) seja sobre as árvores para a paisagem. E, precisamente, do outro lado do rio (...) [encontra-se] o Parque Nacional da Peneda-Gerês.”
A arquitecta Guiomar Rosa sublinha também que este projecto foi um dos que contou com “uma maior participação dos clientes”: “Nós semanalmente reuníamo-nos com eles e eles – além de estarem a adorar e de estarem a viver o desenvolvimento do projecto – tinham sempre novas ideias.” Rapidamente o que começou por “ser uma pequena cabana de férias” transformou-se e ganhou amplitude: “A satisfação dos clientes e o prazer de os ver passado alguns anos e [perceber que] continuam com aquele entusiasmo de estar lá (...). Para nós não tem preço sentir que cumprimos o nosso dever, que eles estão ali, que adoram, que participaram e continuam a participar... Para eles, é um prazer enorme ir para lá. (...) E para nós é o prazer a dobrar sentir que eles sentem isso.”
A arquitecta revela também que “dentro da casa” existem “pontos privilegiados” que favorecem “o contacto com a natureza”. As “aberturas” foram feitas de forma pouco convencional e existe um sentido quase lúdico nessas ligações. Guiomar Rosa fala de “uma das janelas [do quarto]” que “espreita para a sala” e outra que existe na sala que “espreita” para a “camarata”. A própria varanda também promove a relação interior/exterior e segundo os arquitectos é aí que reside “o coração da casa”: “Não é uma varanda que está demasiado exposta. (...) [É] quase como se estivéssemos a ver a paisagem através de uma névoa (...). E cria a sensação de abrigo por não estar completamente no exterior.”
A Casa na Montanha tem a particularidade de se fazer notar por não se fazer notar. Essa sensação de “pequeno refúgio” é reforçada pela madeira que foi utilizada na estrutura da casa, nas “caixilharias”, nos “lanternins” e “nas ripas” que se encontram na varanda. Luís Tavares Pereira reconhece que a madeira “não é muito vulgar na construção corrente”, mas entende que o seu uso deveria ser promovido por se tratar de “um material regenerável”. Por outro lado, verifica que em Portugal ainda existe “dificuldade” em “obter as certificações que comprovem essa regeneração” e considera que há “um longo caminho” a percorrer: “A certificação é importante para garantir que todos os intervenientes [estejam a cumprir] – seja a nível da qualidade, da resistência e [para] comprovar que aquele material vai fazer aquilo que diz –, mas por outro lado também (...) é um limite.” Para o arquitecto, a obrigatoriedade dessa certificação pode condicionar o uso da madeira na arquitectura, mesmo quando esta apresenta qualidade e cumpre os requisitos necessários para a construção.
Durante a entrevista os arquitectos também falam sobre as fotografias do projecto que se encontram nas suas redes sociais, que vêm acompanhadas de poesia. Luís Tavares Pereira é quem procura esses poemas e diz como esta casa “suscita sensações que estão para além de uma certa objectividade da arquitectura”: “Eu acho que a arquitectura é uma disciplina que tem esta qualidade, que para nós é imensa, que é a de se relacionar sempre com tudo. Relaciona-se com o mundo da ciência, o mundo das artes, o mundo do pensamento, o mundo da técnica, o mundo da política e, portanto, nós conseguirmos convocar para o projecto essas dimensões é sempre algo fundamental. (...) Nalguns casos, algumas coisas têm preponderância sobre as outras, mas elas estão sempre presentes. Quer dizer, há sempre um questionamento e mesmo esse questionamento técnico e político é filtrado por um filtro poético e visual.”
Para saber mais sobre o projecto da Casa na Montanha e a importância da arquitectura se relacionar com outras disciplinas, ouça a entrevista na íntegra.
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