Activismo: Jade e Teresa em greve de fome e ministério fechado a cadeado

Esta manhã de quarta-feira, alguns activistas tentaram fechar a cadeado a entrada do ministério do Ambiente. Na Faculdade de Psicologia, duas estudantes declararam que estão em greve de fome.

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Teresa e Jade fecharam a porta principal da Faculdade de Psicologia da U.Lisboa na terça-feira e hoje declararam greve de fome DR
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O movimento Scientist Rebellion tentou hoje fechar a entrada do Ministério do Ambiente a cadeado DR
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Alguns activistas seguravam uma faixa onde se lia “Gás + Carvão + Petróleo = Catástrofe Climática” DR
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Cerca de uma dezena de activistas do movimento português Scientist Rebellion juntaram-se às 08h30 e tentaram bloquear a entrada do Ministério do Ambiente e da Acção Climática, em Lisboa, numa iniciativa contra a inacção dos governos em relação às alterações climáticas. Entretanto, duas estudantes que estão desde terça-feira de manhã na entrada da Faculdade de Psicologia, pertencentes ao movimento “Fim ao Fóssil: Ocupa!”, encontram-se há mais de 24 horas sem comer e declararam a entrada em greve de fome.

"Jade e Teresa, as duas alunas confinadas, exigem que a reitoria da Universidade de Lisboa “apele, como o secretário-geral das Nações Unidas, à “disrupção para parar a destruição”, convocando publicamente para a acção de resistência civil que se realizará no terminal de gás de Sines este sábado, 13 de Maio, pela plataforma 'Parar o Gás'", refere o comunicado enviado.

O documento cita Teresa Cintra, um das estudantes que optou pelo protesto com uma greve de fome. “O nosso direito à educação está directamente ameaçado pela violação sistemática do direito à vida, por parte de uma normalidade que age com apatia perante o colapso climático. Sacrificamos a nossa educação hoje, para garantir a das crianças e jovens de amanhã”, afirma a estudante.

O mesmo documento adianta que as duas estudantes estão na entrada principal da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FPUL) "apenas com um garrafão de água, agasalhos e colchões para dormir". "Durante o dia de ontem, realizaram-se à porta da faculdade várias actividades de apoio como palestras sobre a ciência climática, gás fóssil, empregos para o clima e mobilidade justa, que contaram com dezenas de colegas estudantes, activistas, professores e cientistas, incluindo o Professor Viriato Soromenho-Marques."

A Faculdade de Psicologia, adiantam os jovens activistas, está ocupada desde o dia 26 de Abril pelo “fim ao fóssil até 2030” e pela “electricidade 100% renovável e acessível até 2025”, apelando a que 1500 pessoas se comprometam a participar na acção de resistência civil no terminal de gás de Sines, a 13 de Maio.

Num e-mail enviado ontem à reitoria, o núcleo de estudantes activistas afirmam: “Tanto as estudantes como nós, os seus apoiantes, sublinhamos que não temos qualquer desejo de continuar com o protesto. Mas a realidade climática assim o exige, no sentido de salvaguardar o direito à vida e educação das estudantes, agora e no futuro.”

Cientistas no ministério

Entretanto, na manhã desta quarta-feira um pequeno grupo de activistas que pertencem à organização Scientist Rebellion Portugal tentou bloquear a entrada do ministério, fechando a entrada principal com um cadeado. Os activistas também colaram, nas paredes do edifício, alguns artigos científicos que apontam para a necessidade de uma acção urgente face às alterações climáticas.

Alguns seguravam uma faixa onde se lia “Gás + Carvão + Petróleo = Catástrofe Climática”. Segundo o comunicado, os "activistas foram alvo de repressão imediata por parte da segurança, que removeu os artigos científicos colados".

Teresa Santos, bióloga que está no local, contou à Lusa, via telefone, que os cientistas estão junto a uma das portas do Ministério da Ambiente para "tentar impedir a entrada" de pessoas e para colar vários artigos científicos nas paredes para "demonstrar a necessidade de serem tomadas medidas "não para amanhã, mas para ontem".

A bióloga explicou que esta acção, que decorre no âmbito da campanha "Parar o Gás" e de outra que está a decorrer hoje em vários países do mundo contra a inacção dos governos, "é pacífica" e pretende chamar a atenção para o caos climático.

"O grupo de cientistas que está aqui hoje junto ao Ministério do Ambiente reivindica o facto de este ministério tal como o resto dos Estados, também o Estado português, continuarem reféns das indústrias fósseis e serem incapazes de tomar medidas atempadas que verdadeiramente enfrentem a crise climática", contou.

De acordo com a bióloga e membro do movimento Scientist Rebellion, o Estado português continua a investir em combustíveis fósseis ao contrário do que a ciência indica. "O Estado português continua a fazer "greenwashing" (...). Estamos dependentes do gás fóssil destas indústrias ao invés de fazer um forte investimento nas energias renováveis", sublinhou.

Em Portugal, os activistas da Scientist Rebellion defendem que o Ministério do Ambiente e da Acção Climática não está a cumprir o seu papel na luta contra as alterações climáticas, "encontrando-se refém dos interesses económicos a curto prazo e mostrando-se incapaz de tomar as decisões que são de sua responsabilidade".

Acções em todo o mundo nesta quarta-feira

"Estamos numa trajectória de aumento de temperatura na ordem dos 3,2 graus Celsius, muito acima do compromisso feito por governos de todo o mundo de limitar o aquecimento a 1,5 graus Celsius até ao final deste século. O Estado Português tem contribuído para esta trajectória irresponsável ao continuar a esconder-se atrás de tentativas de greenwashing e de promessas de soluções meramente tecnológicas para a emergência climática, mais especificamente ao insistir no aumento do uso de hidrogénio e gás dito 'natural'", lê-se num comunicado da organização divulgado hoje.

Teresa Santos frisou a urgência em arranjar soluções para aliar uma transição para energia renovável como a solar sem danificar o meio ambiente. "Temos de chegar a 100% de energia proveniente de fontes renováveis o mais rapidamente possível e apresentar soluções", disse.

A bióloga disse ainda que esta acção está inserida na campanha "Parar o Gás" e também numa campanha internacional de cientistas. "Vão ocorrer durante o dia de hoje várias acções por todo o mundo ligadas aos combustíveis fósseis e inacção dos governos e pela necessidade de ter uma economia à base de renováveis", concluiu.

A Scientist Rebellion é um grupo de activistas climáticos com mais de mil cientistas e académicos em 32 países. Os membros vão desde estudantes de ciências e professores até autores do IPCC e importantes cientistas das ciências climáticas. Através de acções disruptivas não violentas, a Scientist Rebellion exige a descarbonização imediata por meio do decrescimento económico. Durante os actos de resistência civil, os membros usam batas de laboratório e a grande maioria das actividades da campanha é organizada por voluntários do movimento.