O Giro deu o azar e a fortuna a Remco Evenepoel

Numa etapa com várias quedas, João Almeida não chegou a sentir o asfalto no corpo, mas diz que sente ter perdido quatro anos de vida. Kaden Groves (na foto) foi o vencedor do dia.

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Kaden Groves celebra na meta Reuters/JENNIFER LORENZINI
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Há dias de ciclismo em que a ideia de boa parte do pelotão é não ter acção, mais do que oferecer espectáculo. Esta quarta-feira, na etapa 5 da Volta a Itália, era suposto ser um desses dias. Numa etapa de média montanha – mas com subidas ainda longe de uma zona de meta bastante plana –, pouco ou nada se passou de excitante durante grande parte da tirada. Mas um cão perdido, primeiro, a chuva, depois, e a negligência, por fim, levaram ciclistas ao chão.

Remco Evenepoel e Primoz Roglic, dois dos grandes favoritos ao triunfo no Giro, caíram e o belga foi mesmo ao chão duas vezes e usou três bicicletas diferentes durante a etapa. Mas se o azar o levou a sentir o asfalto, a fortuna levou-o a sair aparentemente ileso. Quantos ciclistas podem gabar-se de caírem duas vezes numa etapa chuvosa – uma delas em alta velocidade – e acabarem sem problemas graves?

No fim de contas, houve quatro quedas nesta etapa, as três últimas já dentro dos dez quilómetros finais. E só a curta distância à meta – dentro da protecção regulamentar dos últimos três quilómetros – impede que a penúltima queda, que levou Evenepoel ao chão, o faça perder tempo na classificação geral.

Importa, ainda assim, esclarecer que as quedas do belga não foram apenas produto do azar ou da chuva. Quando foi ao chão a sete quilómetros da meta, o ciclista estava a olhar para a esquerda enquanto se movia para a direita. Sem noção, portanto, de que tinha um ciclista a passar, no qual acabou por bater. Não foi apenas culpa de Remco, mas, em bom português, "pôs-se a jeito".

Todo este cenário tirou protagonismo – até mesmo em matéria de segundos de televisão – ao sprinter Kaden Groves, da Alpecin, que sprintou em grupo reduzido e venceu a etapa à frente de Jonathan Milan, da Bahrain, e Mads Pedersen, da Trek.

Nesta chegada a Salerno, no Sul de Itália, nota ainda para Mark Cavendish, que acabou a etapa em quinto lugar, mas deitado: caiu a centímetros da meta, depois de uma manobra estranha, e cruzou a linha no chão, já depois da sua bicicleta – mas aparentemente sem lesões graves. Menos sorte terá tido um espectador (e o respectivo telemóvel) que filmava com o braço do lado de dentro das barreiras e foi atingido por Filippo Fiorelli, também em apuros nos metros finais, envolvido no incidente com "Cav".

O português João Almeida sobreviveu ao caos desta etapa. Atrasou-se numa das quedas, mas não foi ao chão em nenhum momento e não perdeu tempo para qualquer rival. "Foram quatro horas de etapa e sinto que perdi quatro anos de vida. Não foi incrível", desabafou, logo após a etapa.

Nesta quinta-feira, com partida e chegada em Nápoles, deverá haver mais um final em sprint.

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